domingo, 3 de outubro de 2010

Domingo de Outono

Dedico este 'Domingo de Outono' a Maria Sarmento


Nesta manhã de Domingo acordei Maria Silva, a lembrar-me da lista de todos os nomes perdidos nas celas, aprisionados por terem outros nomes. Hoje acordei Maria, mulher do povo, desconhecida, sem precisar de mais um nome de novo. Hoje sou Maria, como a Madalena que beijou-te sem medo, despudorada amante sem nome, Maria de novo. Hoje acordei Maria e rezei por eles, de morte matada, cristãos, ateus, budistas, mulçumanos, poetas, pintores, operários, negros, judeus, homens, Maria de novo.
Hoje acordei sem ar, sem nome algum para contar, história que quero enterrar.
Maria como a flor amarela que sorria enquanto morria.
verde é a terra
castanha regada
floresta sem nome
reconhece o corpo
que a ti regressa de novo
noutra terra vermelha
nascido antes

branca é a montanha
que te guarda
coberta de neve
em tempos doce
quase sem cor
negra tão negra é a dor
que te leva sem rumo

amanhece no campo
feliz o trigo por ti cultivado
brota na terra a flor
outrora sem dono
colhe sem pressa o tempo
descansa em ti um sorriso
verde, castanho molhado
de amor.

3 comentários:

Anónimo disse...

Ethel,

Muito grata estou. Hoje eu também acordei e não havia Maria, nem lista de compras, nem povo a quem dar um nome. Talvez me hame Maria. Há quem me chame Saudades, mas é igual.
Hoje acordei. Não lembrei nome algum. Hoje não lembrei nenhuma estrela nem nehum credo, ou poeta ou pintor. Hoje acordei e não me vi. Aproximei o rosto do espelho e vi homens toddos a caberem dentro de si mesmos: judeus, budistas, sufis, poetas pintores e eu não sabia. Eu não sabia o nome. Porue não havia nome para dizer, nem corpo, para ser.
Acordei sufocada sem enterrar nem ver ninguém nascer. Hoje, Ethel, porue não sou nada. Vejo-te e a outros e às flores amarelas e eu não estou lá. Não tenho pena nenhuma de não caber nem sobrar de nenhum lugar no mundo.
Hoje acordei como ontem, sem nome, nem espaço, nem tempo, nem lugar. Hoje acordei nua, sem Outono e sem Verão. Podia estar em qualquer lugar, podia não ser, mas sempre ouviria a canção que agora me cantas, Ethel. Uma canção que fala de nenhuma terra, que tem cor de montanha branca e de neve macia; que tem flores amarelas e florestas, talvez um bosque com clareira, mais além. Hoje acordei e esqueci-me de quem era. E a minha não identidade, fez-se encontro com outras Marias tocadas pelo Amor. Agradou-me a ideia de ser essa Maria.
Agradeço poder ser essa que acorda, anónima, silva e roseiral. Maria de coisa nenhuma.

Por isso, te beijo e sorrio, Ethel Feldman, que talvez sejas Maria. Não sei, irmã, não sei. Eu hoje quero ser essa que me ofereces: negra, branca, incolor, pátria da alma. Essa que cobres de Amor.

Obrigada.

Maria Sarmento/Saudades/Rosa dO Mundo/Ninguém!

Hoje sou Ninguém com outros ninguéns me cruzo. Somos de muita Luz e de nenhum uso!...

ethel disse...

Em silêncio te escuto, sem voz te segredo: obrigada, Maria.
Ethel Maria Feldman da Silva

Anónimo disse...

Ter um nome!
A dor de ter um nome!...

Já tinha dito que hoje é cristal?
Hoje é lágrima?
Hoje é intervalo
Mas um intervalo que dói.

Beijo-te, irmã.