sábado, 18 de junho de 2011

"A INTELLIGENCIA NÃO É DESTE MUNDO. É EXTRANHA À SUBSTANCIA DO MUNDO"

"A INTELLIGENCIA NÃO É DESTE MUNDO. É EXTRANHA À SUBSTANCIA DO MUNDO, DERIVA DO DESTINO, SUPERIOR AOS HOMENS E A DEUS"

- Fernando Pessoa [inédito].

2 comentários:

helenabranco.poet@gmail.com disse...

"ENTRE" tanto dito e por saber melhor repensarmos juntos o que nos une e individua.

Luiz Pires dos Reys disse...

O nó górdio de tudo é (quase) sempre a "linguagem|palavra" e a inter-legência que nela e por ela insita e incontornavelmente se opera em nós.

"Aporia" é pois aqui(ao nível "intelectivo", "vital" ou "espiritual") o que seja isso de "mundo", isso de "sub-stância", isso de "des-tino", isso de "homem" e "deus" e "Deus".

Tudo isso é indestrinçável de haver "homem", pois haverá/haveria propriamente "mundo" sem haver homem?

É um pouco como a afirmação de certo cientista que diz que para haver "relâmpago" e "trovão" (enquanto fenómenos de percepção) é preciso que haja olho que o veja e ouvido que o ouça, que lhes dê "realidade" e aceite como tais.

Por outro lado, a questão do "léxico" que cada um utiliza na sua linguagem faz toda a diferença.

Por exemplo, se, nesta frase de Pessoa, substituissemos inteligência por Logos, e substância por Hipóstase, ela adquiria porventura todo um outro sentido.

O que a faz realmente estimulante é a alusão ao "destino", como algo "superior aos homens e a Deus".

Voltamos pois a Eckhart (a Gott e a Gottheit), e a Dionísio Areopagita, e outros mais...

P.S.
Creio que o que nos une e individua é o "mesmíssimo" que nos separa e indiferencia.

Afigura-se-me que o que nos pode evitar tais perplexidades é porventura tão-só aquela "liberté libre", de que fala Rimbaud (em carta a Georges Izambard) e a que tão bem alude António Ramos Rosa.

Liberdade livre que é todavia, como desde logo Rimbaud percebeu, ela mesma uma labirinto armadilhado:

"Je meurs, je me décompose dans la platitude, dans la mauvaiseté, dans la grisaille. Que voulez-vous, je m’entête affreusement à adorer la liberté libre".

O que liberta é o mesmo que escraviza.

Sobre nós impende resolver o enigma de tal esfinge, e verificar que não há uma sem a outra, e que não há por isso "um" + "outro".

Ou que um cala, no que diz, o que o outro fala no que cala.