terça-feira, 31 de agosto de 2010

Homenagem a António Telmo na Biblioteca Nacional


O filósofo António Telmo, falecido no dia 21 de Agosto, será homenageado no dia 16 de Setembro, na Biblioteca Nacional, com a apresentação de uma obra sobre o seu pensamento, anunciou o grupo editorial Babel.


Nesta sessão, a partir das 18:00, será apresentada a obra “O Portugal de António Telmo”, organizada por Rodrigo Sobral Cunha, Renato Epifânio e Pedro Sinde, “um livro de homenagem, que o autor teve ainda a oportunidade de contemplar”, segundo uma nota do grupo Babel.


Participam na sessão Pedro Sinde, Rodrigo Cunha e ainda o escritor Miguel Real e o filósofo Pinharanda Gomes.“O Portugal de António Telmo” inclui textos inéditos do filósofo, dois dos quais fac-similados, fotografias, e testemunhos de outros autores como Orlando Vitorino, num total de 356 páginas.


António Telmo Carvalho Vitorino, nascido a 02 de Maio de 1927, em Almeida (Guarda) integrou aos 23 anos o grupo Filosofia Portuguesa depois de ter tido contacto com José Marinho (1904-1975) e Álvaro Ribeiro (1905-1981).


A convite de Agostinho da Silva (1906-1994) e de Eudoro de Sousa (1911-1987), foi professor de Literatura Portuguesa durante três anos, na Universidade de Brasília. Lecionou ainda em Granada e, de regresso a Portugal, foi director da Biblioteca de Sesimbra, onde residira, e posteriormente radicou-se em Estremoz, onde foi professor de Português.António Telmo foi autor de vários títulos, entre os quais “Arte Poética” (1963), “Gramática secreta da língua portuguesa” (1981), “Desembarque dos Maniqueus na Ilha de Camões” (1982), “O Bateleur” (1992), “O Mistério de Portugal na História e n’ Os Lusíadas”, (2004), “Viagem a Granada” (2005) e “Contos Secretos” (2007).


No próximo número da revista Nova Águia, de que era colaborador, será publicado o artigo “O estilo da Renascença Portuguesa”, que escreveu em 1955.

“Um dos mais originais filósofos do nosso tempo e um dos maiores escritores portugueses, conjugou tradições como a filosofia aristotélica e a filosofia hebraica, a língua portuguesa e o pensamento poético, a noção de firmamento e o culto dos heróis”, segundo nota da Babel.


“A sua obra propõe uma nova visão da História de Portugal, ligada à Ordem do Templo e à Ordem de Cristo, aliando a interpretação do Mosteiro dos Jerónimos a uma nova leitura do pensamento de Luís de Camões (em diálogo único com Fiama Hasse Pais Brandão)”.

corpo e cidade


o corpo entregue à cidade
estreia a cada instante sensações abertas
de luz e sombra e ruas conjugadas pelo sol
poeira e fumaça

o corpo continente
treme de asfalto e trânsito
em um desejo de encontro
e águas secretas

fora de alcance, ele sabe
leitos de pensamento
clareiras de silêncio

outras estâncias
e o mar invade aos poucos
a praia da memória

O Espírito que une e redime da dualidade

"[...] é o Espírito o traço comum de sujeito e objecto, por onde se estabelece todo o diálogo; é o Espírito a fonte indefinível de onde a vida pode fluir sob quaisquer formas, aquelas que eu conheço e venero ou não, e aquelas de que nem sequer posso ter uma ideia; é o Espírito que anima os que estão comigo e os meus adversários; foi o Espírito quem me trouxe o Cristo e quem a outros trouxe Buda, Maomé e Lao-Tseu; foi o Espírito quem me deu Eckhart e quem me deu a geometria analítica, nele se reconciliam Aristóteles e Platão, nele se acabam as geografias, ou políticas, que separam Ocidente de Oriente"

- Agostinho da Silva, Ecúmena [1964], Textos e Ensaios Filosóficos II, p. 193-194.

Porquê? E para quem?

Acima do rio, a lua que brilha; nos pinheiros, o vento que suspira;
Esta calma ao longo de toda a noite – Porquê ? E para quem ?

