“A mais alta iniciação acaba pela pergunta encarnada de se há qualquer coisa que exista. […] Às vezes eu mesmo, que devera ser um alto iniciado, pergunto ao que em mim é de além de Deus se estes deuses todos e todos estes astros não serão mais que sonos de si mesmos, grandes esquecimentos do abismo”
– Fernando Pessoa, A Hora do Diabo, edição de Teresa Rita Lopes, Lisboa, Assírio & Alvim, 1997, p.26.
2 comentários:
Ocorre-me aqui - um pouco a este propósito - um fragmento do espólio de Pessoa, que reza assim (mantenho a ortografia original):
"Quanto mais contemplo o spectáculo do mundo, e o fluxo e refluxo da mutação das cousas, mais profundamente me compenetro da ficção ingénita de tudo, do prestígio falso da pompa de todas as realidades. E nesta contemplação, que a todos que reflectem uma e outra vez terá succedido, a marcha multicolor dos costumes e das modas , o caminho complexo dos progressos e das civlizações (sic), a confusão grandiosa dos impérios e das culturas – tudo isso me aparece como um mytho e uma ficção, sonhado entre sombras [desmoronamentos] e esquecimentos. Mas não sei se a definição suprema de todos esses propósitos mortos, até quando conseguidos, deva estar na abdicação extática do Buddha, que, comprehendendo a vacuidade das coisas, se ergueu do seu êxtase dizendo 'Já sei tudo', ou na indiferença demasiado experiente do imperador Severo: 'omnia fui, nihil expedit – fui tudo, nada val a pena'".
Cabe sempre, no limite, perguntarmo-nos (entre outras coisas): cultura entre culturas - para quê?
Na resposta que cada um de nós dê a esta questão, está metade da resposta: precisamente a metade que não sabemos (imaginando saber).
Sim, caro Metheoros, também muitas vezes, na verdade quase sempre, me interrogo, em tudo o que faço: Para quê? Mas logo estendo isso ao próprio interrogar: Para quê pensar "Para quê?"
Um abraço sem quem nem quê, porquê nem para quê
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