terça-feira, 29 de junho de 2010

Nada é o bastante
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na matemática dos loucos 2 + 2 = Àrvore
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qualquer rio tem horas que é mar
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na cabeça o chapéu, na mão uma luva, no nariz os óculos, e na boca as palavras
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para quando homens a emergir da terra com o aspecto de uma acácia?
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quando pensas que pensas, um grito abre um caminho em dois
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deixa que o azul te condene
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para sempre filhos de pais que foram filhos de pais
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é inútil falar-se de utilidade em tempos de aves
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até quando o sol quiser
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pega num copo pela asa, e voa
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aclara a água nocturna com pequenos grandes poemas, opera o corpo com linhas musicais e torna-te Daniel Faria
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aqui andamos, aqui vamos nós ao nosso encontro
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invísivel é a costela que nos pariu!
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Próspero Morreu

"Sem Liberdade é o poder um monstro
de braços bifurcados e língua bifurcada
onde se alojam leis sem pensamento
e se torna viscoso o coração".

Aviso de Ariel, "ser vindo do caos e do abismo".

In "Próspero Morreu", Leitura encenada de Ana Luísa Amaral, na Biblioteca Municipal Almeida Garrett ( 19 Junho 2010).

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Incendeia o Coração das Pedras
e arde como um Lírio numa extensa Sombra
Lembra-te que:
nunca uma geometria dará o Gosto ao Vinho!

Dois patriotismos

Há dois patriotismos. Um é o dos que colocam as coisas nacionais acima das outras só porque são as "suas", ignorando ou desvalorizando os demais povos, nações, línguas e culturas. É um nacionalismo encoberto, uma "xenofobia politicamente correcta", como disse alguém, e um egocentrismo projectado no colectivo, que estreita a inteligência e o coração e só tem trazido violência e dor ao mundo.

Outro é o patriotismo daqueles que, desejando o melhor para a sua nação, ou seja, o que torne os seus concidadãos pessoas melhores e mais felizes, valorizam nela o que for bom, mas não se demitem de a criticar e tentar purificá-la dos seus erros e vícios. Para esse efeito, interessam-se pelo que houver de melhor em todas as nações, povos e culturas, procurando promovê-lo e adaptá-lo na sua própria nação. Este é o patriotismo universalista que defendo no meu livro Uma Visão Armilar do Mundo e que encontro, em Portugal, esboçado no Padre António Vieira e florescente em Fernando Pessoa e Agostinho da Silva.

Só este faz hoje e sempre sentido. Sobretudo hoje, em que as nações são multiculturais e se procura um novo paradigma para um presente e um futuro de paz e consciência global.

sábado, 26 de junho de 2010

Carta aberta de Vicente Jorge Silva ao Presidente da República sobre a sua ausência no funeral de José Saramago

