O que me inspira é a Vida
os coelhos nos seus regressos a casa,
a dona maria a sacudir as passadeiras
os pássaros bocejando visões
as gruas
os automóveis azuis
as árvores a chuva e o milho
Mas mais que gruas que levam homens ao céu
inspira-me as luzes que cegam os mortos
O sol umbilicalmente aos dias
nas marquises
nos frutos
nas formigas a construirem suas pátrias
É você aí desse lado que me inspira
a descobrir que o silêncio é um bosque
a somar à dor de parto com que fico
Depois
expiro a casa que guarda o nome e os ossos dos meus avós
a criança na sua dicotomia de crescimento
este deus hipócrita partido em quatro
mas que eu amo
E se tiver tudo isto tenho amor
tenho Obra
e manjedoura
e Nath King Cole a dar voz às manhãs
Ó mar faz de mim um bonito cadáver!
8 comentários:
Quando este blogue estiver completamente descaracterizado, poderá chamar-se, com toda a certeza, "Serpente Desplumada".
Se mais blogues houvesse disponíveis, em mais blogues se poria o mesmíssimo da mesmice do mesmo.
Como se fosse uma ponte sobre nada: entre nada e coisa nenhuma...
"Ó mar faz de mim um bonito cadáver!"
Pareceu-me, Donis, que em certos momentos do seu discurso, se perde no "entre o nada e cousa nenhuma" de Damien.
Creio que, um laboratório é um "lugar de labor" ou um não lugar do mesmo não-labor, que me parece mais adequado a um "finisterreno", que é uma pátria longe, uma nunca alcançada finitude que finitamente se fina nisso. Ou seja, entre o cadáver que se pede (que o mar faça de Portugal): "um bonito cadáver" e o que verdadeiramente o real se sonha, temos, assim um campo, embora oscilante, onde situar o "null" e o "nihil" de todo este sonhar o mundo.
Parece-me que isso já foi experimentado com sucesso pelos que nos antecederam e a quem procuramos seguir em exemplo, inserindo nisso o "quid" e o "quod" que nos falta visionar. Penso que a esfínge que fita ,de algum modo cegou para o enigma do mar já descoberto e para o deserto fora de nós. “Inspiramos e expiramos”, claro! Entre dois silêncios, há ainda a pausa. O poema também o refere. Cegou para o Mar, a esfinge e está, enfim, a fazer uma viagem de regresso a si. Esse regresso da pátria situável ao insituável. “entre pátrias” a ponto de perdê-las, ganhando-se…
Entre as patas da esfinge encontra-se uma estrela… Mas quem não decifra o seu enigma é estrangulado
Dicotomicamente… o mesmo do mesmo.
Deixa-nos campo para reflectir agindo-nos em decifração. SerpentinamEntre. Há-de voar, a esfinge, há-de voar!
EnTre tanto, acho que me perdi algures entre Damien e Donis. Éste parece Poeta e o outro... também.
Ainda é cedo para vislumbrar a "Ilha dos Amores". Ainda o labor alquímico começou a arder...na mente dos Filósofos e Poetas...
Não já o Quinto... mas um "Sexto Império de Alma"!
Hummm!?
Já me cheira a refogado alquimico-esfíngico!
O prato do dia é "Alminhas à sexto império"!
Damien... então?
Damien, prefere ser "expirado" ou "inspirado" para o poema de Flávio Lopes da Silva?
Há por lá "luzes que cegam os mortos" e "formigas a construirem suas pátrias".
Quem sabe não se dá por lá bem...
O humor e a ironia são muitas vezes bons exercícios para desconstruir ideias. São bastante produtivos para reflectir. Não sei se foi o caso. Foi apenas um exceder os limites do "correcto" e do previsível. Vale como exercíco que soube bem.
Se bem que o "refogado" não tenha vindo a calha, depois do "Quinto à lagareiro" (de novo ironia.
Desculpem, se foi excessiva a saudável brincadeira, Donis e Damien.
Caro Damien, eu também publico os mesmos posts em vários blogues e não percebo porque não tenho o privilégio da sua cáustica ironia...
Se o faço é porque creio haver nos vários blogues de que disponho leitores diferentes, como constato pela deserção de alguns da Serpente Emplumada, o que lamento, tanto mais porque não sei se aqui dão o que por lá falta...
Resta-me dizer que gosto muito da poesia de Flávio Lopes da Silva e espero que não deixe de aqui a publicar, como tem acontecido a outros por Damien intimidados.
Como espero que Damien não cesse de ser o que é, se algo é, dúvida que estendo a tudo.
Abraços
Caro Paulo, de acordo com o que me insta a manter, eu não cessar de ser o que sou, se algo sou (dúvida que tudo muito a mim estende), é mais do que provável que alguém se venha ainda a sentir intimidado.
