quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

PESSOA NA ACTUALIDADE (duas últimas sessões)

Ciclo internacional de conferências PESSOA NA ACTUALIDADE (duas últimas sessões):

Tendo por finalidade divulgar as mais recentes pesquisas sobre Fernando Pessoa, o Ciclo internacional de conferências PESSOA NA ACTUALIDADE pretendeu trazer à Casa Fernando Pessoa jovens investigadores pessoanos. O evento decorre entre os meses de Dezembro de 2011 e de Janeiro de 2012 e contará de novo com a presença de pesquisadores nacionais e estrangeiros que nos darão a conhecer algumas das investigações sobre o pensamento e a obra do poeta e pensador português.

Organização: Paulo Borges, Cláudia Souza e Nuno Ribeiro.

5ª Sessão – 26 de Janeiro

Daniel Moreira Duarte (Portugal) - O “ideal ascético” e a “ceifeira”.
José Almeida (Portugal) - Fernando Pessoa e a Tradição Hermética
Bruno Béu (Portugal) - Isto não é isso — o discurso tautológico como procedimento apofático na poesia de Alberto Caeiro

Encerramento – 27 de Janeiro
Teresa Rita Lopes (palestra de encerramento)

Sempre às 18h30. Entrada livre.

Câmara Municipal de Lisboa
Casa Fernando Pessoa
R. Coelho da Rocha, 16
1250-088 Lisboa
Tel. 21.3913270
Autocarros: 709, 720, 738 Eléctricos: 25, 28 Metro: Rato
http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt
www.mundopessoa.blogs.sapo.pt

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

"Verdes Anos": o PAN já faz parte da história do ecologismo em Portugal



O livro Verdes Anos. História do ecologismo em Portugal (1947-2011), de Luís Humberto Teixeira (Lisboa, Esfera do Caos, 2011), será apresentado pelo Prof. Viriato Soromenho-Marques na 3ª feira, dia 31 de Janeiro, às 18.30, na Livraria Bulhosa de Entrecampos. Este livro dedica o capítulo 8 ao PAN e ao seu resultado surpreendente nas últimas eleições legislativas. Reproduzimos os três últimos parágrafos do livro, após se referir o historial de adversidade de Portugal e dos países do Sul da Europa aos ideais ecologistas:

"Perante este ambiente hostil, como se explica então o sucesso do PAN, que nas primeiras eleições legislativas a que concorreu obteve mais de 50 000 votos em listas próprias (feito inédito entre os partidos ecologistas portugueses) e quatro meses depois elegeu um deputado em eleições regionais?

Será um epifenómeno ou será que o segredo para o sucesso de um partido verde em Portugal passa por unir a defesa do ambiente aos direitos dos animais e às causas humanitárias?

Para responder a estas questões teremos de esperar mais algum tempo. Entretanto, uma coisa é certa: por mais negro que seja o cenário do país e do planeta, muitos acreditam que a cor da esperança ainda é o verde"

Cabe-nos mostrar que o "segredo" é mesmo esse e que o PAN veio para crescer e ficar.

