O sol aparece sem dizer bom dia. Abraça quem dorme. Toma conta do dia. Nos dias de festa, fica até tarde.
Preguiçoso, adormece comigo na cama. Morre um homem. Nasce outra flor. Chove. Molha meu corpo de novo.
Nos dias de festa, o sol fica até tarde. Dorme comigo. Morre e nasce. Outra vez.
Nas estações de comboio chegavam homens de fora. Das prisões saíam heróis. Abraços que se prolongavam na canção da liberdade.
Não importa se gritavam sozinhos ou acompanhados, os seus pulmões descobriam caminho e entoavam sem medo:
- Camarada!
Homens que choram, sem vergonha do choro. Em cada abraço a memória da luta pela liberdade. Em cada sorriso, a esperança de um novo dia.
Da minha janela vejo o mar. Conto as ondas que se repetem na minha boca. Quando o sol aparece, abraça-me devagar. Peço a ele que fique e me aqueça, entre ir e voltar.
Os pescadores escolhem o melhor peixe. Os eleitos secam devagar, no sol. Voam morcegos nas noites quentes. Não escolhidos, voltam ao mar os peixes sobreviventes.
Morreu de morte matada. Escapou da fome. Regressou ao mar, o peixe que sobrou na rede do pescador. Cantou o galo pior sorte. Ensaguentado o touro explodiu.
Morrem os pobres - felizes antes de morrerem de fome. Desgraça assistida.
De noite conto as estrelas cadentes. Dançam sempre antes de morrer.
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