Na densa névoa
Que está a ser gritado
Entre colina e barco?
Haiku (Yugen)
Os nossos olhos só vêem
o enfolar das ondas
e não a força que as eleva.
Raça infeliz
de memória perdida
no imenso cone do tempo.
(Maria Sarmento, Memória das Naus, Arion, 1999)
4 comentários:
Não referi a fonte da imagem. Ela é da "autoria" da minha primeira - e creio que última - máquina fotográfica!
Desconfio...
Maria, continue!
A fotografia está muito bonita; encerra no instantâneo todo o movimento que a compõe. Nada nela é imóvel.
O que o poema afirma , mais que concordo, e pergunto-me, que força plural será ou terá sido essa? Esse conjunto de forças invisíveis que sucumbem e se mutam ao espraiar de uma onda... carcaças das faluas soedadas nos lodos do progresso...
Bom,
Um abraço, gostei muito!
Observando com mais atenção... nada está parado, e muito menos o olhar.
O olhar fita para além do movimento estático. A cor.
Bom, Rui, pelo meu olhar o Rui espreitou. Isso eu vi, no instante.
Sim. Uma poderosa força nos eleva em grito. Quem sabe esse grito para dentro é uma força invisível que acontece na existência, no tempo.
Tempo é existência.
Um abraço e um estreitar de mão.
"Voltas (em falsos haikai) a Yugen e Sarmento"
grito
entre barco e névoa:
densa a colina
gaivota que estaca
âncora mútua
espelho líquido: um voo
Bom dia, Maria: navegando-se memória e murmúrios.
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