- Hsüan-chüeh

domingo, 29 de agosto de 2010

"Assim como não se vê a luz senão em tempo de obscuridade, não se “vê” Deus senão em tempo de confusão mental e de idolatria”

“A palavra “Deus” vem do latino dies que quer dizer “dia”. Quando digo “Deus”, falo do dia, do dia luminoso, digo que o fundo do ser é luz, “clara luz”, encarecerão os budistas.
A luz é o que não se vê e o que nos permite ver. Quanto mais a luz é pura, quanto mais ela é transparente, menos se a vê. Assim como não se vê a luz senão em tempo de obscuridade, não se “vê” Deus senão em tempo de confusão mental e de idolatria”

- Jean-Yves Leloup, “Notre Père”, , Paris, Albin Michel, 2007, p.20.

"[...] um contacto extático com o fundo último da realidade"

"Para este justo que sofre há também um paraíso e uma glória: em primeiro lugar na consciência do seu sacrifício, depois nos momentos de êxtase que a força de alma, a energia, lhe oferece. Stendhal, partindo da ideologia, do raciocínio frio, das abstracções geométricas, chega, como porto último da sua doutrina, ao misticismo mais ardente e mais puro. O êxtase, diz ele, é a absorção completa do indivíduo no objecto amado, mulher ou música, poema ou painel; uma suspensão de vida, um levitar, envolto numa claridade de sonho, como se vê em certos santos de Murillo; um contacto extático com o fundo último da realidade, um perder-se em Deus, provocado pelas criações colossais e dolorosas de Miguel Ângelo ou pela radiosa e harmoniosa beleza de Matilde Dembowski"

– Agostinho da Silva, Stendhal. Mérimée. Dois Ensaios de Interpretação [1947], in Estudos e Obras Literárias, pp. 26-27.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Passagem de Raimon Panikkar, colaborador e membro da Comissão de Honra da revista "Cultura ENTRE Culturas"



http://www.corriere.it/cultura/10_agosto_27/panikkar-sacerdote-filosofo_fdbddf64-b1b3-11df-a044-00144f02aabe.shtml

Raimon Pannikar partiu ontem deste mundo. Recebo uma notícia que já aguardava. Estive para me encontrar com ele em 14 de Janeiro deste ano, para o entrevistar para o primeiro número da revista "Cultura ENTRE Culturas", que dirijo. O encontro foi cancelado uns dias antes, devido ao seu extremo cansaço. Ainda enviou um texto, que publiquei no referido número e que deve ter sido uma das últimas, senão a última, das suas intervenções públicas, pois logo a seguir recebi uma circular para os amigos dizendo que se retirava de todas as aparições públicas directas e indirectas e pedindo que nos mantivéssemos em contacto pela oração, na fase final da sua vida. Foi o grande mentor de um verdadeiro diálogo intercultural e inter-religioso, ainda muito longe de acontecer, e deixou uma obra enorme, verdadeira ponte entre Oriente e Ocidente, lamentavelmente muito desconhecida ainda. Admiro-o imenso e tive a honra de prefaciar o seu livro "O diálogo indispensável. Paz entre as religiões" (Zéfiro, 2007), entre nós praticamente ignorado. Que repouse na Paz e na Luz, transcendentes a todas as religiões e vias!

"[...] deixa tudo o que pertence ao sensível e ao inteligível e todas as coisas que não são e as que são [...]"

“[…] dedica-te à contínua exercitação nas maravilhas místicas e renuncia às percepções sensoriais e às actividades intelectivas, deixa tudo o que pertence ao sensível e ao inteligível e todas as coisas que não são e as que são; despojado de conhecimento, avança, na medida do possível, até à união com aquele que está acima de toda a substância e de todo o conhecer. No distanciamento irresistível e absoluto de ti mesmo e de tudo, uma vez arredado e liberto de todas as coisas, elevar-te-ás em plena pureza até ao brilho, que é mais que substancial, da obscuridade divina”

- Pseudo-Dionísio Areopagita, Teologia Mística (ed. bilingue), versão do grego e estudo complementar de Mário Santiago de Carvalho, Mediaevalia, 10 (Porto, 1996), pp.9-25.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

NEVE

NEVE

Caiu tanta neve
Que para contemplá-la
Não existe um único lugar.

