Tudo mudou. A barbearia agora é um bar de gente culta. A mercearia hoje vende papel reciclado. A padaria ainda vende pão pelas mãos das netas da Dona Virginia, já morta.
Tudo muda, menos a esquina sempre bonita. Alí, naquele canto é o único lugar que conheço que faz um ângulo recto.
Não importa quantos passos. Se dez ou mil chega um momento que devo virar à esquerda e se quero voltar viro de novo à direita, certa de que saí do lugar.
Vinha aqui para contar do amor que acabo de fazer. Escrever um poema molhado de poesia, repleto de beijos roubados que silenciam o passado. Vinha aqui timidamente falar de como acariciei o corpo suado do meu amado. Minha boca perdida em seus lábios, meu ventre vivo sem limites a ditar que existo.
Acabo de chegar quase pronta para outra viagem onde invento o amor amado sem vírgulas onde tropeçar.
Vinha a isto que é bonito de se contar, mas só me lembro da esquina - a minha conhecida, onde viro à esquerda e retorno à direita. Aquí nesse canto onde desenho o triângulo da minha existência.
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