Inéditos de Fernando Pessoa sobre sebastianismo e Quinto Império


Quarenta e três textos inéditos de Fernando Pessoa sobre sebastianismo e o Quinto Império foram encontrados na sua famosa arca pelos investigadores Pedro Sepúlveda e Jorge Uribe e publicados com outros 58 já conhecidos sobre o mesmo tema.O resultado estará a partir de quinta-feira nas livrarias portuguesas, numa edição da Ática, chancela da Babel, sob o título “Sebastianismo e Quinto Império”, mais um volume da Nova Série de Obras de Fernando Pessoa, coordenada pelo pessoano colombiano Jerónimo Pizarro.“[Em D. Sebastião], Pessoa encontra uma figura para falar de Portugal de uma maneira que, ao mesmo tempo, o aproxime a uma tradição popular, que é o que lhe interessa, mas também faça um certo afastamento de outros autores”, disse à Lusa o investigador colombiano Jorge Uribe.“Acho que um dos principais interesses de Pessoa pela figura de D. Sebastião tem que ver com uma maneira de fazer frente a Camões: D. Sebastião é uma personagem de ‘Os Lusíadas’, de Camões, todo o poema épico é dedicado a D. Sebastião, mas o D. Sebastião que está por vir depois de ‘Os Lusíadas’ é uma oportunidade para Pessoa se defrontar com aquele que era o seu precursor literário mais importante”, defendeu.Segundo este pessoano, entre muitos outros aspectos, o mais importante é que a utilização da figura de D. Sebastião é, para Fernando Pessoa (1888-1935), “uma maneira de entrar na História de Portugal onde Camões a deixou”.Esta obra – que abre logo com o horóscopo de D. Sebastião feito por Pessoa, não é -- sublinham os investigadores na introdução – um volume que o escritor tivesse deixado pronto para dar à estampa ou a que tivesse sequer dado alguma organização específica.Trata-se, sim, de “uma compilação temática dos fólios do autor”, que implicou que percorressem “diversos géneros de obra escrita (manifestos, respostas a inquéritos, cartas, planos, ensaios), assim como distintos tons dessa mesma obra (o sociológico, o provocatório, o hermético, entre outros)”.Também na introdução, Pedro Sepúlveda e Jorge Uribe explicam que “o critério fundamental de reunião dos materiais que se seguiu foi o de que o livro reuniria a prosa de Pessoa sobre a dimensão mítica da nacionalidade portuguesa, expressa em dois mitos fundamentais, o regresso de D. Sebastião e a concretização do Quinto Império”.Sobre o Quinto Império, Jorge Uribe explicou à Lusa a aproximação de Pessoa a essa tradição profética: “O Quinto Império é uma tradição profética muito extensa, muito grande, que vem de uma leitura de um texto hebraico, do Livro de Daniel, que está no Antigo Testamento, mas que começa na tradição cristã desde muito cedo a tentar descobrir que Nação será esse Quinto Império definitivo”.“Estamos a falar de alguns intérpretes de profecias ou dos pais da Igreja, mesmo – como, por exemplo, Tertuliano – que começaram a tentar fixar qual ia ser essa Nação definitiva”, sublinhou.Trata-se – prosseguiu – de uma tradição profética “que está à procura da compreensão da revelação última, da Nação última, e isto faz com que Pessoa, procurando essa interpretação para Portugal, esteja a aproximar-se de uma tradição de quase mil anos – do lado cristão, porque do lado hebraico são mais”.“São grandes tradições, de grandes livros, de grandes nomes, de grandes leituras, dos quais Pessoa era um constante seguidor. Realmente, o que nos interessou, neste livro, foi aproximarmo-nos de um Pessoa leitor, um Pessoa que está em constante contacto com centenas de livros e cuja escrita depois reflecte o que ele aprende nestes livros”.A existência de tantos inéditos sobre este tema é explicada pelos dois pessoanos pela “dificuldade de leitura de uma boa parte dos documentos” e pela sua “dispersão pelo espólio”, que se encontra dividido entre a Biblioteca Nacional e a Casa Fernando Pessoa.Inquirido pela Lusa sobre o que acrescentam estes inéditos ao já conhecido interesse de Pessoa por esta temática, Jorge Uribe respondeu: “Não é que exista um inédito que venha mostrar-nos uma coisa que ninguém pudesse imaginar que Pessoa tivesse escrito. Digamos que há uma espécie de sintonia, uma espécie de lógica naquilo que encontrámos de novo”.“Aquele que é, se calhar, o inédito mais curioso é o esboço de um ensaio sobre o Quinto Império que tem 21 folhas manuscritas por Fernando Pessoa – um número que nos surpreendeu muitíssimo –, em que Pessoa apresenta mais ou menos todas as questões gerais do que é isto do Quinto Império”, destacou.“E essas 21 folhas inéditas chamam mais a atenção porque levantam a pergunta: como foi que uma coisa tão grande passou tanto tempo despercebida? Mas também é verdade que o espólio é um lugar complicado, e eu tenho a ideia de que se calhar outros editores, em tempos anteriores, não arriscaram a publicação porque não estavam certos de ser um texto de Fernando Pessoa em vez de, por exemplo, uma tradução de outro texto”, observou.“Em termos gráficos, é evidentemente um texto de Pessoa, mas não se sabia se estava a tentar traduzir outra coisa. Agora, com as tecnologias da nossa geração, tentar verificar se um texto pertence ou não a um autor é mais simples”, concluiu. http://www.publico.pt/Cultura/ineditos-de-fernando-pessoa-sobre-sebastianismo-e-quinto-imperio-sao-publicados-quintafeira-1530521?all=1

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Quem é o meu próximo?

“Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus, 22, 39). Quem é o meu próximo? Aquele que pertence ao mesmo grupo familiar, local, social, económico, nacional, étnico, cultural, linguístico, político ou religioso? Aquele que pertence à mesma espécie, ao mesmo planeta ou à mesma galáxia? Ou o meu próximo é aquele de quem me sentir próximo, ao ponto de o não sentir separado de mim nem a mim separado dele? O meu próximo tem então de ter duas pernas e dois braços ou pode ter quatro patas, muitas, nenhuma, caule, tronco, folhas, flores e frutos? Tem de ter cabelos e pele quase nua ou pode ter pêlos, penas, couraça, escamas e casca? Tem de viver sobre a terra ou pode rastejar dentro dela e voar e brilhar nos céus? Tem de ter uma vida individual ou pode ser a própria terra, as areias, as rochas, os minérios, as águas, os ventos, o fogo e as energias que em tudo isso habitam? Tem de falar a minha linguagem ou pode miar, ladrar, zumbir, uivar, cacarejar, grunhir, mugir, relinchar, rugir, trinar, grasnar, trovejar, soprar, relampejar, chover ou florir, frutificar, repousar e mover-se em silêncio? Tem de ter forma e ser visível ou pode não ter forma e ser invisível? Tem de ter vida consciente e senciente? Tem de ter vida? Tem de ser algum ser ou coisa ou pode ser tudo? A empatia, o sentir em si o outro como o mesmo, a compaixão, têm limites? Temos limites? Conhecemos a fronteira do que somos? Ou só o medo nos limita? O medo de tudo o que há. O medo do infinito e da vasta multidão que somos.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Ela sonhava como os rios
E no percurso das águas nasciam filhos
Que mais tarde lhe vinham acordar ao mar revolto

Ela costurava os seus vestidos
Com o fio de uma extensa lágrima
Para depois de pronto ver-se no fim de tudo

Ela sabia que o sonho tem horas
Que é o tempo fechar os olhos
E acordar primeiro que as galinhas

Mas quando fazia colares de amoras
Para que os homens pudessem falar dela
Era então que uma estrela lhe nascia
Algures entre o sexo e o peito

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

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Semear o amor
plantar a loucura
e colher homens e mulheres mais felizes.

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O nascer e o morrer são os únicos momentos inevitavelmente autênticos da vida.

O nascer e o morrer são os únicos momentos inevitavelmente autênticos da vida. Uma vida será tanto menos fictícia quanto mais a cada instante no seu íntimo os preservar.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

New Afghan Girl Dance Performance

Não sei tombar como os guerreiros
não sei sangrar como um livro de História de Portugal
não sei rimar como o Eugénio rimou
não sei o segredo das cores primárias
nunca vi uma aranha a fabricar o seu vestido
nunca escutei o silêncio a dar um grito de mulher
Mas sei que a metafísica tem o seu deserto.

A mensagem da Mensagem ou o regresso de D. Sebastião: hoje, 19h



Promovido pelo Centro de Estudos da Lusofonia Agostinho da Sliva, realiza-se 3ª feira, dia 17, pelas 19 horas,nas instalações da Escola Superior de Educação Almeida Garrett, ao fundo da Rua da Voz do Operário, a 3ª sessão do Curso Livre de Cultura portuguesa subordinada ao tema "A mensagem da MENSAGEM de Fernando Pessoa". Serei o orador, com os seguintes tópicos:
- Portugal, Europa e Mundo.
- O regresso de D. Sebastião e o fim do sebastianismo.
- O Quinto Império e a nova civilização.

