domingo, 7 de novembro de 2021

Borges, Inês da Conceição do Carmo / A Arquitetura Senhorial: Matriz da Sociabilidade, do Poder e da Cultura em Lamego nos séculos XVII e XVIII

 A ARQUITETURA SENHORIAL: MATRIZ DA SOCIABILIDADE, DO PODER E DA CULTURA EM LAMEGO NOS SÉCULOS XVII E XVIII 


Tese no âmbito do Doutoramento em História da Arte, orientada pelo Professor Doutor António Manuel Filipe da Rocha Pimentel e apresentada ao Departamento de História, Estudos Europeus, Arqueologia e Artes da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Julho 2018. 

Resumo 
Esta tese tem como finalidade o estudo da arquitetura senhorial enquanto matriz da sociabilidade, do poder e da cultura em Lamego nos séculos XVII e XVIII. O objeto de estudo é composto por um conjunto de edifícios classificados como arquitetura civil, na sua maioria barrocos. Devido à necessidade de restringir o nosso campo de investigação, selecionámos no território do Douro, a cidade de Lamego e as freguesias de Cambres, Penajoia, Samodães e Valdigem, situadas junto ao rio Douro. O período em análise compreende os séculos XVIIXVIII, com exceções pontuais, devido a vestígios anteriores, nas estruturas arquitetónicas e posteriores, no que diz respeito ao séc. XIX.   A opção pela temática relativa à arquitetura civil tem como objetivo analisar o modo como esta se revela na articulação do espaço, enquanto elemento dinâmico da relação Cultura/Paisagem/Arquitetura. A sua expressão formal obedece a tipologias e são o testemunho dos valores que expressam para a sua História. Estas estruturas habitacionais procuraram um lugar de implantação próximo de cursos de água, abundantes na cidade e nas freguesias do nosso estudo. As casas nobres seguiram na sua edificação cinco vias fluviais: o Ribeiro de Coura, o Ribeiro das Nazes, o Ribeiro das Lages o Rio Balsemão, e o Rio Douro. Também por isto, as casas nobres têm exemplares da arquitetura da água nos seus jardins e terrenos, nos casos daquelas que estão inseridas em quintas.  Trataremos nesta nossa dissertação, os objetivos, as fontes e as metodologias; o espaço na região demarcada e na cidade de Lamego, nomeadamente: a região demarcada de estudo (Lamego e freguesias voltadas para o rio Douro); a caracterização geográfica; Lamego nas corografias e nos dicionários geográficos no século XVIII, o espaço e os habitantes; o plano e a morfologia urbana; a estrutura arquitetónica da cidade, segundo as Memórias Paroquiais de 1758; a arquitetura senhorial em Lamego – os complexos edificados: as elites, nobreza e clero; os encomendadores: as famílias nobres; o clero; as dinâmicas de sociabilidade; os laços de parentesco, elementos do poder e difusores da cultura letrada; os projetos de arquitetura senhorial – apropriação do espaço em análise; arquitetos, artífices e trabalhadores, nomeadamente: entre a obra e o artista: arrematação e contrato; o estatuto socioprofissional; o arquiteto, mestres pedreiros, carpinteiros, artífices e trabalhadores/ mobilidade de quadros socioprofissionais; a estadia de Nicolau Nasoni; a casa nobre no concelho de Lamego, designadamente: as fontes da arquitetura senhorial (tratadística – entre a teoria e a prática); a organização espacial e configuração dos elementos arquitetónicos; casas com dois andares; com mais de dois andares. Elementos arquitetónicos. Paredes, fachadas, varandas; a sacralização do espaço doméstico. Oratórios e capelas; a casa nobre e o domínio vitivinícola: a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro – 1756; 1758 - 1761 (demarcações Pombalinas); 1788 (demarcações Marianas ou Subsidiárias da Primordial); as quintas – importantes unidades de exploração vitícola. Quatro casos exemplares: a quinta das Brolhas (freguesia de Valdigem); a quinta da Pacheca, a quinta do Paço do Monsul, a quinta dos Varais (estas ultimas na freguesia de Cambres).  A análise da proliferação dos complexos edificados, das casas senhoriais, quer na cidade, quer nas freguesias selecionadas, demonstrou-nos o enaltecimento, a comprovação do status, dos seus proprietários/encomendadores, nobres e eclesiásticos, enquanto elementos privilegiados do poder e difusores da cultura letrada. Muitos destes foram autores de obras literárias em vários domínios do conhecimento.   Estas elites interagiram com arquitetos, mestres pedreiros, carpinteiros, trabalhadores locais e de outras zonas do país, através da arrematação e dos contratos de construção que registaram nos notários da época.  A casa no concelho de Lamego, através das fontes da arquitetura senhorial, nomeadamente da tratadística (entre a teoria e a prática), dá-nos conta da prática construtiva erudita nuns casos e noutros, “nas orlas do trabalho erudito.” A casa nobre revela-nos um espaço de delimitação sobreposto nalguns casos ao domínio vitivinícola, explanado no território pela Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro: o que nos dá os reflexos da economia em que os seus morgadios existiam. E, atualmente a casa nobre revela-nos um espaço de delimitação em parte da área classificada como Património Mundial da Humanidade proclamado pela UNESCO, o Alto Douro Vinhateiro, Património da Humanidade, e a integração na Rota do Douro Ibérico - Rota Património Mundial.  Muitas destas casas estão integradas em quintas – importantes unidades de exploração vitivinícola, nas freguesias da Sé de Lamego, nas freguesias de Cambres, Penajoia, Samodães e Valdigem. 

