quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Palavras de apresentação da revista "Cultura Entre Culturas", por Luiz Pires dos Reys, ontem na FNAC-Chiado

Pede-me Paulo Borges, director da Cultura Entre Culturas, para que aqui dê a público as palavras proferidas ontem por Luiz Pires dos Reys, director de arte, membro do Conselho de Direcção e colaborador, por ocasião de mais uma sessão de apresentação da revista, desta vez na FNAC-Chiado, em Lisboa. 
À mesa da sessão, a que presidiu o director da publicação, Prof. Paulo Borges, estiveram presentes igualmente o Prof. António Cândido Franco (Univ. de Évora) e o editor, Dr. António Baptista Lopes, responsável da Âncora Editora. Do evento aqui publicaremos, muito em breve, registo fotográfico.

A seguir transcrevemos, pois, os parágrafos iniciais da comunicação acima referida, podendo, quem deseje ler o texto na íntegra, fazê-lo através do link seguinte: 
 


"Quero deixar desde já claro que não venho aqui hoje apresentar revista nenhuma. Lamento, mas “Cultura Entre Culturas” não é uma …revista.
Uma revista é, por definição – eu diria quase, por definhação –, aquele tipo de objecto, cultural ou não, que (como a própria palavra procura, embora desastrada e algo uroboricamente, dizer) cuida de rever, passar em revista alguma coisa de algum assunto.
Entendendo revista neste sentido, no sentido do media que revê o actual ou o acontecido há pouco, receio que devamos concluir que uma revista é coisa o seu quê funerária, posto que regista e trata e fala do que já não existe senão na memória, ainda que recente nos factos e ainda que verificável nos seus efeitos.
Mas, só pela âncora da memória, pelas emoções que nela tenhamos plasmado ou pelos pensamentos que ela haja suscitado em nós, tais factos permanecem realmente: não já o advento deles, não mais o seu evento. Esses desapareceram já, no fumo do tempo, como em tudo o que faz, ou não, história: e tudo a faz, ainda que mínima. São, pois, puros fantasmas e espectros remanescendo em nós: na memória – sensitiva, emocional ou intelectiva.
Por outro lado, o que pode ser re-visto do que quer que seja de entre – o entre cada coisa e cada outra coisa, o entre cada ser e cada outro ser, o entre cada pessoa e cada outra pessoa, o entre cada acto e cada outro acto, o entre cada tema e cada outro tema, e o entre todos uns e todos os outros – o que pode ser re-visto do que quer que seja de entre, repito, não tem, na verdade, entre-campo ou entre-domínio alguns que lhes seja fundo e fundamento próprios, ou que sequer haja enquanto puro entre-meio ou simples de per-meio. 
O entre é propriamente o que não ex-siste: ou porque ainda não suscitou manifestação entre as margens que de si a si apelam diálogo e encontro, ou porque não haverá nada disso de manifestar-se. Ele é, deste modo, o que não é pertença de ninguém e a todos, no entanto, é de comum e livre e permanente acesso."

[...]

1 comentário:

Paulo Borges disse...

Mais uma bela sessão, com muitos amigos e o verbo sempre inspirado do António Cândido Franco e do Luiz Reys. Ben hajam!