مذكرات ثائرة:
. O blogue mais interessante da revolução egípcia: Aliaa Magda Elmahdy. Uma mulher criativa, com extraordinário sentido de beleza e da natureza dos 'blogues' e inteiramente livre.
quarta-feira, 20 de junho de 2012
«Fernando Pessoa leitor de Theodor Nöldeke. Notas sobre a recepção do elemento arábico-islâmico por Pessoa» (F. Boscaglia)
Fabrizio Boscaglia
(Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa)
Palavras-chave: Fernando Pessoa, biblioteca particular de Fernando Pessoa, Islão, António Mora, Theodor Nöldeke.
Os estudos sobre Fernando Pessoa concentram-se cada vez mais na análise do denso diálogo intertextual entre os documentos do espólio e da biblioteca particular do autor. Neste artigo é estudada em particular a relação entre alguns textos de Pessoa acerca da civilização arábico-islâmica e a leitura, por Pessoa, de um livro de Theodor Nöldeke, Sketches from Eastern History de 1892. São apresentadas notas de leitura sobre este livro, assim como as correspondências entre essas notas e textos pessoanos sobre sensacionismo e sobre neo-paganismo, datados por volta de 1916. É, deste modo, estudada a recepção do pensamento de Nöldeke na composição original de textos pessoanos sobre a civilização arábico-islâmica. São também apresentados e comentados outros documentos do espólio e da biblioteca particular de Fernando Pessoa, acerca do mesmo tema, e úteis na construção de um mapa intertextual que contribua para estudar a presença do elemento arábico-islâmico na obra e no pensamento de Pessoa.
O texto completo do artigo encontra-se para consulta e download gratuitos em
Pessoa Plural - Revista de Estudos Pessoanos, nº1, 2012, pp. 163-186.
Link para o artigo: aqui
Link para a revista: aqui
domingo, 10 de junho de 2012
A partir de hoje há Portugal (dos pequeninos) e há o Portugal dos Grandes, com um novo hino - 18h - Coreto do Jardim da Estrela
Hoje é o dia de um Novo Portugal! Celebremo-lo no Jardim da Estrela, em Lisboa, a partir das 18h. Juntem-se a nós nesta festa por uma nova ideia para Portugal e para os portugueses. E um Novo Portugal tem um novo hino. Vem ouvi-lo pela primeira vez ao vivo.
Aqui fica o programa completo.
18h – 19h00
Aula de yoga – Centro Sivananda
19h00-19h15
Meditação – Orientada por Paulo Borges – Círculo do Entre-Ser
19h20-19h25
Início – Apresentação do projecto do Portugal dos Grandes
19h25 – 19h30
A experiência do voluntariado – Nuno Jardim
19h35-19h40
Ecologia – Carlos Teixeira – A missão da Liga de Protecção da Natureza
19h45-19h50
SOS Animal – Sandra Cardoso - O desafio de fazer muito com pouco
19h55-20h00
Erva Daninha
Quinto Império – Declamação de poesia – Paula Lourinho
20h05-20h10
Miguel Real - A grandeza da literatura portuguesa de hoje
20h15-20h20
Pedro Valdiju - Portugal - O admirável mundo novo. Permacultura, comunidade e transição
20h25-20h30
Manuela Gonzaga - Tempo de sonhar. Do Cabo dos Medos ao Cabo da Boa Esperança
20h35-20h40
Orlando Figueiredo - O que andamos a fazer e como funcionamos
20h45-20h50
Carlos Ramos - Contribuições para um novo modelo económico-social
20h55-21h00
Inês Real - Estatuto jurídico dos animais
21h05-21h10
- Luís Teixeira – A importância do sistema eleitoral para o ecossistema político
21h15-21h35
- Paula Lourinho – Nevoeiro – Fernando Pessoa
- Exibição do Video e apresentação do Hino ao vivo
- Paulo Borges – Discurso de encerramento: Um novo desígnio nacional: perder o medo e estar na vanguarda da consciência ética integral
NO DIA DA NAÇÃO. AVISO AOS INCAUTOS:
Desde ontem que a polícia está na rua com os computadores e os cães. Ontem mesmo, a minha vizinha foi presa. Levaram-na para 500 km a sul. As cadeias da cidade estão cheias.
