“No seio do sentido grego de devir desenvolvem-se, pois, tanto a Tradição do Ocidente, como a Civilização de Técnica, tanto a epistéme como a sua destruição. O gigantesco processo em que consiste a nossa civilização e cuja configuração actual domina agora sobre toda a Terra é, portanto, possível graças ao que os gregos pensaram acerca do ser e do nada e da passagem das coisas do ser para o nada e do nada para o ser. E não só: a vontade do remédio e de salvação que atravessa toda a civilização ocidental é uma consequência da convicção de que as coisas oscilam no devir entre o ser e o nada. Nesta oscilação, o devir manifesta-se como a extrema ameaça e leva, portanto, à procura do remédio extremo (e, por fim, à destruição do remédio epistémico). A vontade de encontrar um remédio e uma salvação pertence à essência da vontade de poder. O Remédio contra a ameaça do devir consiste hoje em nos apoderarmos e nos identificarmos através da ciência e da técnica, com fonte do devir.
Chegados a este ponto, fica por discutir aquilo, que nunca foi discutido e que está na base de tudo aquilo a que nos, habitantes do Ocidente, somos e sabemos. Fica por discutir aquilo que foi sempre tido como indiscutível ou acerca do qual apenas foram discutidas as formas aparentes: o sentido grego do devir. É apenas deste modo que o sentido da nossa civilização – a civilização do Remédio – pode ser revelado.”
Emanuele Severino, A Filosofia Contemporânea, edições 70, 1987, p. 270
2 comentários:
Esse braço humano, a técnica, a nos tornar semente de deus, enquanto a arte divina nos orienta à profunda humanidade. Transformar ou reflectir? Para devir, sentir a fonte a manar. Para devir, sentir a vida a nascer da própria vida e as terras a completar ciclos sem fim. E fazer parte.
A técnica... é a arte de imitar.
Este Remédio parece converter-se em grave doença... Porventura o único Remédio é deixar de o procurar: talvez isso seja a Saúde.
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