segunda-feira, 5 de abril de 2010
"Toda palavra é uma espada flamejante do diabo"
"A língua é o inimigo visceral da fé, e tudo o que por ela for tocado ficará imune à intervenção do divino. Toda palavra é uma espada flamejante do diabo, e a língua como um todo é um único protesto contra as limitações do intelecto, um grito de articulação contra o inefável, um brado de guerra contra a divindade, uma expressão da inveja do intelecto humano dirigida contra Deus.
[...]
Somos indivíduos, somos intelectos individuais, porque consistimos de palavras (expressões da inveja diabólica contra Deus) consolidadas pela gramática (expressão da avareza diabólica que tenta preservar a realidade por ele criada). A mente humana, essa suprema ilusão de realidade, é a obra mais perfeita do diabo, e é neste sentido que a nossa insistência avarenta na manutenção da nossa individualidade é o triunfo supremo do diabo. O nosso empenho em prol da língua (que é o empenho em prol do nosso intelecto), e nosso empenho em prol da propagação do enriquecimento da língua (que é o empenho em prol da imortalidade do nosso intelecto), é o ponto culminante da carreira gloriosa do diabo. A superação da língua, que seria o abandono do intelecto, implica a perda da nossa individualidade, e, do ponto de vista oposto ao diabo, a salvação da nossa alma"
- Vilém Flusser, A História do Diabo, São Paulo, Annablume, 2006, pp.149-150.
Colóquio Internacional: "Vilém Flusser: do diabólico ao simbólico", Anf. IV, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 3 e 4 de Maio.
Publicado em: vilem-flusser.blogspot.com
Etiquetas:
diabo,
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Vilém Flusser
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5 comentários:
A palavra é prata, o silêncio é ouro.
Silencio pode ser ouro, para quem não mais quere pensar.....talvez desta maneira se livre do diabo????
Esta visão faz-me pensar nos habituais erros do cristianismo. Aqui, assumindo que o Diabo é invejoso, temos um Deus sem capacidade de perdão. Este Deus é como os Devas, orgulhoso, e o Diabo como os Asuras, invejoso.
Mas o cristianismo consegue levar ainda mais longe a clivagem...
No dia que o Diabo e Deus perceberem que são a mesma coisa e que esta guerra não é mais do que uma auto-mutilação, nesse dia teremos paz.
Ou para quem já muito pensou, como quem muito comeu, zita... Mas sim, pode ser isso. Mas fica a pergunta (para pensar :)): porquê mais pensar?
Ninguém percebe nada, pontes. Vai (im)percebendo.
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