"Cada religião é a única verdadeira, ou seja, no momento em que nela pensamos é necessário prestar-lhe tamanha atenção como se não houvesse outra coisa; do mesmo modo cada paisagem, cada quadro, cada poema, etc., é o único que é belo. A "síntese" das religiões implica uma qualidade de atenção inferior"
- Simone Weil, Cahier VI, Oeuvres, Paris, Gallimard, 1999, p.848.
Não posso deixar de fazer deste reparo um reparo às tendências sincretistas de algum Fernando Pessoa e de algum Agostinho da Silva, que passa a meio caminho entre elas e o fundamentalismo dogmático da crença numa única religião verdadeira. Não parece possível seguir uma qualquer via religiosa ou mesmo espiritual sem uma dedicação e concentração totais, sabendo e aceitando ao mesmo tempo que outros podem e devem fazer o mesmo com outras vias religiosas e espirituais. Isto é algo a não esquecer no actual diálogo inter-religioso, que muitas vezes tende aos sincretismos fáceis e moles.
6 comentários:
Fernando Pessoa e Agostinho da Silva eram, como bons portugueses, múltiplos. Nessa multiplicidade, julgo que souberam ser inteligentemente coerentes na dedicação total a uma espiritualidade em que se pode observar algum sincretismo.
Também concordo que deva haver uma total atenção e dedicação a um percurso espiritual sumamente íntegro, mas não considero as tendências sincretistas destes dois grandes mestres portugueses como perniciosas logo à partida. Acho que essas tendências devem ser compreendidas às luz da multiplicidade heteronímica e das características peculiares do ser português, merecendo, por isso, alguma atenção da nossa parte.
Por outro lado, é bem sabido que a segurança e o conforto ilusórios que muitos seguidores sentem por pertencerem a uma determinada religião promovem, igualmente, muita "moleza" e superficialidade, o que também deveria ser tido em conta no diálogo inter-religioso.
Estou de acordo, caro João, que o sincretismo pessoano e agostiniano são muito interessantes, mas exigem um grande discernimento e evolução interior que não é imediatamente acessível a todos... Quanto à segurança e conforto ilusórios das religiões e vias espirituais, isso é bem verdadeiro! As mais autênticas são as que iniciaticamente se deconstroem.
Estou plenamente de acordo com tudo o que dizes, Paulo. Sem dúvida que o sincretismo pessoano e agostiniano exigem um profundo discernimento.
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