"[...] pouco se fez quanto a teologia do Espírito Santo, em si própria, e nas ligações que parecem existir com atitudes como as do Tao ou as do Zen; talvez, neste ponto, o puro estudo teológico levasse a entender melhor a facilidade e a fecundidade das ligações dos portugueses dos Descobrimentos com as civilizações do Oriente e desse a base de partida para que realmente se unissem as duas formas de comportamento no mundo"
– Agostinho da Silva, “Notas para uma posição ideológica e pragmática da Universidade de Brasília” [1964-1965], in Dispersos, p.245.
1 comentário:
Eu creio que "para que realmente se [unam] as duas formas de comportamento no mundo", como diz Agostinho da Silva, não será o que "quanto a teologia do Espírito Santo" se fez ou "faça de estudo teológico" do Espírito Santo, que mais importa.
O Espírito Santo (ou outro) não se deixa "estudar", pois é intrinsecamente fugidio à posse que o teologizar ou algum inteligir sempre implicam, pois ele ou Ele - são, no limite, o mesmo- é antes o que está entre os fios dum tecido, do que a sua tessitura; é antes o co-nex(ã)o que há entre algo e alguma coisa do que a ligação que nisso se estabeleça; é antes o corte duma paradoxal e incompreensível lâmina sem espessura, que corta os cortes entre as coisas e os seres, do que a espessura duma lâmina que estabelece fronteiras, ainda quando de diálogo, de boa co-existência ou até de união.
Importa pois, quanto a isto, sobretudo o que se faça em nós mesmos, no pormos em relação de equilíbrio as duas metades do cérebro, no sentido de dar harmonia ao uso desproporcionado
(eu ia a dizer, des-propositado) de uma das metades em detrimento da outra. É isso que - seja a ocidente, seja a oriente - nos particulariza, de-fine e de-limita por igual.
Feito isso, em nós, será indiferente chamá-lo Espírito Santo, Tao, Zen, ou o que seja.
Pois não serão "atitudes", e seu intrínseco limite e perfil, mas um estar de haver ser que é um haver estar sendo para um ser de estar havendo.
Fica-nos, e bem, o sempre desafio de "entender melhor a facilidade e a fecundidade das ligações dos portugueses": as dos Descobrimentos que houve (por igual, a Oriente e a Ocidente, é bom lembrar) ou as dos ainda a haver por toda a parte - e sobremaneira dentro de nós.
O equilíbrio e harmonia entre as duas "metades" de/em nós acarretarão plasmação de equilíbrio e harmonia onde quer que estejamos.
Aí, não seremos já lugar de estudo teológico algum, mas talvez sejamos lugar de um qualquer caso de estudo. Como Agostinho da Silva, aliás.
Enviar um comentário