PALAVRAS-CHAVE: arquitectura, sociabilidade, poder, cultura, Lamego, Douro. 

Abstract 

This thesis aims to study the manorial architecture as a matrix of sociability, power and culture in Lamego in the 17th and 18th centuries. The study object consists of a set of buildings classified as civil architecture, most of them baroque. Given the need to restrict our field of research, we selected, in the Douro territory, the significant area of the city of Lamego and the region with the parishes of Cambres, Penajoia, Samodães and Valdigem, located near the Douro river. The period in question encompasses the 17th and 18th centuries with some occasional exceptions, due to previous remains, in architectural structures, and later remains, with respect to the 19th century.   The purpose of choosing the subject matter of civil architecture is to study the way it reveals itself in the spatial articulation, as a dynamic element of the connection between Culture, Landscape and Architecture. Its formal expression obeys certain typologies which are the support and testimony of the values they express to their history. These housing structures have always looked for a place of establishment near streams, which are abundant in the city of Lamego and in the parishes mentioned in our study. Thus, the construction of the noble houses followed five waterways: the Coura stream, the Nazes stream, the Lages stream, the Balsemão river and the Douro river. Also for that reason, the noble houses have examples of water architecture in their gardens and lands, specifically the ones that are inside estates.  In this dissertation, we will mention the purposes, the sources and the methodologies; the space in the demarcated region and in the city of Lamego, specifically the region that is the object of the study (Lamego and the parishes facing the Douro river); the geographical characterization; Lamego in the chorographies and geographical dictionaries of the 18th century, the space and the inhabitants; the urban layout and morphology; the city’s architectural structure, according to the Parochial Memories of 1758; the manorial architecture in Lamego – the built sites, namely: the elites, the nobility and the clergy; the commissioners: the noble families; the clergy; the dynamics of sociability; the kinship ties, elements of power and disseminators of literate culture; the manorial architecture projects – appropriation of the studied space; architects, artisans and workers, namely: between the work and the artist, adjudication and contract; the social and professional status; the architect, stonemasons, carpenters, artisans and workers/mobility of social and professional frameworks; Nicolau Nasoni’s stay; the noble house in the Lamego municipality, specifically the sources of manorial architecture (treatises – between theory and practice); the spatial organization and configuration of the architectural elements; two-floor houses. Houses with more than two floors. Architectural elements. Walls, façades, balconies; the sacralization of the domestic space. Oratories and chapels; the noble house and the viticulture domain, namely: the Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro – 1756; 1758 - 1761 (“Pombalinas” demarcations); 1788 (“Marianas” demarcations or Subsidiaries of Primordial); the estates – important wine-producing units. Four sample cases: Quinta das Brolhas (Valdigem parish); Quinta da Pacheca (Cambres parish); Quinta do Paço do Monsul (Cambres parish); Quinta dos Varais (Cambres parish).  The study of the proliferation of the built sites and noble houses, in the city of Lamego and in the selected parishes, showed us the enhancement and confirmation of status for the owners/commissioners, nobles and clerics as privileged elements of power and disseminators of literate culture. Many of those owners/commissioners were also the authors of literary works from several fields of knowledge in their time.   These elites, the nobility and the clergy appropriated the researched space with their manorial architecture projects. Consequently, they interacted with architects, stonemasons, carpenters, local workers and workers from other parts of the country through adjudication and construction contracts that were registered with the notaries from that time, leaving a trail that reached the present.  The house in the Lamego municipality, through the possible sources of manorial architecture, namely the treatises (between theory and practice), shows us its erudite construction practice in some cases, while in other cases it’s “on the edges of erudite work.” The noble and ecclesiastic house reveals a delimitation space that in some cases overlaps the viticulture domain, outlined in the territory by the Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, that provides us with reflections of the economy in which its “morgadios” existed. Currently, the noble and ecclesiastic house reveals a delimitation space partly in the area that has been classified as a World Heritage site by UNESCO, the Alto Douro Vinhateiro, and integration in the Rota do Douro Ibérico - World Heritage Route.  Many of these houses are found inside estates – important wine-producing units in the parishes of Sé de Lamego, Cambres, Penajoia, Samodães e Valdigem. 

