O sufismo é um exemplo interessante. É cada vez mais posto em questão por parte dos ortodoxos. As imagens que os media apresentam sobre o sufismo, como sendo um culto corrupto e decadente que atrai figuras hippy, não ajudam. No século XIX, o sufismo já havia sido alvo de críticas de muçulmanos modernizados que absorviam os conceitos científicos e iluministas do Ocidente. Os líderes árabes com ideias socialistas, como Nasser, também tentaram acabar com ele.
Embora o sufismo, no seu contexto mais puro, tenha origem directamente do Profeta, e algumas das mais importantes figuras muçulmanas tenham tendências sufis, os seus aspectos mais deturpados atraem muitos críticos contemporâneos. A veneração das sepulturas e dos santos e as histórias sobre poderes mágicos contribuíram para o descrédito em que o sufismo parece ter caído agora. Todavia, isto não significa que seja rejeitado na sua totalidade. É uma das faces mais cativantes do islamismo. A sua filosofia do amor universal, da paz universal, sulh-i-kul («a paz esteja com todos»), é uma das mensagens mais poderosas e atraentes que pode dar ao mundo em que vivemos. Além disso, a sua ortodoxia não pode ser posta em questão. A primeira tarefa do sufi é conhecer a fundo a shariah; um sufi tem de ser ortodoxo antes de atingir o estado místico.
Mas o sufismo apresenta-se como uma força pouco credível, especialmente entre a geração mais nova. Deve-se a varias razões. Os wahabis, ortodoxos rigorosos da Arábia Saudita, acreditam que o suismo é pouco mais que uma série de disparates, um desvio do caminho certo. Criticam especialmente o conceito de intermediário entre o homem e Deus. Acham que o poder só tem a ver com Deus e não com os seres humanos. Nem mesmo o santo Profeta tem qualquer estatuto especial para além do facto de ser o último mensageiro de Deus. Alguns sectores extremistas dos wahabis iriam mais longe, dissuadindo os visitantes de irem até ao túmulo do Profeta por ser uma atracção para os idólatras que, por sua vez, passam a venerar mais o túmulo do que Deus.
Akbar S. Ahmed, O Islão, 2002, Bertrand Editora, Lisboa, p.271
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