A neve caiu por todo o lado.
Como contemplar o branco
Com tanta brancura ?

- Anónimo

sábado, 21 de agosto de 2010

The Empty Mind - Kyudo or Japanese Archery

Nota biográfica de António Telmo (1927-2010)

António Telmo Carvalho Vitorino nasceu no dia 2 de Maio de 1927, em Almeida. Entre os dois e os seis anos, viveu em Angola com a família. Quando esta regressa a Portugal, fixou-se em Alter-do-Chão e, mais tarde, em Arruda-dos-Vinhos. António Telmo viverá por lá até aos seus dezasseis. Antes de ir estudar para a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, ainda morará em Sesimbra. Na sua infância e juventude, foi um autodidacta. Estudava em casa e fazia os exames em Lisboa.
Aos vinte e três anos, entra para o grupo da Filosofia Portuguesa, depois de ter conhecido José Marinho (1904-1975) e Álvaro Ribeiro (1905-1981).

A convite de Agostinho da Silva (1906-1994) e de Eudoro de Sousa (1911-1987), foi professor de Literatura Portuguesa, durante três anos, na recém-formada Universidade de Brasília. De lá foi para Granada e, só depois, é que voltou a Portugal. Foi director da Biblioteca de Sesimbra e posteriormente radicou-se em Estremoz como professor de Português. Faleceu hoje, ao princípio da manhã, no Hospital de Évora.

Deixa uma extensa obra:

- Arte Poética, Lisboa, Guimarães, 1963.
- Gramática secreta da língua portuguesa, Lisboa, Guimarães, 1981.
- Desembarque dos Maniqueus na Ilha de Camões, Lisboa, Guimarães, 1982.
- O Bateleur, Lisboa, Átrio, 1992.
- Filosofia e Kabbalah, Lisboa, Guimarães., 1989.
- História Secreta de Portugal, Lisboa, Vega, 1977.
- Horóscopo de Portugal, Lisboa, Guimarães, 1997.
- Contos, Lisboa, Aríon, 1999.
- O Mistério de Portugal na História e n’ Os Lusíadas, Lisboa, Ésquilo, 2004.
- Viagem a Granada, Lisboa, Fundação Lusíada, 2005.
- Contos Secretos, Chaves, Tartaruga, 2007.
- Congeminações de um neopitagórico, Vale de Lázaro, Al-Barzakh, 2006/ Lisboa, Zéfiro, 2009.
- A Verdade do Amor, seguido de Adoração: cânticos de amor, de Leonardo Coimbra, Lisboa, Zéfiro, 2008.
- Luís de Camões, Estremoz, Al-Barzakh, 2010.
- A Aventura Maçónica, Lisboa, Zéfiro, 2010.
- O Portugal de António Telmo, Lisboa, Guimarães, 2010.

O seu funeral realiza-se amanhã, 22 de Agosto, em Estremoz, pela 9 horas.

Fonte: Nova Águia

"A identidade religiosa de Luís de Camões" - texto de António Telmo que publicamos em sua homenagem, no dia em que partiu deste mundo

Publicamos o início do texto de António Telmo que saiu primeiro nos Cadernos de Filosofia Extravagante e que sairá integralmente no nº2 da Cultura Entre Culturas:

"René Guénon nunca fala dos portugueses, mas, como muitos outros textos seus, este, que recolhi do seu famoso livro O Rei do Mundo, está intimamente ligado connosco. No âmbito do que me propus tratar neste primeiro caderno de filosofia livre, abre caminhos insuspeitados no sentido de determinar a verdadeira identidade de Luís de Camões.

É assim como se segue:

“Na Idade Média havia uma expressão, na qual os dois aspectos medulares da autoridade (régia e sacerdotal) se encontravam reunidos de uma maneira digna de nota. Nessa época falava-se muitas vezes de uma região misteriosa a que se chamava “o Reino do Preste João”. Era no tempo em que o que se poderia designar como a “cobertura exterior” do Centro Supremo era formado numa boa parte pelos Nestorianos (ou o que se convencionou chamar assim com razão ou sem ela) e os Sabeus. E eram estes, precisamente, que davam a si mesmos o nome de “Mendayyeh de Yahia, isto é, “discípulos de João”.”

