quarta-feira, 8 de agosto de 2012
"(...) nunca como agora foi universalmente pressentida a exigência de se privilegiar o vivo perante o totalitarismo do dinheiro e da burocracia financeira"
“Encontramo-nos, no mundo e em nós mesmos, numa encruzilhada de duas civilizações. Uma acaba de se arruinar esterilizando o universo debaixo da sua gélida sombra, a outra descobre, nos primeiros vislumbres duma vida a renascer, o homem novo, sensível, vivo e criador, frágil ramo duma evolução em que, doravante, o homem económico passou a ser um ramo morto, e apenas isso.
Nunca o desespero de termos de sobreviver em vez de vivermos atingiu no tempo e no espaço existencial e planetário uma tensão tão extrema. Também nunca como agora foi universalmente pressentida a exigência de se privilegiar o vivo perante o totalitarismo do dinheiro e da burocracia financeira.
Nunca, em suma, tantas populações e seres particulares foram presa de uma desordem em que se misturam a mais amedrontada servidão voluntária e a tranquila resolução de destruir, sob as vagas do prazer e da vida, os imperativos mercantis que emparedam o horizonte.
- Raoul Vaneigem, A Economia Parasitária, tradução de Júlio Henriques, Lisboa, Antígona, 1999, pp.9-10.
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