Ver a estranheza de si mesmo, ver-se desde o "enTre" si - o mesmo - e si próprio - o próprio de si-, ver-se estranho e estrangeiro a si, é, também creio, condição (se condição há, porventura, nesse insituável "...entre...") condição de, como diz Kafka, esquecermo-nos precisamente de quanto nos vemos ou vejamos ou víssemos ou quiséssemos ver-nos: essa fábrica de nós, teatro de que somos tudo o que o faz ser teatro (thea-tron), a um tempo ficção de ser e instrumento da visão disso.
Essa estranheza, e esse insólito exílio e êxodo de si, é o timbre do recordar-se a primordialidade da natureza própria, que é pura imagem reflexa de um alhures, que não de si mesmo, que não de si próprio.
Des-axiado-se, ao homem é então dado talvez ser instante e simultânea amnésia e anamnese.
Qual "anáfora" viva, movência em direcção a um "para trás" anteprimordial, que consume a instantânea e radical re-gressão até àquele abismo do inexistente instante inicial, na flor da boca do momento que pode sempre ser o derradeiro e e o próprio derradeiro, fechando assim o (per)curso desse delongado processo de engano próprio, frente ao espelho e à imagem de si de que somos os construtores e não os herdeiros.
"Esquecer o que se viu" é lembrar o nunca visto no que sempre se vê e verá.
"Conservar o olhar" é morar exodicamente nisso mesmo que nos impondera "enTre" o "nada" (que "estamos") e o tudo nada (que"há").
Algures, sempre alhures, no nenhures desse olhar, esquecer-nos-emos do olhar, e, então... veremos realmente"
1 comentário:
Ver a estranheza de si mesmo, ver-se desde o "enTre" si - o mesmo - e si próprio - o próprio de si-, ver-se estranho e estrangeiro a si, é, também creio, condição (se condição há, porventura, nesse insituável "...entre...") condição de, como diz Kafka, esquecermo-nos precisamente de quanto nos vemos ou vejamos ou víssemos ou quiséssemos ver-nos: essa fábrica de nós, teatro de que somos tudo o que o faz ser teatro (thea-tron), a um tempo ficção de ser e instrumento da visão disso.
Essa estranheza, e esse insólito exílio e êxodo de si, é o timbre do recordar-se a primordialidade da natureza própria, que é pura imagem reflexa de um alhures, que não de si mesmo, que não de si próprio.
Des-axiado-se, ao homem é então dado talvez ser instante e simultânea amnésia e anamnese.
Qual "anáfora" viva, movência em direcção a um "para trás" anteprimordial, que consume a instantânea e radical re-gressão até àquele abismo do inexistente instante inicial, na flor da boca do momento que pode sempre ser o derradeiro e e o próprio derradeiro, fechando assim o (per)curso desse delongado processo de engano próprio, frente ao espelho e à imagem de si de que somos os construtores e não os herdeiros.
"Esquecer o que se viu" é lembrar o nunca visto no que sempre se vê e verá.
"Conservar o olhar" é morar exodicamente nisso mesmo que nos impondera "enTre" o "nada" (que "estamos") e o tudo nada (que"há").
Algures, sempre alhures, no nenhures desse olhar, esquecer-nos-emos do olhar, e, então... veremos realmente"
Enviar um comentário