Ouvi dizer, que as pessoas são selecionadas por novos tipos de crime:
1- ala A para quem não paga as contas da EDP
2- ala B para quem não paga as contas da EPAL
3- ala C para quem não paga as contas da ZON, MEO, OPTIMUS, VODAFONE e TMN
4- ala D para quem, além de não pagar nada do acima referido, não foi às promoções do PINGO DOCE, no feriado
Para os que devem ao FISCO, no limite de 5000 euros, o governo arranjou um poço seco. Mergulha lá os prevaricadores, pois são elementos nocivos à sociedade.
Para os que devem milhões, o governo tem alguma maleabilidade e compreensão, convoca-os para uma reunião. Ninguém sabe o resultado.
Queria dar um passeio a Cascais, mas é arriscado.
Não paguei nenhuma das contas acima mencionada, não paguei o imposto automóvel, devo ao fisco porque me esqueci de informar que nada faturei no ano passado e esqueci-me que o 1º de Maio é dia obrigatório de ir ao supermercado.
Quando todo mundo estiver preso e as ruas deste país estiverem serenas e desertas, alguém em algum lugar que não cá gritará: Viva Portugal!
Desde ontem que a polícia está na rua com os computadores e os cães. Ontem mesmo, a minha vizinha foi presa. Levaram-na para 500 km a sul. As cadeias da cidade estão cheias.
Ouvi dizer, que as pessoas são selecionadas por novos tipos de crime:
1- ala A para quem não paga as contas da EDP
2- ala B para quem não paga as contas da EPAL
3- ala C para quem não paga as contas da ZON, MEO, OPTIMUS, VODAFONE e TMN
4- ala D para quem, além de não pagar nada do acima referido, não foi às promoções do PINGO DOCE, no feriado
Para os que devem ao FISCO, no limite de 5000 euros, o governo arranjou um poço seco. Mergulha lá os prevaricadores, pois são elementos nocivos à sociedade.
Para os que devem milhões, o governo tem alguma maleabilidade e compreensão, convoca-os para uma reunião. Ninguém sabe o resultado.
Queria dar um passeio a Cascais, mas é arriscado.
Não paguei nenhuma das contas acima mencionada, não paguei o imposto automóvel, devo ao fisco porque me esqueci de informar que nada faturei no ano passado e esqueci-me que o 1º de Maio é dia obrigatório de ir ao supermercado.
Quando todo mundo estiver preso e as ruas deste país estiverem serenas e desertas, alguém em algum lugar que não cá gritará: Viva Portugal!
sábado, 9 de junho de 2012
"Sobre o Diálogo Inter-Religioso", por Anselmo Borges
A questão do diálogo inter-religioso volta constantemente, também por causa da paz. Actualmente, a religião mais perseguida é o cristianismo.
Para esse diálogo, há pressupostos essenciais.
1. Religioso e Sagrado não se identificam. Trata-se de realidades distintas: religioso diz respeito ao pólo subjectivo, isto é, ao movimento de transcendimento e entrega confiada por parte das pessoas religiosas ao pólo objectivo, que é o Sagrado ou Mistério, a que todas as religiões estão referidas, configurando-o a seu modo.
2. Questão decisiva é a da revelação. A pergunta é: como sabem os crentes que Deus falou? Mediante certas características - por exemplo, a contingência radical, a morte e o protesto contra ela, a esperança para lá da morte, a exigência de sentido último -, a própria realidade, sempre ambígua, mostra-se ao crente co-implicando a Presença do Divino como seu fundamento e sentido últimos. Como escreve A. Torres Queiruga, "não se interpreta o mundo de uma determinada maneira porque se é crente ou ateu, mas é-se crente ou ateu porque a fé ou a não crença aparecem ao crente e ao ateu, respectivamente, como a melhor maneira de interpretar o mundo comum".