Em nota ao que vem dizendo, o ilustre francês informa que “se encontraram na Ásia Central e particularmente na região do Turquestão, cruzes nestorianas que, como forma, são exactamente semelhantes às cruzes da cavalaria”

Mais adiante, esclarece o que deixou atrás: “Para que ninguém se admire da expressão “cobertura exterior” que viemos de empregar, deve ter-se em atenção, efectivamente, que a iniciação cavaleiresca era essencialmente uma iniciação de Kshatriyas (Guerreiros), o que explica, entre outras coisas, o papel preponderante que aí representa o simbolismo do amor.”

Começa já a desenhar-se a figura guerreira do poeta de Amor Luís de Camões. Esta relação com o texto não terá nada de surpreendente quando nos lembrarmos que os nestorianos na Ásia eram os cristãos de São Tomé, de São Tomé a quem o poeta dedicou nada menos do que doze estrofes d’Os Lusíadas.

Estas doze estrofes que aparecem como que engastadas no curso do Canto X todo ele em grande parte tratando de geografia, narram a vida, os milagres e a morte do apóstolo na Índia. Ainda mais estranho é o modo como Camões faz a exaltação do Santo ao referi-lo como “o núncio de Cristo “verdadeiro”. Não sabemos, dada a índole da sintaxe portuguesa, se o adjectivo se refere a núncio ou a Cristo. Se a núncio, então distingue-o como verdadeiro entre os outros; se a Cristo, então deve supor-se a existência de falsos Cristos. O último verso das doze estrofes é como uma luz que ilumina todo o relato: “Mas deixemos esta matéria perigosa.”

Perigosa porquê? Por dizer que Tomé era o núncio de Cristo verdadeiro? Por dizer também que são seus os lusitanos?

Temos de perscrutar mais fundo"

"Temos que levar gente, não a uma vida cómoda, a uma vida fácil, mas temos que ter a coragem de levá-la a uma vida difícil, a uma vida perigosa"

"Temos que levar gente, não a uma vida cómoda, a uma vida fácil, mas temos que ter a coragem de levá-la a uma vida difícil, a uma vida perigosa, pois só com uma vida difícil, rigorosa e perigosa, dá o homem o melhor de si próprio. É necessário obrigá-lo a saltar obstáculos. A primeira tarefa de educador é procurar varas bem altas e obrigá-lo a saltar. Baden-Powell [...] queria, para todos os rapazes e para todas as moças, quando chegassem a essa idade, uma educação que lhes temperasse a vontade, não mais gente na rua vendo gente passar, não mais gente encostada pelas portas dos cafés, não mais gente de 20 anos vergonhosamente desocupada, passando todo o dia sem fazer coisa nenhuma, fraquíssima de carácter, fraquíssima de corpo, esperando que chegue o tempo de jantar para que chegue o tempo de dormir para que chegue o tempo de se levantar"

– Agostinho da Silva, Baden-Powell, Pedagogia e Personalidade [1961], in Textos e Ensaios Pedagógicos II, pp.26-27.

Nasce a revista Pessoa

Nunca fui muito ligada a lançamentos, nem a casamentos, sequer a enterros. Gosto da festa sem protagonista, até hoje! Aqui estou eu, dando a mão a palmatória e sofrendo porque hoje há um lançamento e eu não vou poder assistir.

Hoje nasce oficialmente a revista que eu sempre sonhei poder ler um dia. Hoje nasce a revista que qualquer um de nós espera para ler. Folhear devagar, soletrando cada palavra porque em cada uma, há um paladar de enorme prazer. E se o texto é bom a beleza se espalha em cada página. Hoje na Bienal do Livro de São Paulo - Anhembi - estande da Imprensa Oficial, pelas sete da noite está nascendo a revista que partilha literatura.

Quem vive em São Paulo que corra e sorria porque hoje nasce a Revista Pessoa. Quem vive longe acesse o site www.revistapessoa.com e folheie online a revista no seu formato electrónico.
Inventa o amanhã e será sempre dia
Inventa a noite e será sempre agora
Inventa quem és e serás sempre nada
Inventa até não mais inventar
E nada terás inventado.