Senhor Presidente,
Li os motivos que invocou para desculpar--se de não estar presente, enquanto Presidente da República, no funeral de José Saramago, o único Prémio Nobel da Literatura de língua portuguesa. Estava nos Açores com a sua família, cumprindo uma promessa antiga, para mostrar-lhes a beleza insular. E adiantou que as cerimónias fúnebres envolveriam, essencialmente, amigos e conhecidos do escritor e não estranhos, como o senhor. Só que o senhor era, é, Presidente da República.
A explicação é confrangedora e diz muito sobre a forma como entende a sua função institucional. Mas diz ainda outra coisa, sobre algo mais tortuoso, que tem a ver com o carácter das pessoas e se traduz no recurso a justificações hipócritas. Que conste, os Açores não estão tão distantes de Portugal Continental como os Himalaias e nada teria impedido que, recorrendo a um avião da Força Aérea, por exemplo, o senhor tivesse interrompido a digressão familiar para estar presente no funeral de um português galardoado com o Prémio Nobel.
Não é plausível que os membros da sua família tivessem ficado irreparavelmente desamparados com a sua partida súbita do território açoriano e não compreendessem as superiores razões de Estado que determinavam a deslocação a Lisboa. Mas o pior não é isso: é o facto de o senhor considerar que o funeral do único Prémio Nobel português, exceptuando o já longínquo Egas Moniz, seria uma cerimónia que dispensaria a presença do Presidente da República e se iria restringir a uma cerimónia com amigos e conhecidos.
A sua ausência e a da segunda figura do Estado, o presidente da Assembleia da República, logo por acaso também em férias nos Açores, constituem um símbolo da nossa pequenez institucional, quando estava em causa a representação do país na última homenagem a um português que, goste-se ou não dele, era dos mais ilustres e consagrados internacionalmente. Em nenhum outro Estado europeu uma tal ligeireza, uma tal mesquinhez, seriam concebíveis.
Se ser Presidente da República serve para alguma coisa – e já parece duvidoso que sirva, além de poder dissolver o Parlamento ou enviar recados mais ou menos ínvios ao Governo em funções –, uma delas é o cumprimento do dever cerimonial de representar o Estado quando a imagem e o prestígio do país estão em causa. Isso tem de estar acima das divergências e conflitos políticos, de opinião ou de natureza pessoal.
É a capacidade de perceber e fazer essa diferença que enobrece e justifica o papel de Presidente da República – o qual, segundo a fórmula eternamente repetida, tantas vezes com requintes de hipocrisia, é o Presidente de todos os portugueses (mesmo daqueles com quem possa divergir radicalmente). Se ser Presidente da República não chega sequer para estar presente no funeral do único Prémio Nobel da Literatura de nacionalidade portuguesa, para que serve, então?
Saramago estava muito longe de ser uma figura consensual – quer no plano literário, quer sobretudo no plano político e das ideias. Pelo contrário, cultivava frequentemente, sobretudo desde a sua ‘nobelização’, uma sobranceria, uma prosápia e uma vaidade tão desmedidas que chegavam a ser patéticas e suscitavam uma compreensível aversão. O seu facciosismo ideológico, o proselitismo obsessivo de alguns dos seus livros e o papel que teve, como jornalista, durante o PREC, motivaram múltiplas razões de antagonismo, das quais pessoalmente partilho.
Mas Saramago era, apesar disso e contra isso, um imenso escritor, com uma formidável irradiação em todo o mundo e a quem devemos algumas das páginas mais admiráveis escritas em português no último século. Um romance como O Ano da Morte de Ricardo Reis é, sem sombra de dúvida, um dos maiores da literatura portuguesa de todos os tempos, um livro cuja magia ainda hoje nos deslumbra – e supera todas as reservas levantadas pela personalidade humana, política e até literária do seu autor.
Apenas os cegos incuráveis – bem mais cegos do que Saramago terá sido ideologicamente – e os medíocres mais desprezíveis se atrevem a negar estas evidências. Aliás, a intolerância política a que associamos Saramago revela-se quase inócua ao voltarmos a verificar, por ocasião da sua morte, o ódio furibundo que alguns dos seus inimigos lhe votavam, na miserável incapacidade de reconhecer a grandeza literária do escritor.
Um dos seus governos, nos tempos em foi primeiro-ministro, distinguiu--se pela vergonha inédita em democracia de ter censurado um livro de Saramago, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, impedindo-o de concorrer a um prémio internacional e invocando, para isso, a doutrina mais toscamente inquisitorial contra a liberdade de expressão e criação literária. Um subsecretário de Estado da Cultura (!), que se distinguiu pelo analfabetismo mais boçal e o fanatismo das suas crenças religiosas, foi o autor do crime. Mas quer o senhor, como chefe do Governo, quer o secretário de Estado que tutelava directamente o ridículo censor de opereta, deixaram que esse crime cultural se consumasse. Foi um sinal de que o senhor, agora Presidente da República, não estava à altura de zelar pelo património mais precioso de uma nação: a sua Cultura.
Teve agora a oportunidade de reparar simbolicamente a falta, mas não o fez. Afinal, a sua ausência do funeral de Saramago acaba por ser a confirmação – que uma mensagem de condolências não chega para disfarçar – da sua incapacidade de ultrapassar uma visão estreitamente economicista e contabilística do país.
Temeu desagradar novamente às clientelas católicas mais conservadoras que o tinham criticado pela promulgação da lei do ‘casamento gay’. Mostrou o entendimento minúsculo – como disse um comentador de direita, Abreu Amorim – que tem do seu cargo: o de «um homem minúsculo que não foi capaz de um gesto de grandeza institucional».

O que estamos a fazer? O que nos espera?

"Porque é amor que quero e não sacrifício, / conhecimento de Deus mais do que holocaustos" - Oséias, 6:6. Porém são sacrifícios e holocausto, de animais, homens e natureza, que por todo o planeta se praticam. O que estamos a fazer? O que nos espera?

sexta-feira, 25 de junho de 2010

MARATONA DE LEITURA NA CASA FERNANDO PESSOA EM HOMENAGEM A SARAMAGO


A maratona de leitura tem inicio marcado para o meio-dia, na Casa Fernando Pessoa , em Lisboa, e deve durar mais de 14 horas e prolongar-se pela madrugada de sábado, assinala o sétimo dia sobre a morte do Nobel da Literatura José Saramago.