3. A leitura dos livros sagrados não pode ser de modo nenhum literal, mas histórico-crítica. Por outro lado, se toda a religião tem como ponto de partida e de "definição" esta pergunta essencial: o quê ou quem traz libertação e salvação?, a libertação-salvação total é que constitui o fio hermenêutico decisivo para a interpretação correcta dos livros sagrados na sua verdade final. Só a esta luz é que eles são verdadeiros.
4. Condição essencial para a paz é a separação da(s) Igreja(s) e do Estado. Só mediante a neutralidade religiosa do Estado, é possível a garantia da liberdade religiosa de todos os cidadãos sem discriminação. Mas a laicidade não significa de modo nenhum que o Estado e a(s) Igreja(s) não possam e devam colaborar.
O diálogo inter-religioso assenta em quatro pilares fundamentais.
1. Todas as religiões, desde que não só não se oponham ao Humanum, mas, pelo contrário, o afirmem e promovam, são reveladas e verdadeiras. Desde sempre Deus procura manifestar-se e comunicar-se a todos. Assim, em todas as religiões há presença de revelação e, portanto, de verdade e santidade. Precisamente porque todas são reveladas, mas no quadro de interpretações humanas, todas são também simultaneamente verdadeiras e falsas, precisando de autocrítica.
2. As religiões são manifestações e encarnações da relação de Deus com o homem e do homem com Deus. Elas estão referidas, isto é, em relação com o Absoluto, mas elas próprias não são o Absoluto. O Absoluto não pode ser possuído ou dominado pelo homem. Quando o homem fala de Deus, está sempre a falar do Deus dito por ele e não, embora referido a ele, do Deus em si mesmo.
3. Se as religiões não são o Absoluto, embora referidas a ele, as pessoas religiosas devem dialogar para melhor se aproximarem do Mistério divino absoluto já presente em cada religião, mas sempre transcendente a cada uma e a todas.
4. Paradoxalmente, o quarto pilar afirma que do diálogo inter-religioso fazem parte também os agnósticos e os ateus, pois o que, antes de mais, nos vincula a todos é a humanidade, concluindo-se, assim, que os agnósticos e os ateus são aqueles que, por estarem "de fora", talvez melhor possam aperceber-se da inumanidade, superstição e idolatria, que tantas vezes afectam as religiões históricas.
Antes de sermos crentes ou não crentes, estamos vinculados pela humanidade comum e é pela sua realização plena em todos os homens e mulheres que devemos estar unidos. Critério essencial da verdade de uma religião é, pois, o seu compromisso com os direitos humanos e a realização plena do ser humano. O respeito pelo outro, crente ou ateu, e a salvaguarda da criação, não são algo acrescentado à religião, mas suas exigências intrínsecas.
- Anselmo Borges
quinta-feira, 7 de junho de 2012
Esta noite, sentou-se a meu lado na sala de cinema, uma senhora de chapéu azul. Voltei-me impaciente para tentar perceber porque razão aquela personagem mostrava expectante entre o desejo de aplauso e a necessidade de privacidade.
Dei um toque disfarçadamente no cotovelo da minha vizinha. Olhou-me tranquila, a Rainha de Inglaterra.
Nada disto é inventado, pois foi tudo sonhado nesta noite que passou.
Antes de adormecer, ouvi o Passos Coelho dizer que estamos todos de parabéns.
A vida nesta terra, beira o cinza da passividade. A minha loucura casa-se com a noite. A rainha já vai ao cinema com a plebe.
quarta-feira, 6 de junho de 2012
Hoje, 18.30, "D. Sebastião e o Quinto Império em Fernando Pessoa"
Fernando Pessoa: Filosofia, Religião e Ciências do Psiquismo Humano (9ª Sessão)
A nona sessão do ciclo de conferências Fernando Pessoa: Filosofia, Religião e Ciências do Psiquismo Humano ocorrerá dia 6 de Junho de 2012, na Casa Fernando Pessoa.
A sessão tem início às 18h30 e conta com uma palestra de Paulo Borges intitulada:
D. Sebastião e o Quinto Império em Fernando Pessoa.
Convidamos todos os interessados a estarem presentes nesta sessão.
Organização: Paulo Borges, Nuno Ribeiro e Cláudia Souza.
domingo, 3 de junho de 2012
À porta do prédio, Helena espera-me, como sempre, com mais um poema.
