"Para este justo que sofre há também um paraíso e uma glória: em primeiro lugar na consciência do seu sacrifício, depois nos momentos de êxtase que a força de alma, a energia, lhe oferece. Stendhal, partindo da ideologia, do raciocínio frio, das abstracções geométricas, chega, como porto último da sua doutrina, ao misticismo mais ardente e mais puro. O êxtase, diz ele, é a absorção completa do indivíduo no objecto amado, mulher ou música, poema ou painel; uma suspensão de vida, um levitar, envolto numa claridade de sonho, como se vê em certos santos de Murillo; um contacto extático com o fundo último da realidade, um perder-se em Deus, provocado pelas criações colossais e dolorosas de Miguel Ângelo ou pela radiosa e harmoniosa beleza de Matilde Dembowski"
– Agostinho da Silva, Stendhal. Mérimée. Dois Ensaios de Interpretação [1947], in Estudos e Obras Literárias, pp. 26-27.
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