Pintura de Watterhouse
(Para Donis, de quem se diz que é Rey de seu mesmo reinar. EnTre-tantos Lugares...)
Plantámos uma vara no mar. No silêncio a regamos. Afundamos no lago os remos e deixamos seguir, na corrente, o espelho de argêntea vida, o belo rosto da mulher do lago. Uma flor de lótus, branca de sal no bordado manto. Uma gota de sangue no cristal do espelho: mercurianas vozes, sonhos de alguém debaixo de húmidas pétalas!
Quando vierem as primeiras chuvas, a água doce fará florir a cana de uma tal e tão subtil índia, como em sonho a sonhamos. Uma ferida, flor à cor da tarde que se estende em caminhos de ouro, sobre os verdes reflexos da água, dará dormida às aves, como uma gruta no rochedo, dentro do abismo do mar! Azul aberto! O sangue será o nódulo do peito a descer. Subido o rio ouve-se o murmuro canto da tristeza; o filho da Saudade entrado no castelo. Olha a flor que se afasta, trazendo dentro dela a voz de uma nova raiz, de um novo espelho. Essa vara florida, essa canção, será da cor da prata, e, repetida, repercutida no espaço e em todos os pontos do universo, a levará, a barca da lua, em seu arco de luz, em sua horizontal forma de silêncio.
Porque a lua lhe dará reflexos de poema e canto de encantado rio, ao tear de finos fios e penas e bicos de gaivotas, sobre o manto da terra, sobre as ondas do mar, se chegarão as criaturas de asas, as sementes de arroz e as bagas de romã. Sorriremos da tarde trazer essas vozes, essas figuras, para próximo dos brilhos das janelas do alto da casa das sombras e do choro de pedra das gaivotas. Cantaremos, então, como anjos em consertados, afinados e acertados cantos. Dizem que a sua voz, a voz da vara florida, será sopro, será texto e nome. Porque vibra em corda alta de sentido um nome para cada coisa, e nomear é cantar, ouvir do interior da semente, a voz da folha, o ramo que trará a pomba de regresso. A pomba que, em fios de várias cores, pelas noites entre paredes, vem poisar no vestido da dama de olhos cor de pasto de sal. Olhos vendados, cega, olhando o espelho, picando-se no espinho da rosa florescida no bordado do jardim.
Será um canto claro, em coração de bosque, verde e florido chão de nova e florida voz. O nome desse canto ensurdece. O seu nome dará no chão reflexo de espelho vivo, entornada voz! Não estranharemos os sons que ouvirmos no caminho. Vão por caminhos que são as suas asas, os ses cantos e as suas brisas, as asas e as brasas. Debaixo desse canavial salgado, que é o rio, uma corrente levará a voz numa barca para as paredes do castelo. Lê-se nos olhos vendados da jovem dama do lago. Será aí que uma espada levantará a luz de uma pátria sem definições, mais livre de emparedadas vozes; mais liberta de si, mais sem razão.
Ouve-se o eco da voz, na voz sem tempo de um aberto lugar, como uma estrela na fronte do rosto virado a ocidente, fitando o rio e o destino do mar.
Talvez seja por isso que o olhar se ergue ao céu, quando a lua crescente, como um barco, voga no escuro mar do vasto firmamento. Fitamos a lua e, por trás da escuridão, ouvimos a voz, o lamento da Senhora do lago da lua, a olhar-se no espelho branco do mar. Não chegámos a virar o olhar para Camelot, mas na torre mais alta do castelo que ainda hoje lá está, o pano bordado tece-se novas cores, novos sons acordam, e a vida tecida nesses fios será de lua e rosa e sangue, cristal e lágrima. Será conto e canto. Canto da distância, contos de acorde em lá. Lanças retiradas da pedra de moer distâncias, de fiar o linho, de plantar esperanças!
Quando vierem as primeiras chuvas, a água doce fará florir a cana de uma tal e tão subtil índia, como em sonho a sonhamos. Uma ferida, flor à cor da tarde que se estende em caminhos de ouro, sobre os verdes reflexos da água, dará dormida às aves, como uma gruta no rochedo, dentro do abismo do mar! Azul aberto! O sangue será o nódulo do peito a descer. Subido o rio ouve-se o murmuro canto da tristeza; o filho da Saudade entrado no castelo. Olha a flor que se afasta, trazendo dentro dela a voz de uma nova raiz, de um novo espelho. Essa vara florida, essa canção, será da cor da prata, e, repetida, repercutida no espaço e em todos os pontos do universo, a levará, a barca da lua, em seu arco de luz, em sua horizontal forma de silêncio.
Porque a lua lhe dará reflexos de poema e canto de encantado rio, ao tear de finos fios e penas e bicos de gaivotas, sobre o manto da terra, sobre as ondas do mar, se chegarão as criaturas de asas, as sementes de arroz e as bagas de romã. Sorriremos da tarde trazer essas vozes, essas figuras, para próximo dos brilhos das janelas do alto da casa das sombras e do choro de pedra das gaivotas. Cantaremos, então, como anjos em consertados, afinados e acertados cantos. Dizem que a sua voz, a voz da vara florida, será sopro, será texto e nome. Porque vibra em corda alta de sentido um nome para cada coisa, e nomear é cantar, ouvir do interior da semente, a voz da folha, o ramo que trará a pomba de regresso. A pomba que, em fios de várias cores, pelas noites entre paredes, vem poisar no vestido da dama de olhos cor de pasto de sal. Olhos vendados, cega, olhando o espelho, picando-se no espinho da rosa florescida no bordado do jardim.
Será um canto claro, em coração de bosque, verde e florido chão de nova e florida voz. O nome desse canto ensurdece. O seu nome dará no chão reflexo de espelho vivo, entornada voz! Não estranharemos os sons que ouvirmos no caminho. Vão por caminhos que são as suas asas, os ses cantos e as suas brisas, as asas e as brasas. Debaixo desse canavial salgado, que é o rio, uma corrente levará a voz numa barca para as paredes do castelo. Lê-se nos olhos vendados da jovem dama do lago. Será aí que uma espada levantará a luz de uma pátria sem definições, mais livre de emparedadas vozes; mais liberta de si, mais sem razão.
Ouve-se o eco da voz, na voz sem tempo de um aberto lugar, como uma estrela na fronte do rosto virado a ocidente, fitando o rio e o destino do mar.
Talvez seja por isso que o olhar se ergue ao céu, quando a lua crescente, como um barco, voga no escuro mar do vasto firmamento. Fitamos a lua e, por trás da escuridão, ouvimos a voz, o lamento da Senhora do lago da lua, a olhar-se no espelho branco do mar. Não chegámos a virar o olhar para Camelot, mas na torre mais alta do castelo que ainda hoje lá está, o pano bordado tece-se novas cores, novos sons acordam, e a vida tecida nesses fios será de lua e rosa e sangue, cristal e lágrima. Será conto e canto. Canto da distância, contos de acorde em lá. Lanças retiradas da pedra de moer distâncias, de fiar o linho, de plantar esperanças!
1 comentário:
Não me restam forças senão para segurar o que ficou do espelho de "Lady of Shalott"...
Só o empalidecer das águas que a encaminham a seu trágico fito e a negrura que lhe abriu o olhar mais além de Camelot, guardam reflexo de tudo quanto o seu espelhar-nos fitou, no ângulo apertado a que a maldição a fadara.
Seremos nós ainda reais agora, sem o reflexo que nos pro-pague pelo trespasse do espelho na sua mão intermediante?
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