"O real não tem linguagem, nós é que o lemos através da diversidade de modos por que esta se configura, para fazê-lo presente, ainda que em ausência desse algo que nos visite ou se nos furte"
Importa questionar o que é ou pode ser linguagem e o que ocorre quando consideramos ser desta ou daquela forma ou melhor quando estamos nessa consideração.
Se preferirmos a dualidade, a presença e ausência, a separação entre linguagem e real, por várias razões dialécticas e poéticas tiramos prazer de relembrar essas voltas criativas do dizer que depois se lembra do que estava ausente, (embora interdependentemente presente ou virtualmente); essa visão dos dois lados, um e depois o outro e ambos, será isso a linguagem, o devir que ocorre nesse sábio vir à presença, será essa diferença, o criativo, real? Sim.
E se o real for linguagem, o que não é?
E o que é?
Se for, o relativo não está separado do absoluto, então tudo é perfeito?! Parece que sim embora um pouco como na fisica quântica ou na linguística de Saussure; só vemos uma concretização, ilusão das condições contextuais, mas as outras, infinitas possibilidades, estão ali. A linguagem é inevitavelmente construção e encontro do ponto paradoxal onde as sensibilizações dadas pela concretização aparente se abrem espontaneamente às outras possibilidades e as tornam mundo. Considera-la simultâneamente o contingente e o último leva-nos à relação infinita, sem pontos de apoio, a interrogação que é pura resposta (vazia, existencial); o relativo pode ser visto e isso é a realização do absoluto.
(henrique)
1 comentário:
As linguagens têm uma característica a que pouco se atende: têm um poder de inseminação (num sentido próximo à tematização derridiana), impregnam o feito, o dado, o apreensível e disseminam nos seus interstícios limalhas de luz, fátuas entoações, sementes de putrefacção transmutadora – se Galileu vê a Natureza sob a luz da imagem do livro, escrito em caracteres matemáticos, é porque procurou expressar esta ideia e, ao mesmo tempo, contê-la nos limites duma logicidade fechada, determinada, pronta a servir de esteio aos logocentrismos teodiceicos que deram sentido à modernidade iluminista.
Hoje até a matemática tem esse poder disseminador, é portadora duma hybris mais poética do que metafísica ( e não é a metafísica uma poética?).
À semelhança da biblioteca de Babel, talvez o real seja o sem-lugar onde confluem todos os lances dos jogos que a si mesmos se jogam , babélico coro do desconcerto das vozes, mutismo nascido do excesso de expressão, possibilidade última de todo o desvio que inaugura o sentido e inaugura as relações de simbolização, em si próprias absurdas.
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