No dia da passagem
Das palavras
Deponho uma coroa de silêncio
Para te vestir.
Abrem-se os poços dágua fria, transparente
Os ferrolhos das portas saltam
Passados pelo fogo no dia da rejeição
Ficará vazia a balança
Enquanto conversamos
No caminho já e ao fundo
Os amigos comem bolos de cereais e bebem cerveja
Barata no dia da pesagem
Das palavras enquanto caminhamos ao fundo
Longe tão longe que já deixaram de nos ver
O barco sagrado à vista dos senhores de Tuat
Leões e touros hieráticas sombras
O deserto à vista dos livros com os nomes
Primogénitos, varinhas de condão
Aceites ao convívio pela senhora da Casa
Ao convívio mesmo com o nome que se esconde
Um nome como um país com milhões de anos
Ó criaturas de barro
Ao qual regressaremos
Filhos que amamos o pai, filhos terrenos.
Caminharemos portanto sobre as águas
A estrela matutina cintila nas prateadas ondas
Saídos de dentro de um pano para um canto divino
Palavras escondidas que germinam continuamente
Palavras que não foram pesadas na balança
Em que depus o silêncio
Ventos favoráveis vamos a passos largos
No tempo ilimitado
Centelhas múltiplas de muitos caminhos
O manto sagrado sobre as cabeças
Um deus na proa servos resplandescentes
Avançando pela noite como remos de prata
Peixe das águas-turquesa
Sairemos à luz e não nos reconhecerão
Seja feita a Sua vontade
Pela porta oculta do silêncio
Na passagem sibilina das palavras
Onde sem querer nem saber nós vivemos.
2 comentários:
Belíssimo! Tens de preparar uns poemas teus para a Entre.
Abraço
Obrigado por entenderes. Este poema foi mesmo feito a pensar na «Entre». Vou juntar mais. Abraço.
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