domingo, 26 de dezembro de 2010

Universalismo, nacionalismo, patriotismo

Do mesmo modo que o universalismo engrandece os homens e as nações, assim o nacionalismo e o patriotismo estreito os apequenam. Não podes prestar um bom serviço à tua nação, se não cuidares o bem da humanidade e do mundo.

4 comentários:

Luiz Pires dos Reys disse...

Hoje, como ontem, talvez haja algum perigo em hipostasiar-se certos -ismos – em detrimento, ou não, dos seus contrários.

Um -ismo, qualquer que ele seja, é sempre um Ismo: uma abstração bem intencionada, por certo, mas quase uma vacuidade intelectiva que se pode encher a contento das circunstâncias e das conveniências. Ainda que pelas causas, razões ou fins mais nobres. Isso não está em discussão, pois isso simplesmente não é discutível.

Mas, pergunto: porque há-de ser o uni-versal preferível ao pluri- ou multi-versal, se hoje a ciência (que vale o que vale, e vale pouco) nos apresenta tu-cá-tu-lá multi-(uni)versos "paralelos", como dimensões cuja "intersecção" teria provocado aquilo a que temos chamado BigBang?

Porque não então um BigBanguismo, um multiversalismo, um terraquialismo, ou um vialacteanismo?

Por outro lado, talvez não se trate tanto de prestar serviço (bom ou mau) a uma qualquer outra abstracção em queda de moda (como a Nação, a Pátria ou a até "a Europa"), mas de... servir.
"Tout-court".

E servir é provavelmente um "ser-vir" que é, pois, puro efluir de si, sem destinatário - abstracto ou sequer concreto. E sem-porquê e sem para-quê. Ou haverá um porquê para sermos o que somos "para" ser? E precisaremos de um para-quê que nos motive a que sejamos o que somos "para" ser? Creio que não.

Pois não há valores maiores e mais elevados do que os outros, e muito menos coisas, seres ou causas mais válidas do que outras.

A natureza (e o cosmos) é sem ética e sem moral: não conhece o "bem" ou o "mal". Crowley, "a Besta" e "o Cristo" (se devidamente despojado dos bafientos atavios com que o maquilharam séculos de sotainas e de cúrias) também implicitamente o disseram.

Convenhamos: um ditame (seja ele qual for) é sempre uma pequena (auto-)"ditadura". Logo, uma subtil "escravidão", ilusória e vergonhosamente tida por liberdade.

Tal como Entr-ismo, aliás: que, aqui, e ali e além, (quase) não ata nem desata!

(Cortem a fitinha do "ser-bonzinho e ser-visto-a-sê-lo"!
Se a vemos nos outros é porque está mais bem agarrado a nós)


"Outros haverão de ter
o que houvermos de perder"
(F.Pessoa, "Mensagem", Os Colombos)


P.S.
Deixo aqui Nietzsche, para meu próprio proveito, e de quem outro tanto:


"No homem, é ainda o mal a melhor energia. O homem deve tornar-se, a um tempo, melhor e pior.[...] O pior mal é indispensável ao bem."

(Friedrich Nietzsche, "Assim falou Zaratustra”, III, Do homem superior, 5)

Anónimo disse...

ui... essa do-eu

Paulo Borges disse...

O que aprendo e experimento é que só se transcende o bem e o mal quando se visa o bem de todos os seres, que em última instância é o de nos libertarmos de qualquer conceito e finalidade, incluindo o de "seres" e "bem"... Somente isto faz-se/experimenta-se mais do que se diz e, se se diz, que se diga onde e a quem possa ser compreensível e proveitoso: questão de "meios hábeis" e de sábia compaixão. Todas as palavras são mentira, mas a verdade reside em dizer a mentira certa à pessoa certa no momento certo. De outro modo, falamos apenas para nós, ou seja, para ninguém.

Luiz Pires dos Reys disse...

Concordo com a pescadinha-de-rabo-na boca raciocinante.

Mas também concordo com:

1. o tirar-lhe a boca do rabo (para não se "viciar" nisso, e supor que é "essência" o que é apenas postura de condicionamento)

2. o tirar este daquela (para não imaginar que é fim o que é sequer sem princípio).

Diz-se (talvez bem): "Todas as palavras são mentira, mas a verdade reside em dizer a mentira certa à pessoa certa no momento certo."
Mas haverá quem diga que mentir reside em dizer a verdade sempre incerta à pessoa por certo incerta no momento certamente incerto.
É igual!

Todas as palavras que cuidam de "residir em" são simples "ex-plicação" do mundo; logo, mentem (muito sofisticadamente) a si mesmas. Por isso, tenho a vivisecção e a poesia por mais "verdadeiras", perdão, "honestas".

Mas isso de "a verdade reside em dizer a mentira certa à pessoa certa no momento certo" parece-me também "suicídio ritual" e incruento de um pobre e desconfortável docente, pela própria impossibilidade de sê-lo.

(Ele próprio, é bem sabido, está careca de sabê-lo: talvez por isso está efectivamente... careca! Eu também, mas por outra razão: a de ter a razão de não tê-la. Manias!)

Como é difícil a vida neste quintal da lusosanfona!

Diz-se ainda:
"De outro modo, falamos apenas para nós, ou seja, para ninguém."

Eu, cá por mim, acho melhor falarmos para nós, mesmo: para mim, portanto, no caso. Já tive a minha dose de homilias: de mudo para surdos - que se pensam, uns e outros, o contrário disso.

Resultado: acabei foi gago! De tanta prédica de ser voz daquilo que a não tem.

Só falando assim (para mim, e só: estou a falar "para mim", aqui) acho provável "dizer a mentira certa à pessoa certa no momento certo": eu mesmo! (É "bonito" isto, da parte do MeTheOros!)

Nos restantes casos, andaria a "recrutar"(-me) para causas que são apenas para efeitos, mas não me põem a mim (nem a ninguém, aliás) em causa. Que não sejam "os outros", os que "não têm razão".

Está-se (como se diz) cheio de razão, numa causa!
Ora bolas! Eu não quero estar cheio de razão: estou cheio (de está-lo)!

É (re)confortável compadecer-me de "todos os seres", coisa que parece de, no mínimo, difícil abrangência.

O problema é que o resto é "só" activismo (para quando um "apatheísmo"?), que "mobiliza" (ok!) , "mexe" (ok!), "incomoda" (ok!) e "altera" (ok!) o estado "de" coisas, mas não "as" próprias coisas, e o estado "das" coisas: não ok!

Pode-se imenso "fazer coisas" (e é bom fazer coisas), mas as coisas acabam, elas sim, por fazer-nos a nós. Não quero!!

Para já não falar dos efeitos colaterais, tipo "ui... essa do-eu!"


P.S.
Lembram-se do "abrac-ismo", há uns tempos atrás? Andava tudo aos abracinhos. Humm...?!
Nunca mais se ouviu falar. Era uma "causa" gira, mas... acho que perdeu os "braços para andar"!
Mais uma "causa" que ficou pelo caminho: dos "efeitos" (não muito especiais).

Bem, e agora vou-me embora, que tenho de ir compadecer-me um bocadicho de mim mesmo (também tenho direito, não tenho?), e depois vou dar-me um abracinho, e tratar de sobreviver a esta lusa "tourada" em que nos atolamos tão branda e miseramente!

(Se eu não disser mais nada, entretanto, é porque alguém me enfiou a boca no ... rabo!!) :)))