Laú quer dizer, na nossa língua, «meu», e também «teu», o que, por assim dizer, vai dar ao mesmo. Pelo contrário, na língua do Papalagui [Branco, Senhor] não há palavras mais diferentes do que «meu» e «teu». «Meu» designa algo que é minha pertença, e so minha. «Teu» designa algo que só a ti pertence. Diz pois o Papalagui, a respeito de tudo quanto se encontre nas imediações da sua cabana: isto é meu. Ninguém, a não ser ele, tem direito àquilo. Por toda a parte onde vás, e tudo quanto vejas junto do Papalagui, seja fruto, árvore, ribeiro, floresta ou um monte de terra, sempre ele te dirá: «Isto é meu! Toma cautela, não toques no que te não pertence!» E se tu, mesmo assim, tocares, desata a gritar, a chamar-te ladrão, o que é um termo particularmente humilhante, e tudo isso só porque te atreveste a tocar no «meu» do teu próximo. Então, os seus amigos, e bem assim os servos dos chefes de tribo de mais alta estirpe acorrem, acorrentam-te, levam-te para o fale pui pui, e eis-te proscrito para o resto dos teus dias.
Tuiavii de Tiavéa, O Papalagui, Antígona, Lisboa, p.40
Sem comentários:
Enviar um comentário