- Vê lá, se gostas deste.. É o que ando a fazer agora. Não leias, se estás cansada, mas se queres esquecer o teu dia, embrenha-te nele. É o que ando a escrever. Não sei que horas são...
- Já passam das seis da manhã. Acho que vou ler depois de dormir...
Devolve-me um sorriso. Responde-me sempre assim. Ela é a minha vizinha do r/c. Não sei o que faz, para além dos poemas que me ofecere a cada manhã.
"Edito a vida de quem não tem vida, todos os dias", diz a caminho de sua casa.
Se Helena matasse o vizinho do segundo esquerdo, teria um editor. Seria notícia em todos jornais: “Poetisa estrangula vizinho, ao raiar da manhã...”. Em pouco tempo teria um livro publicado com todos os seus poemas. Tenho certeza que seria um best seller.
Augusto é um velho militar reformado. Toca uma corneta desafinada ao raiar de todas as manhãs. Helena está convencida que o homem terá sido galo numa vida passada.
Quando chove, a poeira vira lama. Na mesa da minha sala de jantar, amontoam-se fotografias. O passado ganha contornos de presente. Desenho com os dedos cada traço como se nesse gesto, a velhice fosse somente um breve pesadelo. Deixo que os espelhos ganhem pó e com o tempo se distraiam de mim.
Helena parece não ter idade. Enquanto envelheço a cada manhã, ela parece sempre a mesma com um sorriso que não consigo definir. Os seus poemas moram com as minhas fotos, como se fossem amantes inseparáveis.
Antes de me deitar, em vez de pedir a Deus desculpas por todos os meus pecados, leio. Os poemas de Helena são como a noite morna que aconchega meu corpo.
Dormir de dia, é como andar em contra-mão. O corpo pesa e reage descompassado.
Depois de um banho quente, sento-me a ler o poema de hoje:
“Tudo que nasce é gerado na sombra,
A morte acolhe a semente de uma nova vida”
Doce é esta dor que abraça o meu coração antes de adormecer. Um casal de grilos canta na minha janela.
- Vê lá, se gostas deste.. É o que ando a fazer agora. Não leias, se estás cansada, mas se queres esquecer o teu dia, embrenha-te nele. É o que ando a escrever. Não sei que horas são...
- Já passam das seis da manhã. Acho que vou ler depois de dormir...
Devolve-me um sorriso. Responde-me sempre assim. Ela é a minha vizinha do r/c. Não sei o que faz, para além dos poemas que me ofecere a cada manhã.
"Edito a vida de quem não tem vida, todos os dias", diz a caminho de sua casa.
Se Helena matasse o vizinho do segundo esquerdo, teria um editor. Seria notícia em todos jornais: “Poetisa estrangula vizinho, ao raiar da manhã...”. Em pouco tempo teria um livro publicado com todos os seus poemas. Tenho certeza que seria um best seller.
Augusto é um velho militar reformado. Toca uma corneta desafinada ao raiar de todas as manhãs. Helena está convencida que o homem terá sido galo numa vida passada.
Quando chove, a poeira vira lama. Na mesa da minha sala de jantar, amontoam-se fotografias. O passado ganha contornos de presente. Desenho com os dedos cada traço como se nesse gesto, a velhice fosse somente um breve pesadelo. Deixo que os espelhos ganhem pó e com o tempo se distraiam de mim.
Helena parece não ter idade. Enquanto envelheço a cada manhã, ela parece sempre a mesma com um sorriso que não consigo definir. Os seus poemas moram com as minhas fotos, como se fossem amantes inseparáveis.
Antes de me deitar, em vez de pedir a Deus desculpas por todos os meus pecados, leio. Os poemas de Helena são como a noite morna que aconchega meu corpo.
Dormir de dia, é como andar em contra-mão. O corpo pesa e reage descompassado.
Depois de um banho quente, sento-me a ler o poema de hoje:
“Tudo que nasce é gerado na sombra,
A morte acolhe a semente de uma nova vida”
Doce é esta dor que abraça o meu coração antes de adormecer. Um casal de grilos canta na minha janela.
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