KEYWORDS: architecture, sociability, power, culture, Lamego, Douro.  



sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Inês da Conceição do Carmo Borges / A Arquitetura Senhorial em Lamego dos séculos XVI a XVIII / Revista Monumentos 38, da DGPC





 

A arquitetura senhorial em Lamego dos séculos XVI a XVIII

Inês da Conceição do Carmo Borges

As casas senhoriais de Lamego apresentam os seus valores estéticos e os vestígios das construções originais integrados em estruturas posteriores, que, por sua vez, foram alteradas por campanhas de obras efetuadas pelos seus proprietários nobres e eclesiásticos. Apesar deste continuum, e dos seus condicionalismos, as diversas entidades, variando de caso para caso, preservaram espaços quinhentistas que chegaram ao século XXI. Tratando-se de conjuntos de grande valorização para a cidade, os seus detentores veem com dificuldades, devido ao crescimento das próprias casas, a consolidação coerente do seu reconhecimento patrimonial e turístico.



Revista Monumentos nº 38

Dimensões: 24x32 cm; 238 pp.

Local: Lisboa

Edition: DGPC

Data: 24 de Junho de 2021



segunda-feira, 3 de maio de 2021

Gestos & Fragmentos - Ensaio sobre os militares e o poder - EDUARDO LOURENÇO

"Gestos & Fragmentos - Ensaio sobre os militares e o poder"
De Alberto Seixas Santos, com Otelo Saraiva de Carvalho, EDUARDO LOURENÇO, Robert Kramer, Portugal, 1982 – 90 min.
“(…) Gestos & Fragmentos [é] a mais poderosa figura de luto que nos ficou da Revolução de Abril. O filme assenta em três entrevistas: uma com Otelo Saraiva de Carvalho, o estratega do 25 de Abril, que evoluiu vertiginosamente, nos anos 74-75 dum socialismo moderado para a extrema esquerda mas radical; outra com Robert Kramer, o cineasta norte-americano que vivera em Portugal esses anos, ao lado dos grupos mais extremistas; a terceira com Eduardo Lourenço, o nosso intelectual de maior prestígio que sempre se distanciou de compromissos políticos ou de análises esquerdistas. Seixas Santos jogou subtilmente com as contradições de cada um deles (décor burguês da casa em que Otelo ainda faz inflamados discursos, a paisagem rural da aldeia natal de Eduardo Lourenço, os ícones da esquerda sobrepondo-se à raiva de Robert Kramer e sublinhando-lhe a estraneidade) e com a contradição abissal de todos aqueles gestos, uns como outros inscritos numa sublinhada nostalgia. [Com Brandos Costumes, este filme é] o mais denso retrato fílmico que nos ficou dos anos 70 portugueses (…)” (João Bénard da Costa in Alberto Seixas Santos, Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema, 2016).

domingo, 11 de abril de 2021

"VOZES DO PENSAMENTO" e o "25 de Abril", por Isabel Rosete

 
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Desculpem a minha ignorância: iremos comemorar que/qual "25 de Abril", face ao estado nacional vigente?
- Os discursos demagógicos repetidos, ano após ano?; - as paradas militares sempre iguais a si mesmas, tais como as pompas e as circunstâncias?; - a farsa da "Democracia"?; A erosão da “ Democracia”?; - a injustiça dos mega-processos-crime mediáticos?; - a desigualdade abissal entre as classes sociais?; - a pobreza dos muitos pobres e a riqueza dos poucos ricos?; - o desemprego crescente?; - a retirada dos direitos dos que trabalham, depois de terem sido adquiridos?; - a crise sanitária, económica, social, cultural e educacional?; - os cravos já murchos e sem cor?; - as recordações das promessas não cumpridas?; - o declínio visível do Povo português?; - a ausência da noção de "Pátria" que não é "Mátria"?
Se assim for, eu não comemorarei o "25 de Abril"! Não nos alimentados nem crescemos à sombra de símbolos!
Isabel Rosete