Mas "intimidado", posso também dizer, me sinto eu em ver pulular replicantemente posts iguaizinhos em blogues que têm identidades e objectivos diferentes.
Com uma ressalva óbvia. Repito. Com uma ressalva óbvia (para quem queira ter dedo e meio de testa, nem que seja na parte de trás do pescoço): privilégios de criador/administrador de blogue não me parece que sejam os mesmos de colaboradores ou sequer de administradores-convidados, como é, até ver, o meu caso.
Logo, é mais do que é evidente que um criador de blogues, que os tenha vários, pode (se "deve" é outro departamento) postar neles o que e como bem entender, e ninguém tem nada a ver com isso.
As vantagens ou danos que daí advenham são sua inteira responsabilidade, como é ocioso aqui querer demonstrar.
Daí, portanto, meu caro Paulo, que não tenha tido o "privilégio" da minha "cáustica ironia" (cito). Seria rasgadamente descabida e despropositada. Não era para si.
Quanto a mim, nunca ninguém me viu a usar estes diversos blogues como veículo de (auto-)promoção seja do for de meu. Ao contrário de outros, cabe dizer, com toda a justiça.
(Cada um é como cada qual. E cada qual não é como cada um.)
Mas, é evidente, esta "limitação" é um problema e quiçá um handicap meu: que a ninguém, obviamente, responsabiliza ou diz respeito, senão a mim.
Quanto à postagem transversal dos mesmos textos em diferentes lugares: os seus resultados, em termos de comentários nos diferentes blogues, falarão por si. E já falam, me parece.
Aliás, curiosamente às avessas do que seria, quanto a mim, de esperar. Coisas.
Quanto à poesia de Flávio Lopes da Silva, o facto de eu a ter citado é (para quem já me conheça um pouco, se alguém me conhece) razão bastante para perceber que gostei. Mas, ainda que não tivesse gostado, citaria na mesma. Para dizer, nem que fosse, que um dia haveria de gostar.
Não falei do poema, não lhe conferi juízo crítico algum, tanto mais que não me tenho por "crítico literário", fauna tiranossáurica. Logo, não me dou o direito a essa usurpação: nem sequer abalizado crítico de mim próprio me acho. Se chegar a achar-me algum dia.
Sou talvez, como bem assinalou, meu caro Paulo, apenas um desinteressante espécime de "homo causticus": se isso exista. O mais certo é não.
Abraço lavadinho em soda caústica.
P.S.
E o Donis que se deixe das palermices gongóricas do costume e das falinhas mansas de mosqueteiro das quatro divas.
Paulo Borges,
O país, Portugal, o resto do mundo, também… O mundo “com sentido” que pensamos e queremos viver e o mundo “sem sentido” que vemos acontecer, e ainda o que nos pensa “enTre” os dois, é bem ele matéria suficientemente rica, variada e de reflexão para este e outros tantos laboratórios do pensar, do sentir, do inventar e do reinventar de Portugal e do mundo, que por ser mundo é “i-mundo”!
Como o comentário do Paulo vem depois de um meu, de resposta a Donis, creio, quero clarificar que esse meu comentário nada tem de preconceituoso ou valorativo relativamente a ambos, Donis e Damien, nem a qualquer blogue que o Paulo e os seus Amigos Administradores tenham criado ou venham a criar. Blogues nos quais tenho orgulho em participar e onde sou bem recebida, mesmo nas situações em que os ânimos foram menos reflectidos e excessivos. Isso serviu para uma reflexão pessoal e interpessoal que nos ganhou em lição e humildade. Esse é um dos méritos desses blogues onde gosto de servir também de matéria alquímica de mim mesma, em primeiro lugar e, em paralelo, com a reflexão que faço, a meu modo particular, do mundo e da vida. A serenidade e o equilíbrio de cada um farão o seu necessário trabalho e labor em cada um de nós, portanto. Sendo a minha contribuição nesses blogues: mais criativa e menos interventiva e desinteressada, confesso e reforço.
Aproveito para me desculpar de uma participação menos pragmática neste projecto, por impedimentos de vária ordem, desde os de temperamento e disponibilidade mental para o fazer, até aos de ordem das circunstâncias várias da vida e da gestão do tempo. Estou, confesso, numa fase de criação de texto e também contemplativa do mundo que me dificulta a gestão de tudo isso. Para além de outras razões.
Peço desculpa de apelar à serenidade, porque gosto de vós e admiro os vossos projectos. Mesmo que sejam dois blogues do mesmo (como podiam ser assim tão distintos, se o que os anima são as mesmas almas e os mesmos desejos?) Nós mesmos também somos do mesmo das outras criaturas e não nosdevemos aborrecer de nós, embora vezes de mais o façamos.
Um abraço aos três.
Já agora, que ainda não tinha tido oportunidade ou a tinha deixado passar, cumprimentos ao colaborador dos dois blogues, Flávio Lopes da Silva.
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