quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A noite inventou as fortalezas e os muros que nos protegem contra o mistério tenebroso, a selva escura e os monstros mitológicos.

O esquecimento é que nos salva e nos conforma com a vida actual e nos submete às leis humanas.
O esquecimento é irmão da noite. Não nos atrevemos nas trevas; tacteamos, deixamo-nos guiar...
A noite inventou as fortalezas e os muros que nos protegem contra o mistério tenebroso, a selva escura e os monstros mitológicos.

A noite mete-nos na ordem e fecha-nos a porta do curral. A tempestade ruge, lá fora. Clarões sanguíneos penetram pelas frinchas do postigo. São os demónios que nos olham através dos buracos das paredes; farejam, inquietos e famintos. Encostamo-nos uns aos outros, trémulos de medo... Nem uma palavra mais alta, nem um gesto! Ordem e paz...

Teixeira de Pascoaes, O Pobre Tolo, Lisboa, Assírio e Alvim, 2000, pp.50-51

1 comentário:

Paulo Borges disse...

É terrível pensar que isto é exacto, que é isto que nos traz à existência e que é pela preservação disto que a humanidade mata e morre.