terça-feira, 26 de outubro de 2010

"[...] embarcar, embarcar sempre, acreditando cada vez menos nos portos de chegada"

"Já você outro dia se revoltou perante o meu prazer de embarcar, embarcar sempre, acreditando cada vez menos nos portos de chegada; […] continuo […] a ter como mais firme dentro em mim a aspiração de que um atinja o heroísmo de me atirar a todas as batalhas em que não haja esperança de vitória. […] Não me tentam nada as estradas que vão de um ponto a outro, de que sabemos, à partida, a quilometragem e a direcção; tentam-me as estradas que não vão dar a nenhum ponto. […]
[…] embarcar num navio que nunca chegará, rumar por mapa e bússola ou goniómetro para o porto que não existe"

- Agostinho da Silva, Sete Cartas a um Jovem Filósofo [1945], in Textos e Ensaios Filosóficos I, pp.246-247.

5 comentários:

Paulo Borges disse...

Navegar é preciso, viver não é preciso.

Anónimo disse...

"Navegar é preciso, viver não é preciso." Faço eco dessas palavras, Paulo, não interessa aonde se vai, a que porto. É na viagem sem rumo certo que chegamos ao porto que não existe.
Grande, imenso Agostinho!

Calada desde sempre disse...

Já andaram à deriva ou só gostam de literatura?

Anónimo disse...

uem me dera ue a deriva dos dias fosse rumo e nau de um embarque para nenhures, de um embarque para uma ilha ainda e sempre a receber a nenhuma rota a que nos deixamos aportar. A bússola somos nós e o desnorte também.

Anónimo disse...

Estão-me a faltar os "qq´s" não os ventos e as marés.
:)
Pois a maré a que nos fazemos não importa, pois que importa mais do que viver, navegar, mais do que literariamente, fazendo-nos caminho, sem quê e sem porquê. Não importa, na verdade a chegada, mas a navegar à bolina da Saudade...