"- O que calcula que seja o futuro da raça portuguesa ?
- O Quinto Império. O futuro de Portugal - que não calculo, mas sei - está escrito já, para quem saiba lê-lo, nas trovas do Bandarra, e também nas quadras de Nostradamus. Esse futuro é sermos tudo. Quem, que seja português, pode viver a estreiteza de uma só personalidade, de uma só nação, de uma só fé? Que português verdadeiro pode, por exemplo, viver a estreiteza estéril do catolicismo, quando fora dele há que viver todos os protestantismos, todos os credos orientais, todos os paganismos mortos e vivos, fundindo-os portuguêsmente no Paganismo Superior? Não queiramos que fora de nós fique um único deus! Absorvamos os deuses todos! Conquistámos já o Mar: resta que conquistemos o Céu, ficando a terra para os Outros, os eternamente Outros, os Outros de nascença, os europeus que não são europeus porque não são portugueses. Ser tudo, de todas as maneiras, porque a verdade não pode estar em faltar ainda alguma coisa! Criemos assim o Paganismo Superior, o Politeísmo Supremo! Na eterna mentira de todos os deuses, só os deuses todos são verdade” (Fernando Pessoa, resposta a uma entrevista de António Alves Martins).

Esta resposta é um notável resumo de vários aspectos fundamentais do pensamento pessoano atrás expostos. Para além de confirmar que Pessoa assume Portugal como a quinta-essência do cosmopolitismo e universalismo europeus, retoma a ideia de uma nova Descoberta a fazer, agora o “Céu” como ontem o “Mar”, numa crescente desterritorialização, desmaterialização e subtilização do elemento e domínio a desvendar. Além disso, reassume o projecto sensacionista de ser/sentir tudo de todas as maneiras como inerente ao impulso heteronímico e holístico, trans-pessoal, trans-nacional, trans-religioso e universalizante da nação. Finalmente, esclarece o sentido espiritual do Quinto Império como essa síntese trans-religiosa que incorpora e transcende todas as formas de manifestação do divino, do infinito ou do absoluto que são “todos os deuses”, por saber que, enquanto tais, enquanto suas re-velações para o e pelo homem, necessariamente condicionadas pelos limites humanos, tanto o desvelam quanto o ocultam e, assim, todas são igualmente verdadeiras e mentirosas, residindo a maior aproximação possível à verdade na igual e simultânea aceitação de todas as formas parciais e relativas da sua manifestação, sem excluir nem privilegiar nenhuma delas"
[excerto do meu próximo livro em preparação]

"Fado amigo não há, nem fado escuro; / Fados são as paixões, são as vontades"



Fado é fadar-se, destino é destinar-se: “Não forçam corações as divindades: / Fado amigo não há, nem fado escuro; / Fados são as paixões, são as vontades" – Bocage.

Se não acedes à estupefacção do intelecto cais na estupidez intelectual

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Símbolos? Meta-símbolos?
Odeio símbolos, os mestres-de-obras dos poemas, os clínicos
analistas das metáforas, os engenheiros do amor, os arquitetos
da foda, os psicanalista da música fúnebre. Odeio os que num verso
tentam perceber a minha vida toda. Invertem parábolas, agitam-nas,
sacodem-nas, analisam a minha dor à lupa.
Rais parta a simbologia, as pernas das letras, os nenúfares nas mesinha
de cabeceira, os poetas escriturários, belos, sentimentais e sonâmbulos
como os bois pela beirinha da estrada.
Odeio os que a modinho retiram a vesícula do poema, injetam sol
e pleonásmos, virgulam os sentidos.
Meus senhores, o que escrevo advém das flores, roubado às flores,
plagiado das flores. Esse é o meu crime, o meu sangue, que é fresco
e tem sete fuso horários.
Por favor, não me dêem cabo dos significados!

"O que era seguro era estar-se numa época de crise e ir sair de todo aquele século um mundo novo [...]"



"O que era seguro era estar-se numa época de crise e ir sair de todo aquele século um mundo novo, se a sua construção estivesse dentro das possibilidades humanas; os grandes edifícios sociais e políticos, os grandes princípios religiosos, as próprias normas literárias e artísticas manifestavam à mais ligeira observação os sinais do abalo profundo que não deixava de agitá-los; o homem do futuro já não cabia nas armaduras que vinham dos avós e ao esforço brutal que fazia por conquistar a liberdade abolavam-se as lâminas e estouravam os fechos; as próprias reacções eram sinais de derrocada; os fracos lamentavam-se e desejariam ter vivido em anos mais tranquilos, sem nenhum grave problema a resolver, com as escalas hierárquicas perfeitamente dispostas e a existência decorrendo como um fio monótono de fonte; Zola, porém, considerava como o mais belo dom dos deuses terem-no lançado para o fragor das torrentes, terem-lhe concedido ajudar as gotas companheiras na faina de abrir caminho, entre espumas e tumultos, para o verde sossego dos plainos"
– Agostinho da Silva, Vida de Zola [1942], in Biografias I, pp.127-128.

