Adriano chegou ontem mais cedo. Fiquei perturbada com a mudança. A rotina era chegar sempre mais tarde. Nunca conseguíamos jantar antes das nove e meia. Teimosa colocava a mesa sempre às oito - esperança vã.
Ainda não são sete da noite e Adriano já está em casa.
- Aconteceu alguma coisa?
- Não - responde-me, sorridente.
Meu coração dispara. Se ele está assim é porque aconteceu mesmo alguma coisa e não me quer contar. Disfarço o medo.
- Tens fome? Ainda não tenho jantar feito. Sempre chegas tarde. Logo hoje que me atraso, tu adiantas-te...
- Querida, está tudo bem. Queres ir jantar fora?
Meu corpo treme de raiva. Como pode ele convidar-me assim do nada. Nunca o fez em mais de uma decada de casamento. Nem antes, quando namorávamos.
- Queres jantar fora, amor?
- Adriano, por favor, diz-me. O que se passa?
Franze o sobrolho, começa a ficar zangado. Vira-me as costas. Vai para o quarto e regressa de pijama.
- Faltam-te as pantufas, não vês que estás descalço?
Sem responder, senta-se em frente à televisão. Devagar despe a camisa, em seguida as calças. Sem expressão pergunta-me:
- O que falta agora?
Fujo para a cozinha. Assim nem às dez jantamos!
É sempre a mesma coisa. Detesto a rotina.
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