Quando a árvore descansa
Da tempestade.
Meu homem sai para o mar
Salga seu corpo
floresce em mim
Na vila onde nasci, os pescadores cantavam enquanto puxavam
a rede.
No equinócio de Março, o mar dançava todos os dias. As
sereias descansavam e os homens ficavam a salvo. As esposas agradecidas,
bordavam as ondas até o sol cansar e deixar a noite tomar seu lugar.
Nas noites quentes os filhos eram semeados com amor. Do mar
vinha o peixe, do campo, o arroz a decorar o prato. Da vizinha do lado, o
sorriso e um bom dia a dar conta da vida.
Na vila onde nasci, os olhos viam na noite escura. Abrigavam
no corpo todos os corpos. Abraçavam até que o coração encontrasse o de todos e
desenhasse um sorriso no rosto.
Na vila onde nasci, um dia,
um homem perdido de dor,
incendiou-nos o corpo.
Nada restou, do lugar, onde vivi, senão a canção que a
eternizou.
Venho de longe, de um mar que desconheço
Onde o homem mata tudo que nasce
Os beijos são veneno
E os abraços faca afiada
Que febre é a tua, amor
Que não te reconheço
Venho de uma terra perdida
Morta de morte matada
Seca, sem água
Vermelha de sangue
Que febre é atua , amor
Que te perco
Os meninos vivem na rua
Abandonados,
Os homens
Sozinhos, sem casa
Morrem de frio e fome
O sangue desenha o chão
Do animal assassinado.
Venho de uma terra perdida
Que me envenenou a vida
Na vila onde nasci,
um homem perdido de dor,
incendiou a vida.
Na cidade onde vivo,
há listas negras
de pobres endividados.
Ninguém vê na noite escura.
Nem semeia o amor suado.
Nesta cidade de luto,
os homens do povo
Vagueiam perdidos na rua.
De dia e noite, reza o verbo
Do débito e do crédito
E por mais que se pague
Continuamos devendo.
De onde vens amor
Que te perco!
Quando a tempestade
Seguir caminho
E a árvore puder descansar
Vou deixar que o homem
Salgue meu corpo
Até que ele seja de novo semente
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