"Se eu escrevesse um diário, registaria constantemente as seguintes palavras: «Tudo me é estranho, sinto-me fragmentado, sempre, sempre aquela "тоска" pelo outro, pelo que me transcende.» Toda a minha existência é "тоска" pelo transcendente." - Nicolai Berdiaev
Tоска, em cirílico - Toska, em latim, é uma palavra de origem eslava e significa dor, tristeza, inquietação, limitação, restrinção, inquietação. Talvez, de alguma forma, "toska" esteja relacionada com "saudade". Segundo Berdiaev, toska é um sentimento direccionado para o mundo transcendente e é acompanhado por um sentimento de vazio, insignificância, perecibilidade do mundo em que nos encontramos. Toska erradia a solidão sentida pelo homem face ao transcendente, solidão essa derivada da experiência da ausência do divino. Toska é um sentimento Entre pois jaz entre o abismo do não-ser (nada niilista) e o transcendente divino. Assim, se toska é desespero, toska também é esperança, salvação.
Tal como "toska", a "saudade" não tem origem nas línguas indo-europeias. Talvez a palavra sânscrita que mais se assemelhe a "toska" e a "saudade" seja "duhkha" que significa impermanência, transitório, dor física, insatisfação, medo, mal-estar, medo de perder, insegurança, estar dividido, partido ao meio, separado de algo.
O homem sente-se separado, fragmentado, só, angustiado, dividido. É a condição humana que toma consciência da sua perecibilidade. A morte. Todavia, esta consciência pode ser um catalizador para uma busca escatológica - Sehnsucht - a busca do Ser. Como buscar? Como encontrar um caminho para trilhar? Podem a religião, a arte, a ciência ou a filosofia encontrar soluções que apaziguem o sofrimento inerente à condição humana? Devemos crer ou ter fé? Devemos acreditar ou experenciar essa Saúde obscurecida que jaz em todos nós? Devemos saber ou saborear?
Crente é pouco sê-te Deus
e para o nada que é tudo
inventa caminhos teus
- Agostinho da Silva
1 comentário:
Muitíssimo interessante! Gostaria que escrevesse um artigo sobre esta questão para a ENTRE!
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