"O Ano da Morte de Ricardo Reis" é o romance que começa a ser lido ao meio dia de hoje pela viúva do escritor, a espanhola Pilar del Rio, na Casa Fernando Pessoa, que promove a homenagem ao autor falecido dia 18 na sua casa na ilha espanhola de Lanzarote.
O tempo médio para ler uma página é de minuto e meio, pelo que a leitura da obra de 582 páginas deverá arrastar-se pelo menos até às 2h00 de sábado, de acordo com dados disponibilizados à agência Lusa pela diretora da Casa Fernando Pessoa, a escritora Inês Pedrosa.

Na leitura colaborarão várias personalidades, entre as quais António Mega Ferreira, Leonor Xavier, José Mário Silva, José Luís Peixoto e Gonçalo M. Tavares, mas a sessão é aberta à colaboração do público.

"Foi um impulso que tive para assinalar o sétimo dia da morte de José Saramago e achei que fazia sentido fazê-lo com uma maratona de leitura de 'O ano da morte de Ricardo Reis', uma vez que é uma obra que tem diretamente a ver com Pessoa", disse Inês Pedrosa à Lusa.

Leitura em lugar de missa

"Habitualmente, o sétimo dia da morte das pessoas é assinalado com uma missa, mas, como Saramago não era crente, achei que a melhor homenagem que lhe podíamos prestar era lendo a obra dele", acrescentou.

Antes desta maratona, a Casa Fernando Pessoa já promoveu outra, de "As memórias póstumas de Brás Cubas", de Machado do Assis, em 2008, para assinalar o centenário da morte do escritor brasileiro.

A escritora disse ainda que já tinha pensado realizar esta maratona em vida de José Saramago, o que não foi possível devido "à muito preenchida agenda do escritor e à sua fragilidade física e de saúde nos últimos tempos".

O escritor será também recordado em novembro próximo quando a instituição dirigida por Inês Pedrosa promover o II segundo congresso internacional sobre Fernando Pessoa, revelou.

*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Consumo de carne/fome no mundo:dados para o debate de 5ª feira, 24, 18.30, com o Dr. Fernando Nobre, no Anf. IV da Fac. de Letras da Univ. de Lisboa

"Oito por cento do milho e noventa e cinco por cento da aveia colhidos nos Estados Unidos destinam-se a alimentar animais criados por seres humanos para sua alimentação. [...] No mundo inteiro, o gado consome uma quantidade de alimento equivalente às necessidades calóricas de 8,7 bilhões de pessoas, mais do que a população humana total da Terra.

Muita gente está morrendo de fome no mundo. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) informa que todos os dias morrem 40 000 crianças de subnutrição. Enquanto isso, muita gente come demais no Ocidente. [...] Um economista francês disse-me certa vez que, se os países ocidentais reduzissem pela metade o seu consumo de carne e álcool, resolveríamos o problema da fome no mundo.

Quanto ao impacto ambiental da produção de carne nos Estados Unidos, o Emory College diz o seguinte:

. Terra: do total de terra agricultável nos EUA, 87% são utilizados para a criação de animais para consumo. Isso equivale a 45% do território do país.
. Água: mais da metade do consumo total de água nos EUA destina-se à criação de animais para alimentação. A produção de um quilo de carne demanda 18 000 litros de água. Para se produzir um quilo de trigo são precisos 180 litros de água. Isto é, cem vezes menos. Uma dieta totalmente vegetariana consome 1000 litros de água por dia, ao passo que uma dieta à base de carne requer 14500 litros por dia.

. Poluição: a criação de animais para consumo humano causa mais poluição de água nos Estados Unidos do que qualquer outra atividade industrial. Os animais criados para esse fim produzem uma quantidade de excremento 130 vezes maior que a de toda a população humana, algo como 40 000 quilos por segundo. Grande parte dos detritos de granjas industriais e matadouros é vazada em córregos e rios, contaminando fontes hídricas.

