sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Uni-Verso

Em 1974 foi encontrado na Etiópia parte do esqueleto de uma mulher que representava o hominídeo mais antigo conhecido até então. Esse nosso antepassado comum baptizado com o nome de “Lucy” terá existido há aproximadamente 3,2 milhões de anos e o seu nome, é sabido, deve-se a no momento da descoberta ter passado na rádio uma música dos Beatles, intitulada “Lucy in the Sky with Diamonds”. Mas alucinação é que a revelação não terá sido, porque em investigações arqueológicas posteriores, nessa mesma região, já foi descoberto um esqueleto que fez recuar os vestígios dos nossos mais velhos ancestrais para 4,4 milhões de anos. Aos mais antigo de todos deu-se o nome de “Ardi”. E, afinal, o que serão 4,4 milhões de anos na existência do planeta, do Universo?

Nada impede que daqui a uns anos se descubram outros esqueletos, noutras regiões, que eventualmente, recuem mais ainda o início da aventura dos hominídeos na Terra. Mas hoje, em termos arqueólogicos, faz-se corresponder o berço da humanidade aquela região da África Oriental. Terá sido, dizem, a partir daí que se terá iniciado o povoamento do planeta. Ásia, Europa, Oceania e América, por esta ordem, terão sido a pouco e pouco, lentamente, ocupados por populações humanas.

Em cada uma das mais diferentes regiões desenvolveram-se estratégias de sobrevivência que corresponderam a outras tantas formas de organização social. Entre os inúmeros humanos que se disseminaram pelo planeta, foi-se assistindo a diferentes formas de organização da família, da política, de economia, da religião, naquilo a que a Antropologia designa por diversidade cultural. Por exemplo, em relação à organização da família referem-se vários tipos conhecidos como a monogamia, bigamia, poligamia, poliandria; ou quanto à religião, onde se podem falar de sistemas animistas, monoteístas, politeístas; e por aí fora.

Durante algum tempo, no século XIX, os autores evolucionistas classificaram as sociedades tecnologicamente menos desenvolvidas como povos mais atrasados, mais primitivos, quando comparados com as sociedades ocidentais. Depois a Antropologia concluiu pela falta de sustentação científica dessas ideias que afirmavam a superioridade de “uns” em relação a “outros”. Pensemos, por exemplo, na legitimação que algumas dessas ideias deram ao racismo, nazismo, etc. O que na Antropologia, hoje, corresponde mais à verdade científica é que as diferentes sociedades humanas em vez de avançadas ou primitivas, superiores ou inferiores, são simplesmente diferentes. Uma mesma travessia histórica através dos tempos, diferentes usos e costumes que se desenvolveram, diferentes padrões culturais, diferentes formas de organização social. Tantas formas de explicação da natureza e tantas outras possíveis, infinitas. Sempre a mesma incerteza, ou quase…

Hoje, vivemos tempos em que faz mais sentido a valorização da diversidade cultural, do que a afirmação etnocêntrica de universos singulares. O que nos deverá guiar é mais o estabelecimento de pontes, de diálogo, entre diferentes culturas, pela paz!, do que a afirmação desses modelos etnocêntricos. Será nessa abertura ao outro, nessa escuta do outro, em que assentaremos o nosso Estudo. Será a partir da soma das partes que partiremos para a valorização e construção da Unidade. Nada de falsas manipulações, nada de querermos o outro à nossa imagem. Liberdade até de não ser livre. Com regras, claro, até que uma plena emancipação social se instale, até à chegada de uma consciência plena.

Coisa tão estonteante tem sido esta aventura pelo espaço-tempo. Meu Deus…

Luis Santos

1 comentário:

Kunzang Dorje disse...

criemos pontes então!
abraço