segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Alfabeto vegetal




Alfabeto vegetal
(Dedicado a Inês Borges e a Paula Toscano)

As nervuras, as folhas e os veios
Do que à mais luminosa luz se mostra
É o que mais na sombra se desnuda e cala
Rosa entre todas és cega de ti
Em jardins de asas.

Entre rosas e rosas se ergue um muro
E o muro cheira a madressilva e a canela
E no desenho do muro um verso vegetal
Um rio de margem infinita e terna: árvore
Entre a rosa e a Rosa.

Entre mim e mim,
A forma aérea do vento: a árvore, a casa
A claridade de uma pedra acesa…
Uma palavra basta para incendiar o mundo
Nos lábios que tocam a beleza sublime
Do perfil de um mar adocicado e puro.

Uma lira a tocar dentro de um traço
Um gesto de quem desenha o universo
de um só único traço
Traça um rosto devoto, dedicado,
Como quem segue um labirinto em círculos
Que se completam em arcos
como um verso.

(Maria Sarmento)

3 comentários:

MUSICA ESCARLATE disse...

Maria, não tenho palavras para te agradecer a dedicatória deste "Alfabeto Vegetal", que é duma delicadeza subtil imensa, duma poética grandiosa, que a tua Alma generosa me ofertou. Foi uma surpresa imensa ver o teu poema sugir a partir dum post Caligráfico, ilustrativo dum alfabeto Vegetal, creio que no Facebook. E, ver a evolução deste texto que foste tecendo ao longo do tempo, como uma tecelã mistica, trouxe-me a rosa...as Rosas. Beijo no teu coração Maria.

Isabel Metello disse...

Tb adorei, lindo, Maria! Abraço

Anónimo disse...

O silêncio mais sopra entre as brisas das árvores, mais fundo cala a voz do vento do que o bordado das palavras. Uma palavra nada diz das rosas. Seria preciso o aroma dos frutos e do Silêncio que fala o seu Mistério, nas noites em que o som do mar bate nas janelas da alma e o rumor da voz é ante-visão da Voz que não sei ainda "ler", mas aprendo convosco. Sou uma aprendiz dos sons e de tudo o que ilumina as rosas. Um jardim abandonado e muito atento ao que vem, se vier, que já veio. Saiba-o eu guardar nas vossas mãos confiada.
Grata pelas vossas palavras e comentário. O que é oferecido não é meu, é vosso, e não é para agradecer.
Abraço.