. Desmatamento: cada vegetariano poupa quase meio hectare de árvores por ano. Mais de 100 milhões de hectares de florestas já foram desmatados nos Estados Unidos para dar lugar a pastagens que alimentam gado de corte. A cada vinte segundos desaparece um hectare de árvores. As florestas tropicais estão sendo destruídas para abrir pastagens para gado. Para produzir apenas um hamburguer podem ter sido desmatados quase cinco metros quadrados de floresta tropical.

As florestas são nossos pulmões. Elas nos fornecem oxigênio e protegem nosso meio ambiente. Quando comemos carne, estamos destruindo as florestas e, portanto, estamos comendo a carne da nossa Terra Mãe. Todos nós, inclusive as crianças, podemos perceber o sofrimento dos animais criados para produzir alimento. Podemos optar por comer conscientemente e proteger a felicidade e a vida das espécies que nos acompanham e da própria Terra Mãe"

- Thich Nhat Hanh, Serenando a Mente, Petrópolis, Vozes, 2007, pp.65-67.

Uma organização da revista Cultura ENTRE Culturas, com o apoio do Partido Pelos Animais e do Movimento Outro Portugal.

O Oriente e o Budismo em Antero, Sérgio e Agostinho da Silva




No próximo dia 24 de Junho (quinta-feira), pelas 17h, no Anfiteatro II (2) da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Romana Valente Pinho e Amon Pinho darão duas prelecções sobre os seguintes temas: "O Oriente e o legado de Antero de Quental no Pensamento de António Sérgio" e "Da interpretação niilista de O Budismo ao Buda-Dharma e ao universalismo, percursos de Agostinho da Silva". Estas prelecções inserem-se no âmbito do curso de Filosofia e Estudos Orientais. A entrada é livre.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Na casa do poeta o silêncio é a mulher-a-dias
e o poema é a Vida, a sempre e interna Vida
Alguns dados para o debate de 5a feira, 24, às 18.30, com o Dr. Fernando Nobre, no Anf. IV da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, extraídos do Livro Verde do Emory College, 2003: "8% do milho e 95% da aveia colhidos nos EUA destinam-se a alimentar animais criados por seres humanos para sua alimentação. (...) No mundo inteiro, o gado consome uma quantidade de alimento equivalente às necessidades calóricas de 8,7 biliões de pessoas, mais do que a população total da Terra" - Thich Nath Hahn.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Que é o homem?

"Se, de chofre e à queima-roupa, me desfechassem a mais preocupante, a mais inquietante de todas as questões: "Que é o homem?", creio que responderia com desassombro e sem hesitação: "O homem é o animal que se recusa a aceitar o que gratuitamente lhe deram e gratuitamente lhe dão" .

- Eudoro de Sousa, Mitologia, in Mitologia. História e Mito, Lisboa, INCM, 2004, p.27.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Debate público com o Dr. Fernando Nobre sobre ecologia, direitos dos animais, consumo de carne e fome no mundo



O Dr. Fernando Nobre, enquanto candidato à Presidência da República, exporá as suas posições sobre a questão ecológica, os direitos dos animais, o consumo de carne e a fome no mundo, num debate público que terá lugar no dia 24 de Junho, 5ª feira, às 18.30, no Anfiteatro IV da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

O moderador será Paulo Borges e a organização é da revista Cultura ENTRE Culturas, com o apoio do Movimento Outro Portugal (Manifesto Refundar Portugal) e do Partido Pelos Animais. Serão dirigidos convites aos demais candidatos para debater as mesmas questões.

A revista Cultura ENTRE Culturas agradece ao Dr. Fernando Nobre haver aceitado o convite para debater publicamente estas questões, de crucial importância no momento actual.

A revista, dedicada ao diálogo intercultural e ao despertar da consciência cívica para as grandes questões mundiais, estará à venda no evento.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Há que ser carne e espírito a alimentar um Deus imaterialista
Ganhar o pão e transformá-lo em palavra poema
Ser água para humedecer as vozes conjuntas
E imaginação na lavoura da realidade

Há que ser buraco para inventar harmonias
Dizer que a noite é apenas uma pequena dor
Ser-se livro que termine num sossego de cal
Haver amor para a cura de alguém
Ter pássaros no pensamento do pensamento
Provar da terra nos vai guardar

Há que entornar música sobre os homens vazios,
Multiplicar rosas brancas com ciências humanas
Ter uma costela a sonhar com esplendor
Um rio sem margens de dúvidas
E haver uma criança que nos apavore, lembrando-nos:
Que toda a vida não é a vida toda

Sloterdijk e o Oriente



No próximo dia 17 de Junho (quinta-feira), pelas 17h, no Anfiteatro IV da Faculdade de Letras de Lisboa, a Mestre e actual Doutoranda Ana Nolasco realiza uma prelecção intitulada, "Sloterdijk e o Oriente". Esta iniciativa inscreve-se no âmbito do curso Filosofia e Estudos Orientais. A entrada é livre.