SEDE

Dá-me vinho antes do amanhecer
Com o cálice a transbordar
Banha-me nele até que embriagada
eu seja o vinho que agora bebes

Dá-me o vinho que tenho sede
de ti

A louca e o Editor


A louca, internada, no lado de dentro grita ao estranho que tem na carcaça escrito EDITOR:
- Oh, tu que estás do lado de fora, editas-me?
Com um sorriso sem qualquer ironia responde o editor:
- E queres editar o quê? Poemas, Contos, Romance, Novela...?
A louca fica sem cor, conta e reconta mentalmente muitas vezes antes de responder:
- Poesia...
- Ah, poesia é muito difícil de editar...
- Então contos, também tenho muitos,
- Os contos sofrem do mesmo mal que os poemas,
- Se só me resta o romance, tenho um quase feito...
- Desculpa-me , mas tenho pressa. Não está na hora do teu recolher?
A louca, internada no lado de dentro, sorri.
- O recolher é só as nove. Ainda são dez, PALERMA!

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

"[…] não seria mau que a filosofia deixasse de ser apenas uma disciplina ensinável para voltar a constituir um engrandecimento e uma razão de vida"

"[…] não seria mau que […] a filosofia deixasse de ser apenas uma disciplina ensinável para voltar a constituir um engrandecimento e uma razão de vida; correria talvez melhor o mundo se escolas de existência filosófica agissem como um fermento, fossem a guarda da pura ideia, dessem um exemplo de ascetismo, de tenacidade na calma recusa da boa posição, de alegria na pobreza, de sempre desperta actividade no ataque de todas as atitudes e doutrinas que significassem diminuição do espírito, ao mesmo tempo se recusando a exercer todo o domínio que não viesse da adesão"

– Agostinho da Silva, “Aspecto interior do sacrifício”, Considerações [1944], in Textos e Ensaios Filosóficos I, p. 94.

Comunidade / O que é Tamera?




Tamera é uma oficina do futuro e um ponto de encontro internacional para trabalhadores pela paz de muitas partes do mundo.

Tamera fica no sudoeste de Portugal, foi fundada em 1995 num terreno de 134 ha e conta actualmente com mais de 200 colaboradores e estudantes. Com o seu centro de investigação para tecnologia energética descentralizada – a Aldeia Solar, com a sua paisagem de lagos de permacultura no meio do Alentejo seco, com a sua arquitectura experimental de construções leves e de terra, Tamera é um local dedicado a experiências e formação para a criação de Aldeias pela Paz pelo mundo afora.

No centro do seu trabalho de investigação encontram-se os temas interiores do ser humano: amor, sexualidade, relacionamento e comunidade. A Academia Erótica que se está a formar baseia-se em mais de 30 anos de experiência na área da arte e da cura, na criação de comunidades e na investigação da verdade no «Tema nº 1». Tamera associa o seu trabalho de investigação ao trabalho de rede político, a peregrinações, acções de apoio e de paz em áreas de crise. Tratam-se de acções exemplares cuja finalidade é contribuir para a comunicação e criação de comunidades, além de ajudar a preparar um campo morfogenético pela paz.

Desde 2006 Tamera oferece a possibilidade a pessoas do mundo inteiro de realizarem durante vários anos a formação pela paz «Monte Cerro Peace Education». Está em preparação um Campus Global: uma rede mundialmente interligada de iniciativas de formação de paz. O título para a postura fundamental ética de todas as actividades pela paz é a palavra «Grace», uma postura de solidariedade com todos os seres vivos, pelo perdão, pela ajuda mútua e pela orientação de cura.

Nasceu o plano das Aldeias pela Paz, ou Biótopos de Cura: em conjunto com parceiros internacionais, deveriam ser construídos modelos de futuro em diferentes partes do mundo – autosuficientes a nível regional, social- e ecologicamente sustentáveis, independentes das grandes indústrias e dos sistemas centrais de fornecimento: células germinativas de uma nova cultura pela paz.

