Às vezes a realidade é um cenário
Vibra com as emanações do íntimo
Até as pedras assumem um semblante
Cheio de sentimento e contrário
À ideia que formamos de que as pedras
Estão petrificadas para sempre
O amor transfigura tudo
Talvez por não ser mais que o nosso estado primitivo
Nada surge separado
É umbilical a distância que une todas as coisas
É abissal a treva de termos nascido
O encontro nada mais é do que abrirmos os olhos
E vermos que sempre estivemos no terreiro da infância
Sempre fomos em unidade e afastamento
Porque o universo está em expansão
Mesmo do lado de dentro
Mesmo que nos consideremos pequenos
Na ínfima majestade que o infinito em nós assume
Por isso uma vida alada se resume
A pouco mais que um momento de contemplação
Lume breve sopro sem de onde
Festiva excedência
2 comentários:
As pedras são como rostos que nos olham desde a abissal treva de "termos nascido". Esse sentimento de que petrificamos o olhar é não sabermos ver o "terreiro da infância" que desde os nossos olhos nos fita e se transmuta em ouro que é esse encontro entre as mãos e os fruto que brotam da antiquíssima árvore...
Um momento de contemplação abrange todas as vidas de todos os tempos. Como se, de súbito e num clarão, todo o mistério do mundo se nos desvendasse no simples milagre de uma pedra movente na branca ria dos olhos: "lume breve". Sopro vindo em todas as direcções.
Este é o rosto vibrante do poema que se faz vibrante encontro, profunda dádiva recebida em celebração. Como "A primeira vez"... "Festiva excedência.
Belo de beleza e bem!
Esse nexo umbilical que nos torna terra é o sentimento procurado. Enuncia-lo é o grande acerto de saber ser. Belo o texto. Bela a imagem.
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