domingo, 15 de janeiro de 2012

É PRECISO DUVIDAR DE TUDO

Se não existe crítica sem alguma margem de dúvida, tampouco existe dúvida sem uma margem de crença. A crença é tão ou mais importante do que o ato de duvidar pra se chegar a qualquer conhecimento aproximado da realidade. Como diria o grande Vilém Flusser, em A Dúvida, se a dúvida metódica se transformasse em dúvida existencial, ou seja, em dúvida da dúvida, só nos restaria uma saída: a morte. E este seria um suicídio filosófico. Ou seja: uma insípida autoaniquilação. Essa é a crítica mais comum ao ceticismo de tipo pirrônico.

Porém, não acredito que a dúvida, diferente da crença, seja uma exceção no processo cognitivo. Acho que duvidamos como respiramos. Ortega diz algo nesse sentido com seu conceito de "razão vital". Se a crítica da crítica oferece problemas epistemológicos, a fé na dúvida também os oferece, talvez em quantidades ainda maiores. Todos aqueles que criam botes salva-vidas e mecanismos de neutralização, nos quais ao criticar não se vejam também eles no objeto criticado, agem ou por ingenuidade teórica ou por malícia estratégia. Querem se mostrar ou menos conscientes do que poderiam ser ou mais lúcidos do que realmente são. Qualquer conhecimento da realidade só existe de modo encarnado. Nunca como conceito abstrativo. Nesse sentido, toda a realidade e tudo o que existe, de pior e de melhor, não passa de um espelho. É apenas isso o que somos: um espelho. E não por acaso só a partir desse momento começa de fato a especulação.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

From Silence

ADAM HURST

A X-productions tem a honra de apresentar em estreia por terras lusas, o tão aguardado e cobiçado Adam Hurst.

O premiado violoncelista e compositor Adam Hurst usa o violoncelo como uma voz solo melódica criando apaixonadas e emotivas poéticas musicais que se entranham em quem as ouve.
A sua música é considerada assustadora, ao mesmo tempo que etérea, evocativa e romântica e tem sido usada em vários documentários, filmes de arte e filmes independentes como em Anima, um filme de Craig Richardson.

Adam Hurst estudou violoncelo no Skidmore College e continuou estudos na Universidade de Brown. Licenciou-se em Design na Rhode Island School of Design (1997). Ensinou violoncelo no Providence College enquanto adjunto durante quatro anos.
Tendo vindo a apresentar o seu trabalho nos EUA e Europa, este é o compositor das partituras de Broken Sparrow, um ballet coreografado por James Canfield e de peças para dança contemporânea e dança do ventre. Midnight Waltz é uma peça original para violoncelo e acordeão que compôs para o Vampire Ball de Portland.

Hurst participou, recentemente, no BRAM STOKER INTERNATIONAL FILM FESTIVAL, em Inglaterra e vem pela primeira vez a Portugal depois de um reportório original exposto já em nove álbuns para dois concertos que, segundo as críticas, são absolutamente imperdíveis !!!




Mais informações e contactos, AQUI

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

lux liber


TIBET MIRROR


Tibet Mirror ( phyogs Yul tão gyur so'i gsar 'me por muito tempo) , v. 16: no.12 [entre 1947-1949].
O Espelho Tibet ( Yul phyogs tão gyur so'i gsar 'me tempo ), foi um dos mais importantes jornais de língua tibetana, começou a ser publicado em outubro de 1925 em Kalimpong, na Índia. Ele narrou inumeras e dramáticas transformações sociais e políticas no Tibete, Índia, e em toda a região. Foi fundado por Gegen (Gergan) Tharchin Dorje, um pastor tibetano e teve a sua sede em Kalimpong. O Espelho Tibet tornou-se numa voz influente para a independência do Tibete em relação à China.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Maquiavel sobre a conquista e conservação de estados



"Quando os estados que se conquistam [...] têm a tradição de viver segundo as suas leis e em liberdade, para a sua conservação existem três opções: a primeira é a sua destruição; a segunda é ir para lá viver o príncipe conquistador; e a terceira consiste em deixá-los viver de acordo com as suas leis, mas exigindo-lhes um tributo e criando no seu seio uma oligarquia que vos garanta a sua fidelidade"
- Maquiavel, O Príncipe, cap. V.