As/Os colaboradoras/es de Tamera partem do princípio de que diversas destas Aldeias de Paz, com tamanho e complexidade suficientes em diferentes partes do mundo, serão suficientes para que o conhecimento abrangente nelas desenvolvido origine um efeito de cura global.

A eficácia deste plano resulta de uma combinação lógica entre os resultados da investigação do caos, holografia, ecologia profunda, investigação da consciência e da história. No contínuo infinitamente interligado do organismo Terra, uma alteração microscopicamente pequena num determinado local do planeta pode provocar um efeito que se reflecte no todo.

http://www.tamera.org/index.php?id=66&L=2

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

"A vida passa como uma caravana veloz"

"A vida passa como uma caravana veloz. Detém o teu corcel e procura ser feliz! Jovem donzela, porque estás triste? Serve-te de um pouco de vinho. Já surgem os primeiros sinais da noite"

- Omar Khayyam, "Rubaiyat", LXVIII

terça-feira, 17 de agosto de 2010

escrever um poema é um acto de serenidade;
é como criar uma cidade, com os seus altos edifícios,
dentro de um simples pão

sábado, 14 de agosto de 2010

Quando te leio
aprendo um poema
quando dizes adeus
esqueço de mim

amanhã, se vieres
aprenderei outro
outro e outro
enquanto existir
amanhã.

hoje o caracol enrola-se
na parede do meu quarto
enquanto escreves
um outro poema.

Excerto de um texto de Matthieu Ricard a sair no nº2 da Cultura ENTRE Culturas

Os meditantes experientes possuem a capacidade de gerar estados mentais precisos, direccionados, firmes e duradouros. As experiências demonstraram, nomeadamente, que a zona do cérebro associada a determinadas emoções, como a compaixão, por exemplo, apresentava uma actividade consideravelmente maior nas pessoas que tinham uma longa experiência meditativa. Estas descobertas indicam que as qualidades humanas podem ser deliberadamente cultivadas mediante um treino mental. Outras experiências científicas igualmente demonstraram que não é necessário ser um praticante altamente exercitado para beneficiar dos efeitos da meditação, e que vinte minutos de prática diária contribuem significativamente para a redução da ansiedade e do stress, da tendência para a cólera (cujos efeitos nefastos para a saúde estão já claramente reconhecidos) ou dos riscos de recaída em caso de depressão grave. Oito semanas de meditação sobre a consciência plena (do tipo Mindful Based Stress Reduction), praticando cerca de trinta minutos por dia, dão azo a um notável reforço do sistema imunitário, das capacidades de atenção, à diminuição da tensão arterial nos indivíduos hipertensos e à aceleração da cura da psoríase.

O que é indispensável na prática não é meditar durante períodos longos, mas sim fazê-lo com regularidade. Se o cérebro é regularmente solicitado, bastam cerca de trinta dias para constatar que se começam a modificar as funções neuronais.

O estudo da influência dos estados mentais sobre a saúde, outrora considerado fantasioso, faz, cada vez mais, a actualidade da investigação científica.

O Largo da Graça

Segundo a "Chronica del Rei D. Joam I de boa memória. Terceira parte em que se contam a Tomada de Ceuta" (Lisboa, 1644), escrita por Gomes Eanes de Zurara em 1450, a autorização do rei para a conquista de Ceuta, primeiríssima etapa da expansão ultramarina portuguesa, foi dada aqui em Alhos Vedros, no Palácio da Graça(?), onde D. João I se refugiou durante o período de nojo pelo falecimento de sua mulher, a rainha D. Filipa de Lencastre, que sucumbira perante a terrível peste que terá assolado o país e dizimado uma parte muito significativa da população.

Aqui vieram os príncipes irmãos, Duarte, Pedro, Henrique, João e Fernando, e talvez também a princesa Isabel, a ínclita geração, conversar com Senhor, seu pai, sobre os planos para a tomada de Ceuta. Como é sabido, o infante D. Henrique foi o principal impulsionador dos descobrimentos portugueses.

