sábado, 9 de março de 2013

"[...] como esquecer que a Saudade segundo Pascoaes é a quinta-essência do erotismo?"

“Desta «Divina Saudade», menos entidade «metafísica» de nebuloso sentido que «Eva toda em flor – como esquecer que a Saudade segundo Pascoaes é a quinta-essência do erotismo? - , será o poema Marânus a epopeia elegíaca ou o romance metafísico e bucólico, hino incomparável à beleza terrestre confrontada com o tempo e a morte e vencendo-os do interior pela aspiração infinita de que é símbolo para o amante que a contempla, a cria e por ela é criado. […] Não há na nossa literatura poema mais perturbador e incandescente, poema do Desejo como forma da existência buscando desde a Origem novas formas para se encarnar em vão e nessa busca criando o que não existe e por fim o verbo escuro em que se redime da sua própria insatisfação. É a esse verbo escuro que Pascoaes chamou com nome nosso imemorial Saudade, pondo nele nova substância, a do mesmo Desejo transfigurado pela consciência da sua imperfeição divinamente criadora. Nunca esse verbo escuro resplandeceu nas trevas com mais luminosa evidência que nas páginas, hoje ainda como ocultas, deste canto único onde o Inferno e o Paraíso de que somos feitos misturam o seu fogo e a sua água eternos”

- Eduardo Lourenço, prefácio a Teixeira de Pascoaes, Marânus, Lisboa, Assírio & Alvim, 1990, p.XII.


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