A pátria mais perfeita

"Os homens e as pátrias valem, pois, mais ou menos, conforme o seu grau de religião, quer dizer, o grau de fraternidade, o grau de amor.

A Pátria mais perfeita será a mais local, pelo amor à gleba, e a mais universal, pelo amor ao Mundo"

- Guerra Junqueiro, "Brasil-Portugal", Prosas Dispersas, Porto, Lello & Irmão, 1978, p.105.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

"O português foi o que agiu e na acção se aniquilou"

"Ora, quando o português se interroga acerca de si, há imediatamente uma resposta espontânea e directa. O português foi o que agiu e na acção se aniquilou. Diz-nos o poeta que deixou "a alma pelo mundo em pedaços repartida". O mesmo nos diz a pátria em a História Trágico Marítima e no mito do Encoberto que partiu para não regressar mais. Mas as pátrias têm mais débil ser que os homens que as compõem, sobretudo quando estes são geniais. Camões voltou para nos dar na epopeia o canto de partida e da heróica chegada e, com seus versos, a canção e a elegia do exílio, da dispersão e da saudade. A pátria, porém, não regressou ainda.

As nações que cometem o maior pecado contra o espírito, o de tomar a acção como fim, concebida esta na maior universalidade, aniquilam-se no seu agir. É agindo que o ser se revela na sua primitiva forma vital e social, e, neste sentido, telúrico e humano, "no começo é a acção". Mas é agindo que o ser se nulifica. Não só o podemos ver na vida social, onde o homem da acção constitui e determina em seu agir a zona extrínseca do ser do homem, mas ainda cosmicamente. O ser apenas em acto é o menor ser físico. O ser que, fazendo, não sabe porque nem para que faz, é uma virtualidade espiritual que logo se apaga, é o ser alheio a si próprio"

- José Marinho, "Sobre o valor da acção", in Teoria do Ser e da Verdade I, edição de Jorge Croce Rivera, Lisboa, INCM, 2009, p.349.

@ ilda castro

terça-feira, 8 de junho de 2010

A universalidade da experiência mística

"[...] a experiência mística de todos os séculos, de todos os países e de todas as religiões demonstra que o auge do sentimento religioso consiste numa fusão entre objecto do culto e sujeito do culto, num transformar-se o amador na coisa amada, num aparecimento da unidade perfeita onde a dualidade existia. Para um observador de fora, um homem intrinsecamente religioso, em perpétuo êxtase religioso, poderia dar a impressão de não estar prestando nenhum culto a nenhum Deus e, na vida prática, esse homem comportar-se-ia com a alegria, a espontaneidade, o desprendimento do selvagem, sem que também fosse necessário, fatal, o aparecimento de qualquer espécie de rito: esse homem teria reconhecido Deus em si e nos outros e viveria, naturalmente, sem tu e sem eu, de igual para igual, num universo inteiramente divino"

– Agostinho da Silva, A Comédia Latina [1952], in Estudos sobre Cultura Clássica, p.305.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Do fundo primordial, ou "o nada que é tudo"

Gravar o momento e falar da natureza primordial
da mente inata fundamental da clara luz
do nosso património colectivo, absoluto:

o rosto fixa-se e as energias pulsam
os olhos brilham e iluminando-se tudo iluminam
as células acaloram-se e rejubilam
tudo está integralmente certo a cada instante
todo o ser é naturalmente compassivo
sendo um aparente vácuo tudo está cheio
os amigos que nos envolvem são todos um.

O coração aconchega-se e a mente acalma-se.

Como é bom andar ao Deus dará
no eterno agora
onde tudo o que acontece é perfeito.

Poema feito em final de aula sobre Dzogchen em estado de "consciência clara relativa…", porque poderia acontecer noutro lado, a partir de outras ocorrências que não necessariamente palavras.