O que se passa no mundo, e particularmente em Portugal, não é nada de novo...

sábado, 7 de janeiro de 2012

Um outro Natal: O Carnatal (excerto da crónica publicada na revista CAIS de Janeiro)



O autêntico Natal pagão e cristão implica sempre um (re)nascimento, uma mutação da consciência e por vezes a vivência de um mundo ao arrepio das normas, onde a experiência do sagrado consiste em transcender aquilo que se venera como mais sagrado (o “sagrado de transgressão”, segundo Roger Caillois). Na Idade Média o Natal ainda coexistia com as Festas dos Loucos, de meados de Dezembro até à Epifania, em 6 de Janeiro, com comida, bebida e danças nas igrejas e nos altares, missas burlescas com burros a zurrar, homens vestidos de mulheres e vice-versa, crianças tornadas Imperadores a quem a hierarquia eclesiástica tinha de obedecer, etc. Proibidas nas igrejas, originaram o Carnaval moderno, tendo sido a forma medieval cristã do mundo às avessas presente noutras culturas como ritual do regresso cíclico do cosmos ao Caos primordial onde a liberdade, a metamorfose, o jogo e a festa predominam sobre a delimitação do sagrado e do profano, do divino, do animal e do humano e dos papéis psicológicos e sociais, com a vida orientada para o trabalho e a produção.

Correspondendo ao solstício de Inverno, as Festas dos Loucos continuam antigos festejos pagãos, como as Saturnais, onde se celebrava o regresso à abundância da Idade do Ouro com a troca de presentes e o travestimento dos dois sexos. Estas festas ainda estão bem vivas no Nordeste transmontano, crendo-se que delas depende a renovação da energia vital, a fertilidade das mulheres, dos animais e dos campos. Como ainda hoje se diz, por ocasião das tropelias e mascaradas praticadas nas Festas dos Rapazes e outras: “É Natal, ninguém leva a mal!”. Um Carnatal, como pude presenciar…

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Carro de Feno, Carro do Mundo, para onde vais?

Quando tentei ser poeta original
vieram bandidos e esfregaram-me com ouro
líquido na cara. quando sonhei com a leveza 
dos pássaros perdidos, uma poetisa engravidou-se 
através das suas próprias mãos. quando vesti a túnica 
das esfinges gregas, uma criança chorou diante 
do altar do abandono. quando descobri o conforto do invisível,
parti para dentro de mim e acendi os olhos.

"Ousar falar de política desmontando os seus fundamentos, em toda a sua complexidade, e com os segredos que comportam, chega a ser perigoso"



"Falar de política é e mantém-se difícil porque o político nunca joga só. O que o político diz de si próprio está cheio de mentiras, de dissimulações. Ousar falar de política desmontando os seus fundamentos, em toda a sua complexidade, e com os segredos que comportam, chega a ser perigoso. A cidade, todas as cidades, a sociedade, todas as sociedades, não toleram que se fale delas lucidamente, radicalmente, desvelando ao máximo possível os mecanismos em marcha, assim como o seu imaginário, também ele limitado. Fazer isso não de um ponto de vista particular, não privilegiando um partido, seja ele qual for, dificilmente é suportável. O inimigo é mais fácil de situar:partidos e Estados combatem-no e tendem a eliminá-lo, brutal ou pacificamente. Aquele que não é amigo nem inimigo de um dos sistemas em vigor ou da estrutura global da colectividade, aquele que não pode ser classificado segundo as rubricas políticas admitidas, mas que perscruta em profundidade o maciço social-político fortemente fissurado e as construções que o povoam, só pode ser sacrificado, duma ou de outra maneira. Ninguém deve fazer abalar ou desestabilizar o consenso geral e os desvios autorizados, que caracterizam os extremos, o centro, os sonhos anarquizantes. Aquele que ousa "atacar" todas as frentes sem excepção, desmantelar todos os poderes e seus funcionamentos, vê-se afastado. [...] O descodificador do político e das regras que o sustentam faz o seu trabalho porque o que se lhe impõe e o anima é mais forte do que o silêncio ou o discurso balofo. Toda a tradição ocidental - não parece que outras tradições escapem a este mesmo destino - , de Heraclito a Heidegger, não ousa pôr em questão os fundamentos e últimas consequências do conjunto no qual as diferentes épocas vivem e que é qualificado de política. Heraclito não ousa pôr em questão a polis e Heidegger fica à sombra do político e do Estado, o que não o impede de pertinentemente esclarecer não o Estado, mas a tecno-estrutura"
- Kostas Axelos (1924-2010), Cartas a um jovem pensador, Vila Nova de Gaia, Estratégias Criativas, 1997, pp.63-64.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