Tudo terá decorrido, então, ali entre o Largo da Graça e a Quinta da Graça, a meio caminho quando se vai para a Quinta do Império (não confundir com Quinto Império), dizíamos, Largo da Graça onde, eventualmente, terá nascido ainda um nosso respeitado conterrâneo e contemporâneo, o Sr. Mário da Graça, e terá vivido o avô de um nosso companheiro de “Estudo Geral”, extraordinário escritor e pessoa de admirável cultura. Foi ali também que em criança, depois de atravessado o dito Largo de mão dada com a avó Aura, comprávamos o leite extraído directamente da teta da vaca, não sem que a Dona Albertina, a fazendeira, nos oferecesse um copinho do precioso(?) líquido ainda quentinho.

Naturalmente que tudo isto não tem mais que um significado simbólico para o nosso “Estudo”. Foi aqui como podia ser noutro lugar qualquer… Mas não foi. E a verdade é que, à sombra disso o Largo da Graça fez, e continua a fazer, história. Ainda hoje quando pensamos na força que a Língua Portuguesa granjeou nestes últimos séculos e naquilo que ela vai fazendo, esperemos, pelo bem dos mundos, não podemos deixar de achar Graça ao facto da sua expansão ter passado por aqui, lugar onde os nossos avós viveram.

E quando dizemos os nossos avós estamos, evidentemente, a generalizar.

Luís Santos

Traz-me

a música que habita em ti

beija-me até que ela seja eu

ensina-me, amor a melodia

que desaprendi antes de ti

às seis da manhã

o galo canta

o beija-flor acode feliz

e eu ainda estou a dormir

amanhã, antes do sol nascer

eu ainda sou criança

fala-me dos dias

quando despertas

e o verde é igual ao azul

mas antes, amor

cobre meu corpo

com a melodia do teu.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O Pássaro da Alegria


O que guardavas dentro do olhar de gaio assustado
Dormiram-no as rosas,
Sabiam-no as corças
E o coração da montanha e das estátuas silentes;
Trazidas à cintura
Atadas com um nó de nós
Uma corda, uma roda,
Uma mó.
Uma espada plantava na fundura da terra
um grito, um som:
Cantava e dançava de olhos fechados
A flor em botão dos lírios
Como quem desenrola um fio de ouro
Do perfil do pulso do rio
E da sombra da árvore do bosque.

Da nervura finíssima da luz, bico de escrita
na palavra adubada do jardim.
Era a dança.
As nuvens suaves a entreabrir o dia, a soltar véus
velas sobre o suave colo dos céus.
Era o Dia
O bico da luz
Sob o azul das luzes
E das fitas dos cabelos da rapariga.

Trago a pérola do sorriso das rosas,
No bico estonteado das horas;
Trago o laço de cetim atado à cor azul dos lírios;
Trago, soltas, as asas de um jardim de sombra;
E trago, dentro da arca da boca, um beijo
Para acender uma pérola
Na barca que do céu a vista cega;
Arde a barca, o barqueiro e o pescador de espuma
E de luar.

Trago soltos os cabelos e a flor dos olhos
Aberta como o som de sinos verdes no bronze das manhãs
Ramos e pinheirais onde o mar aflora
e à flor do riso roça a asa azul de uma tão frágil dança;
Que o manso dedo se sustem no ar
No bico da luz
De tão espantada face de alarme e de alegre tristeza.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Intransmissível por e a outrem, pacífico, fora de discurso, fora de conceito, sem diversidade: outros tantos modos de indicar o que verdadeiramente é

- Nāgārjuna, Estâncias do Meio por Excelência, 18, 9.

‎"Nada há fora da mente; nada também a encontrar na mente. Que procurais vós pois?" - Lin-Tsi

Eu só sei que sou

Eu só sei que sou!
O resto eu não sei
Eu só sei que sou!
Se os outros são ou não são,
Eu não sei
Eu só sei que sou!
Se os outros são mais ou menos que eu,
Mais ou menos o quê?
Isto eu também não sei,
Pois eu só sei que sou
O que será que será?
Eu não sei
Eu só sei que sou
O que eu quero é bom ou ruim?
Eu não sei
Eu só sei que quero
E se quando quero
Acho que devo deixar de querer
Eu deixo de querer
Querer o quê?
Isto eu não sei
Eu só sei que sou!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Entre Tantos


Tende para o Caos
Está Lá
Está Aqui
Em toda a Parte
Está
Ordem
Aqui e lá.
Não guardo
Vejo
O
Não visto.

