sexta-feira, 23 de outubro de 2009

“Como se pintar fosse um acto religioso, como se a pintura fosse concebida como memória, como se a memória fosse um manifesto poético” - Maria Gil, sobre a arte de José Ralha


Lembrando José Ralha, 
um dos que aqui está, ainda que nos não veja.



Fernando de Pessoa”, de José Ralha (1985)

Ainda a vida       

            A José Ralha,
poeta do, olhando, olhar alma 

In’pressiona, digi’tal, a bravura da grã
cerimónia à flor do elmo e d’armadura
– entre portas segredadas da alma
e aquela antimónia janela do corpo
que é véspera intérmina da batalha.

Alquímica, mercuriando a arte dos filósofos
plasma o artista nas cores, elementos
curiais de Amor, seu Senhor:
ofício maior da vida (morgano fado)
fechado a sete chaves por Maria.

Esperante do régio princípio
no retábulo da Pátria, o príncipe
de todos beija o todo em cada um
que sonha que não sonha: qual
metálica vigia do carro do triunfo.

Ao céu aberto da serrania do mundo,
no monte da lua, Cintra beija
ao fogo do secreto gotejo,
em amor perfeito, a tristeza álacre
e sacral do magno mistério -
Portugal: cerimonial de ciprestes d’algo.

* Poema inscrito no Livro de Honra por Donis de Frol Guilhade, aquando da exposição de José Ralha na Galeria Hexalfa, patente entre 4 de Maio e 5 de Junho de 2000, mostra subordinada ao tema “Da Divina Proporção”.


Até já, Mano!

2 comentários:

Paulo Borges disse...

Junto-me, em oração silenciosa, à evocação do Irmão Zé Ralha. Que repouse na Luz!

Anónimo disse...

São doze as faces do dodecaedro sobre o qual a folha em branco repousa. O sólido de Platão dos cinco pontos do Homem... Ao lado, o Graal de Magdala, Santo Espírito do Sangue Real... Como se fossem doze as faces dos que buscam o que a só Um é dado... em Espírito imaterial, Pomba.

O rosto tranquilo do poeta é a imagem que gostamos. A de repousado e tranquilo adormecer na Luz. Silenciamos.