"A palavra sânscrita para crise é kri ou kir"



"A palavra sânscrita para crise é kri ou kir e significa "desembaraçar" (scatter, scattering), "purificar" (pouring out), "limpar". O português conservou ainda as palavras acrisolar e crisol que guardam a nítida reminiscência de sua origem sânscrita. A crise age como um crisol (elemento químico) que purifica o ouro das gangas; acrisola (purifica, limpa) dos elementos que se incrustaram num processo vital ou histórico e que foram ganhando com o tempo papel substantivo, foram-se absolutizando e tomando conta do cerne a ponto de comprometerem a substância. Crise designa o processo de purificação do cerne: o histórico-acidental, o que assumiu indevidamente papel principal, é relegado a sua função secundária, porém legítima como secundária e derivada. Depois de qualquer crise, seja corporal, psíquica, moral, seja interior e religiosa, o ser humano sai purificado, libertando forças para uma vida mais vigorosa e cheia de renovado sentido"
- Leonardo Boff, Crise - oportunidade de crescimento, Petrópolis, Vozes, 2010, p.27.

“There is a crack in everything / That's how the light gets in” [“Há uma fenda em tudo / É assim que a luz entra”] – Leonard Cohen



“There is a crack in everything / That's how the light gets in” [“Há uma fenda em tudo / É assim que a luz entra”] – Leonard Cohen, “Anthem”. O intervalo entre cada pensamento, por onde irrompe a luz do real; a via do meio entre os opostos, por onde estes se transcendem; o não eu nem tu, onde floresce o milagre do amor.
(para a Luísa)

"Não vos amarreis exclusivamente a nenhum credo em particular"



"Não vos amarreis exclusivamente a nenhum credo em particular, ao ponto de não acreditardes em todos os outros, pois perdereis muito do bem e não conseguireis reconhecer a verdadeira natureza das coisas. Deus, o omnipresente e o omnipotente, não é limitado por nenhum credo, porque diz: «Para onde quer que vos voltais, vereis a face de Alá». Todos louvam aquilo em que acreditam; o seu deus é o seu próprio ser e, ao louvá-lo, louvam-se a si próprios. Consequentemente censuram os credos dos outros, o que não fariam se fossem justos, mas a sua aversão resulta da ignorância"
- Ibn al-Arabi.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

"o pior de tudo é a ficção de que tudo tem um preço ou [...] de que o dinheiro é o mais alto de todos os valores"



"No mercado suprimem-se, por razões de ordem prática, inúmeras distinções qualitativas que são de importância vital para o homem e a sociedade [...]. Por isso mesmo é n'«O Mercado» que o domínio da quantidade festeja os seus maiores triunfos. Tudo se compara com tudo. Comparar as coisas significa atribuir-lhes um preço e possibilitar, desse modo, a troca de umas pelas outras. O pensamento económico, na medida em que se baseia no mercado, retira à vida toda a sua sacralidade, porque nada pode haver de sagrado em tudo que tem um preço [...].
[...] o pior de tudo, aquilo que é destrutivo da civilização, é a ficção de que tudo tem um preço ou, noutros termos, de que o dinheiro é o mais alto de todos os valores"

- E. F. Schumacher, Small is Beautiful (um estudo de economia em que as pessoas também contam), Lisboa, Dom Quixote, 1985, 2ª edição, p.43.