sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Pessoa?

Resistindo, dir-se-ia, persistindo modernamente, sempre sem descarrilar, no trilho enigmático do conhece-te-a-ti-mesmo apolíneo, parece ter sido o veredicto de Rimbaud o que não obstante também tomou por preceito.
Foi assim, materializando tudo quanto lhe atravessava o espírito em torno de heterónimas ou ortónimas mas sempre distintas autorias, que à letra levou a consciência fragmentária sua contemporânea: formando, afinal, diversas unidades estilísticas e, com elas, unidades correspondentemente diversas da própria experiência do seu ser Pessoal.

9 comentários:

Luiz Pires dos Reys disse...

Este pequeno texto é muito mais perspicaz do que parece, ao primeiro olhar.

Cito Rimbaud:
"Para vós a minha sabedoria é tão desprezível como o caos. Que é o meu nada, comparado ao horror que vos espera?" ("Iluminações", Vidas I)

E cito Pessoa:
"A verdade para ser humana tem de ser erro" ("O Vencedor do Tempo")

Não há em nós (senão na base de um puro e simples auto-ilusionismo que se julga lúcido) qualquer coisa a que se possa chamar "ser pessoal".

Ser e pessoa são dois erros numa qualquer tabuada. A pessoa é precisamente o palco - pungente, embora - de tal impossibilidade.

O que há é a obstinada resistência a não sermos o que isso que somos não é.

Anónimo disse...

Sim, digamos, ainda que o ser ou o não-ser seja ou não seja mesmo tudo quanto de não pessoa e sim indeterminado somos.
Simplesmente, meteoritos, é logo num primeiro olhar que se pode ver isso. Nem mesmo as más pessoas são assim tão estúpidas. E segundos olhares desvirtuados e irrealistas são, bastas vezes, os que desdenhosamente se envaidecem e se fecham nessa certeza. Não há nada pior, como certo alguém dizia, do que defender as causas certas pelas razões erradas.
El Dani

Anónimo disse...

«Conhece-te a ti mesmo»...

Anónimo disse...

"Je est un autre", dijo Rimbaud. O sea que tampoco es propio limitarse a la venganza de la propia miseria.

Luiz Pires dos Reys disse...

F. is back!
(Estou tão emocionado!!)

Louvado seja (sei lá!) o deus cornífero, enquanto a grande deusa não põe isto na (des)ordem.

Atenta a aventaleira para o pitéu rançoso da ignomínia demo-craticida, enquanto a assembleia dos sornas de São Bento (ou aqui de Santo Entre) for hemiciclo, e não círculo, deve ser difícil a coisa ir. Isto é, desandar(em). Perdão, armilarem.


P.S.
A "anónima" criatura deve estar a perguntar-se o que é que isto terá a ver com alguma coisa...
Nada.
Ainda bem!

(Vai uma citaçãozinha, para aquecer os calos da mioleira?!)

Luiz Pires dos Reys disse...

Vai "às mijinhas" também, como os Anónimos vêm:

Não defendo causas, nem mesmo as consequências.
Sou causa: conforme se vê. Ainda que isso seja mera consequência.

Adios!

P.S
Nunca tinha pensado - que vício: pen(s)ar! - que não más pessoas pudessem ser assim não tão estúpidas, ou tão não estúpidas.

Em geral, parecem o que são. Isto é, acabam por ser. Que é o mesmo: só que, como é a andarem no mesmo sítio, nota-se menos.

(Vou reler o grande Góngora, para dar assim uns remates giros também, na língua de... Saramago)

Luiz Pires dos Reys disse...

A terceira, que faltava para fazer "pendant" com F. de IR:

MeTheOros, para MeTheOros: "Conhece-te a ti mesmo!".

MeTheoros, para MeTheOros: "Quem?!"

Leôncio Orégão disse...

!Olé!

Leôncio Orégão disse...

Ora, pois, bem, sim..: ora, mas quem?!
Mesmo quando nem um só Zé é ninguém..:
Só tu sabes o que queres ser, porém.
E os meteoritos querem-se rochas singelas e verdadeiras como o ouro que penetrando a terra ainda não brilha e já não se engana.