quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Versículos


Bagagem

Nunca se pede demais,
não se pode esperar mais
do que aquilo que se consegue ter.
Quando se tem
se é tido.


Luís Santos


sexta-feira, 26 de outubro de 2012

PROJETO ARCO-ÍRIS


PROJETO ARCO-ÍRIS - As Empresas do Futuro: Tradição e Inovação

Angariar linha pública de apoio financeiro, pretensamente em condições favoráveis (juro perdido?),  que possa apoiar Projetos naturalmente sustentáveis de desenvolvimento social. Eis alguns deles:

. Rede de lojas/hipermercados/ centros comerciais alternativos

- produtos alimentares
- produtos e terapias naturistas
- restauração
- livraria
- vestuário

. Rede de unidades hoteleiras

-alimentação vegetariana
- retiros terapêuticos
- cursos de meditação
- cursos de cozinha vegetariana

. Rede de restaurantes vegetarianos

. Rede de medicinas naturistas/alternativas em interação com a medicina moderna.

. Rede de Escolas com pedagogias inovadoras

. Centros de Investigação Científica (religião, saúde, alimentação, desporto, ecologia, lazer, política). Cursos Abertos. Formar grupos de pensamento inter-religioso e trans-religioso aberto a ateus e agnósticos.

. Pensar e concretizar Projetos na área do Desporto

. Apoio à edição e distribuição de livros em temas que se relacionem com o Projeto e afins; e igualmente a Projetos de Música.

. Apoiar outros Projetos de Criação Artística

. Comunicação Social

- Jornal Nacional
- Jornais Locais
- Televisão Cabo e Web
- Rádio

Notinha: Depois das 2as. sem carne propomos que, em regra, se elimine o consumo de carne ao pequeno almoço, lanche e jantar, durante os restantes dias da semana. Talvez se tenham que introduzir complementos alimentares. Há que estudar e divulgar o assunto.


Carlos Rodrigues




Minha cara não é feia
Minha mão não tem peçonha
Se eu não me casar
Não é uma pouca vergonha?

Sempre achei que esta era a estrofe seguinte ao poema da batatinha. Depois do jantar, meus pais sentavam-se no sofá da sala de estar e esperavam que eu recitasse. De frente para eles, enquanto declamava passava minhas mãos pela cara, abria os braços e perguntava convicta:
- Se eu não me casar não é uma pouca vergonha?
Então, meus pais batiam palmas e eu tinha a certeza que eles gostavam de mim.
Podia dormir descansada, porque em todos meus sonhos, os príncipes existiam como nos contos de fadas.
O Visconde de Sabugosa, a Emília, o Pedrinho e a Narizinho eram meus fieis companheiros. De dia ou de noite, bastava cheirar o pó de pirlimpimpim, que ganhávamos asas para outras viagens. As madrastas feias eram derrotadas e o mundo podia voltar a sorrir.
Quando aprendi a ler, minha professora deu-me um livro francês, que contava a história de uma baleia azul. Escreveu uma dedicatória dizendo que um dia eu também poderia contar histórias. Durante muitos anos, folheei o livro, adivinhando o enredo através das imagens.
Ficou a vontade secreta de que um dia eu escreveria numa língua em que todas as crianças do mundo reconheceriam. Uma língua que não precisaria de tradução, porque os sons seriam amigos. Abraçariam o coração, fariam cócegas no corpo , ririam e chorariam na cadência das histórias bonitas.
O livro da baleia azul ainda mora comigo. Sei de cor a sua história. Corre pelo meu corpo, agora, a caminho de outra infância.

Batatinha quando nasce
Espalha a rama pelo chão
A menina quando dorme
Põe a mão no coração
...
Se eu não me casar
Não é uma pouca vergonha?

No final da primária, senti uma dor aguda chamada despedida. Eu iria morar longe e nenhum dos meus amigos, nem daqueles por quem eu estava apaixonada seguiriam comigo. O pó de faz de conta, não acalmou a dor.
Na varanda, deitada na rede, ouvindo o mar eu cantava baixinho:

Quem parte leva saudades de alguém que fica chorando de dor
Por isso eu não quero lembrar quando partiu meu grande amor
Ai, ai, ai ai, ai ai ai,está chegando a hora
O dia já vem raiando, meu bem, eu tenho que ir embora

O meu amor eram tantos que juntos eram só um, e era tão intenso o que eu sentia que meu pai ensinou-me que esse vazio tão cheio se chamava saudade.

Disse ainda que umas vezes dói, outras acalma por dentro e nos faz sorrir.

Foi assim acolhendo o dia que aprendi a gostar do tempo que nasce e morre em cada manhã, como se fosse o poema que um dia prometi escrever numa língua em que todas as crianças entendem. Não tem gramática, nem acordos. Conjuga todos os verbos no presente sempre na primeira pessoa do plural, porque nela nos reconhecemos todos.

Enquanto minha mãe toca piano, meu pai ensina-me outro poema.
Este, que mora no intervalo de cada palavra esquecida.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

No quarto de partida



Velha de teus olhos verdes,
Passageira final à barca,
Mulher de força, desgaste sólido,
Padroeira idosa já tão fraca.

Diz  teu olhar de tão trémulo,
O cansaço pestanejante ainda vivo.
Do silêncio se escuta a sentença.
Que efémero momento, agora reflectindo.

A paz da tua cama
E da minha, a turbulência.
Esperando  assim alegre fado.

Deitar-me-ei contigo para sempre
Nessa cama,  que fofa,
Com o  candeeiro  apagado.


                                       Diogo Correia

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Durante anos ouvi a mesma história da boca da minha mãe, sempre que eu reclamava da vida. Uma família judia de pais, avós, filhos, tios, primos e irmãos, viveu durante anos numa cave até serem encontrados. A comida era escassa, por vezes não havendo senão um pão para partilhar. Do lado de fora, perdido na sua ignorância o homem perseguia o seu semelhante. Do lado de dentro o medo era companhia co
ntinuada. Ana, a filha mais nova fez aniversário. A família fez uma roda, partilhou o pão, dançou e celebrou a vida.

Tento sair do espaço 3 por 4 que desenho no dia a dia, na ilusão de que este é o meu território seguro. Tento que o mundo não seja uma fotocópia a preto e branco, redutora da minha existência. Só consigo quando estou presente ao outro. E outro é sempre tão importante quanto eu - porque sem ele pouco de mim sobraria.

Por isso celebro a minha vida, num momento tão difícil - esse onde descubro o intervalo da minha existência.