"Ora, quando o português se interroga acerca de si, há imediatamente uma resposta espontânea e directa. O português foi o que agiu e na acção se aniquilou. Diz-nos o poeta que deixou "a alma pelo mundo em pedaços repartida". O mesmo nos diz a pátria em a História Trágico Marítima e no mito do Encoberto que partiu para não regressar mais. Mas as pátrias têm mais débil ser que os homens que as compõem, sobretudo quando estes são geniais. Camões voltou para nos dar na epopeia o canto de partida e da heróica chegada e, com seus versos, a canção e a elegia do exílio, da dispersão e da saudade. A pátria, porém, não regressou ainda.
As nações que cometem o maior pecado contra o espírito, o de tomar a acção como fim, concebida esta na maior universalidade, aniquilam-se no seu agir. É agindo que o ser se revela na sua primitiva forma vital e social, e, neste sentido, telúrico e humano, "no começo é a acção". Mas é agindo que o ser se nulifica. Não só o podemos ver na vida social, onde o homem da acção constitui e determina em seu agir a zona extrínseca do ser do homem, mas ainda cosmicamente. O ser apenas em acto é o menor ser físico. O ser que, fazendo, não sabe porque nem para que faz, é uma virtualidade espiritual que logo se apaga, é o ser alheio a si próprio"
- José Marinho, "Sobre o valor da acção", in Teoria do Ser e da Verdade I, edição de Jorge Croce Rivera, Lisboa, INCM, 2009, p.349.
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