Um Outro Portugal

"Portugal, o grande, o todo, o de amarelos, brancos, pretos e vermelhos, o de islamitas, cristãos, judeus, animistas, budistas, taoistas, o da América, Europa, Ásia, África, Oceânia, o dos municípios, tribos e aldeias, o de monarquias e repúblicas, o dos grandes espaços conhecidos e o dos espaços ignotos ainda, dentro e fora do homem, o Portugal núcleo de formação de uma União Internacional dos Povos para o desenvolvimento, a liberdade e a paz, […] deve, audaciosamente, preceder os outros povos, estabelecendo ensino ou aprendizagem superior que estejam já encaminhados a uma era em que o homem seja plenamente criador e deixe como traço de sua passagem na vida esse aproximar-se cada vez mais da essência da criação divina"

- Agostinho da Silva, Educação de Portugal [1970], in Textos Pedagógicos II, pp.126-127.

sábado, 5 de junho de 2010

Houve um tempo
sem hora marcada
sem dia nem noite
um tempo sem tempo
com tempo de ser

Abracei teu peito
beijei-te sem medo
e o sol nasceu cedo
dando conta do tempo

Muda a hora
o dia se prolonga na noite
roubando cada manhã

Nasço e morro num dia
Antes bato as asas
Voo e viajo

Tão doce é o presente
Tempo de sempre
Tão tempo de ser

quarta-feira, 2 de junho de 2010

10 de Junho - Colóquio "A Missão de Portugal no Mundo": Portugal, que Futuro? (últimas inscrições abertas)



Programa

9H – ACREDITAÇÃO

10H – ABERTURA E BOAS VINDAS AOS COLÓQUIOS 2010 – LUIS RESINA

10H30 – 11h20 - PAULO BORGES – “UMA VISÃO ARMILAR DO MUNDO: A VOCAÇÃO UNIVERSAL DE PORTUGAL E DA LUSOFONIA “

11h20 - 12h10 - FERNANDO ALBUQUERQUE - “A FUNDAÇÃO DO REINO” “suas implicações no Ciclo 1917 – 2012”

12h10 – 13h00 – MARIA FLÁVIA DE MONSARAZ- “ Portugal Astrológico-O Mito e o Destino “

13H30 – 15H – ALMOÇO

15H – 15H50 - JOSÉ MANUEL ANES – “ Portugal e o Império do Espírito Santo “

15H50 – 16H40 – MIGUEL REAL - "A Europa de Hoje e o Portugal de Amanhã“

16H40 – 17H20 – LUIS RESINA – “ Os Grandes Ciclos da Alma Portuguesa “

17H20 – 17H50 – COFFEE BREAK

17H50 – 18H40 – MARCO RODRIGUES – “ Movimento Evolucionário, Frente Evolucionária, Aglutinação dos potenciais evolucionistas e revolucionários da Alma Portuguesa”

18H50 – 19H20 – QUESTÕES EM PLENÁRIO (resposta a perguntas postas por escrito ao longo do dia e sorteadas )

19H20 FECHO COM CONCERTO DO CORO RICERCARE EM HOMENAGEM A PORTUGAL

Porquê falar hoje da Missão de Portugal no Mundo? Haverá ainda uma Alma genuinamente Portuguesa? Se sim, quais as suas características e a sua missão? Qual será a Mensagem que a Alma Lusíada tem de manifestar para que Portugal possa cumprir o seu desígnio? Para dar resposta a estas questões, resolvemos lançar um repto aos intelectuais, pensadores e espiritualistas deste país para sabermos se ainda temos valores fundamentais com os quais nos identifiquemos verdadeiramente de corpo e alma. Em caso afirmativo o que podemos fazer com isso? Caso contrário, iremos continuar a ser vítimas de nós próprios, subjugados a um sistema social e político maioritariamente assente nas leis do capital, na competição e no desrespeito pelos valores humanos e pelas leis da natureza? Este é o convite lançado a todos os oradores, escritores e pessoas interessadas nesta temática de toda a comunidade lusófona, que sob a forma presencial ou escrita, queiram participar e colaborar neste evento.
Para quem queira enviar artigos para publicação, estes deverão ser dirigidos ao Jornal Milénio jornalmilenio@sapo.pt Este endereço de e-mail está protegido de spam bots, pelo que necessita do Javascript activado para o visualizar ou a Luís Resina lresina@sapo.pt

Data e Local:

10 Junho quinta-feira Lisboa - Auditório da Estação de Metro do Alto dos Moinhos (Benfica)

Valor do Ingresso para o Colóquio a partir de 20 de Maio: 45 euros para o NIB -
003601069910004607297 (Ana Proença) / Estudantes: 10 euros