domingo, 7 de novembro de 2010

A atenção meditativa na filosofia estóica antiga (homenagem a Pierre Hadot, que partiu a 24 de Abril deste ano)




“A atenção (prosoché) é a atitude espiritual fundamental do estóico. É uma vigilância e uma presença de espírito contínuas, uma consciência de si sempre desperta, uma tensão constante do espírito. Graças a ela, o filósofo sabe e quer plenamente o que faz a cada instante. Graças a esta vigilância do espírito, a regra de vida fundamental, ou seja, a distinção entre o que depende de nós e o que não depende de nós, está sempre “à mão” (procheiron). […] Esta atenção ao momento presente é de algum modo o segredo dos exercícios espirituais. Ela liberta da paixão que é sempre provocada pelo passado ou pelo futuro que não dependem de nós; ela facilita a vigilância concentrando-a no minúsculo momento presente, sempre dominável, sempre suportável, na sua minúscula exiguidade; ela abre por fim a nossa consciência à consciência cósmica tornando-nos atentos ao valor infinito de cada instante, fazendo-nos aceitar cada momento da existência na perspectiva da lei universal do cosmos”

- Pierre Hadot, Exercices spirituels et philosophie antique, Paris, Albin Michel, 2002, pp.26-28.

A chamada "meditação", que hoje se pensa ser apenas um produto exótico do Oriente, esteve presente na Antiguidade greco-romana e na Cristandade medieval, sendo depois esquecida pela obsessão da mente humana com o conhecimento/domínio/exploração do mundo exterior e com a planificação do futuro. O resultado está à vista: crise ecológica e frustração das expectativas alimentadas desde a Revolução Industrial. E agora reaprende-se a meditar com o Oriente, que nunca o esqueceu.

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