Quero uma agenda sem começo.
Como o tempo que sinto.
Contínuo nos intervalos.
Entre a infância e a semana passada, confundo o passado.
Subi a montanha. Presa no tronco, a dois passos do chão - chorei com medo da queda.
Presa com a boia, junto à terra - tive medo de me afundar.
Na escola, aprendi a ler. O 'A 'vem antes do 'C' e do 'B'. O '2' acompanha o '3'.
Há sempre um antes e outro depois. O tempo a subtrair tempo, no tempo que aprendo.
O tempo de ontem, no ventre da minha mãe.
Noto o mar preguiçoso, mesmo quando se mostra revolto.
Daqui a pouco sereno. É assim o seu tempo. Sempre novo.
O rio acaricia a montanha, a borboleta beija a flor.
Saboreio a maçã, toco meu corpo molhado.
É assim a natureza. Em todos os intervalos.
Uma agenda sem início, nem fim.
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