quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Mística, despertar e sono em Karl Jaspers



“Designamos esta situação fundamental da nossa existência pensante por cisão em sujeito e objecto. Estamos nesta situação sempre que a nossa consciência é vígil. […]

Qual será o significado deste mistério, a todo o instante presente, da cisão em sujeito e objecto? Parece evidente que o ser na sua totalidade não pode ser objecto nem sujeito; terá de ser o “englobante”, que nesta cisão se manifesta.
O ser em absoluto não pode evidentemente ser objecto. Tudo o que para mim é objecto surge-me do englobante e eu próprio, enquanto sujeito, também dele provenho. O objecto é um ser determinado para o eu. O englobante é obscuro para a minha consciência”.

“Pela nossa operação filosófica fundamental desatámos os laços que nos prendem aos objectos como ser presumível e assim entendemos o sentido da mística. Há milénios que os filósofos da China, da Índia e do Ocidente afirmaram algo de idêntico em toda a parte em todas as épocas embora em multiformes modos de comunicação: o homem pode transpor a cisão entre sujeito e objecto alcançando a total união em que desaparecem todos os objectos e se apaga o eu. Nesse transe se abre o ser autêntico e ao despertar para a consciência deixa um rastro do mais profundo e inesgotável significado. Para aquele, porém, que teve a experiência dessa união ela é o autêntico despertar e o acordar para a consciência da cisão sujeito-objecto é, pelo contrário, o sono”

– Karl Jaspers, Iniciação Filosófica, tradução de Manuela Pinto dos Santos, Lisboa, Guimarães Editores, 1998, 9ª edição, pp.34-35 e 38.

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