quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Deus, em Antero de Quental (1842-1890)

Há um Deus misterioso que só parcelarmente se revela a quem o quer estudar:
Sócrates - Dentro do homem está um Deus desconhecido
Cristo - Dentro do homem está o Reino dos Céus
Lutero - Dentro do homem está Deus. O Homem é um Deus que se ignora.
Robespierre - Revelação de Deus através de valores humanistas.
Hegel - Revelação de Deus através da ideia.
Moisés, Maomé, Cristo - Profetas que revelam Deus, mas todos revelam apenas um aspecto parcelar do Absoluto

O homem, ele próprio, está mais perto do divino do que as formas através das quais O representa. Em vez de procurar Deus nos céus, o homem deve procurá-lo no seu interior.

A Existência humana é privilegiada porque é nela que mais se manifesta a essência divina.
A Saudade é uma aspiração a uma relação mais plena com o deus desconhecido que cada um trás em si.

No fundo da consciência está aquilo que procuramos fora. Dormitando, em movimento mudo, mas murmurando sempre. Jeová, Brama, Sabaoth, Alá, Cristo. O homem não deseja mais do que aquilo que já há em si.

A santificação é a plena realização do indivíduo. É um Deus que se revela permanentemente, como se fosse um progresso constante, sem que nunca mais esse progresso acabe. O homem como o descobridor dos mundos encobertos do espírito.

As revoluções, os cultos, os mitos, tudo são apenas manifestações do princípio interior essencial. Civilizações e Impérios se fazem para sermos Homem um pouco mais.

in, Antero de Quental, Filosofia, Univ. dos Açores: Editorial Comunicação.
cf. Paulo Borges, Filosofia em Portugal I, apontamentos.

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