Não tem forma
Em nenhuma se move
Por todas as direcções
Caminha e espalha:
Espelha (se)
Replica (se)

Não tem Se:

Incondicional.


Ele é o Tao da Água
Inominado.
Ele é o Centro
Sem centro.
Ele é a fuga
Para além do limite
O ilimitado
É entre.gar
O peito azul ao ar
E perder peso
Até entrar
A luz pela pupila
Pela tela

pon-tear
Entre-telas
Entre-orar.

É Outra Ordem
De Caos
É de outra imobilidade.
De Outro Silêncio.
O Corpo do pensamento
Mais o corpo
Físico
Pescadores de salmão
Peixes no Oceano
Imóvel.

Medito com os joelhos cruzados
Contrario o que se fixa.
Passeio pela mente
Assisto.
Tudo o que não é flexível
Separa
Agarra:
Corpo e mente.
O que é flexível
Também.

Não sendo nem não sendo
Posso ouvir
Ver
Sem ser visto
Incapturável
Não capturável
Pela escrita
O movimento imóvel
Deambulador de ideias
O pastor da Paradoxia.
Entre Eternos

Entre-teceres

Entre Seres.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

"Como poderia então haver vazio?"

“Se houvesse o quer que seja que fosse não-vazio, poderia também haver alguma coisa de vazio. Mas não há nada que seja não-vazio. Como poderia então haver vazio?”

- Nāgārjuna, Stances du Milieu par Excellence [Madhyamaka-kārikās], 13, 7.

Alquimia da Raiz

“É exactamente através do processo de repouso que se retorna à raiz.”
Mestre Wu Jyh Cherng


Vai-se à Raiz
Pelo repouso
Vai
Bebe
Desce
Sobe
Escava
Dorme
Vai
Estás a Nascer
Outro.
Estás
És.

Idêntico a si Próprio
Nem na Poesia
Tão bem na Vida.
A Vida
O Templo
Do Outro
Em Todos.
Escava
Cava
Vai
Desce à Raiz
Que sobe
Pelo Repouso.
Alma
Vem
Vai
Ao Sem repouso.

À Essência
Ao Nada.
Raiz sem raiz
Invertida
Tábua de Esmeralda:
O que está em cima
É como o que está em baixo

Por um Milagre
De Passagem
Um Entre
Um Intervalo
Pleno de Nada.
Plano.
Transições
Chama eterna.
Dança.

domingo, 8 de agosto de 2010

Entre


Estar
Só no que está
Ouvir o que ouve
Com a atenção toda
No que é
Fora de nós
Uma corrente
Uma porta
Um entre
Que nos faça
Desaparecer
Des –
Aparecer
De Ser.

Aí, aí, aí!
Aí não há
Aí tudo é ausente
Como nascente
Corrente
Que não prende
Desaprende
Des –
Aprende
De Ser
De Ter
De Haver.

Mesmo que cante
O pássaro se expande
Em Silêncio
Que des –
Interroga
O Tempo
O Espaço
O Ente
Ver
Des –
Integra
A continuidade.
Tudo
É
Novo
Nada.
Ovo
Primeiro
Órfico
Or –
Fico.

domingo, 1 de agosto de 2010

O verdadeiro milagre...

... é a vida. Fogueira que se acende, fogueira que se extingue. O verdadeiro milagre é a flor que desabrocha e depois se transforma no grau zero do perfume.
O verdadeiro milagre não é o fenómeno, nem a vida é um circo. O milagre é respirar e integrar o ar na fogueira e na flor.
Milagre é sentir ainda em cada fogueira extinta a respiração quente dos avós sentados ou acocorados junto ao lume do calor, da transformação e da protecção. O milagre é reproduzir esse gesto e sentir na nuca o amor antigo dos que já partiram mas continuam a velar para que o fogo permaneça intenso e vivo. Como possibilidade. Acima ou sob todas as fogueiras extintas, existe um lume eterno cujo nome cada um guarda no coração como o único e precioso fósforo. De ouro.