terça-feira, 27 de outubro de 2009

Poesia do Olhar

Na densa névoa
Que está a ser gritado
Entre colina e barco?

Haiku (Yugen)

Os nossos olhos só vêem
o enfolar das ondas
e não a força que as eleva.

Raça infeliz
de memória perdida
no imenso cone do tempo.

(Maria Sarmento, Memória das Naus, Arion, 1999)

4 comentários:

  1. Não referi a fonte da imagem. Ela é da "autoria" da minha primeira - e creio que última - máquina fotográfica!
    Desconfio...

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  2. Maria, continue!

    A fotografia está muito bonita; encerra no instantâneo todo o movimento que a compõe. Nada nela é imóvel.

    O que o poema afirma , mais que concordo, e pergunto-me, que força plural será ou terá sido essa? Esse conjunto de forças invisíveis que sucumbem e se mutam ao espraiar de uma onda... carcaças das faluas soedadas nos lodos do progresso...

    Bom,

    Um abraço, gostei muito!

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  3. Observando com mais atenção... nada está parado, e muito menos o olhar.

    O olhar fita para além do movimento estático. A cor.

    Bom, Rui, pelo meu olhar o Rui espreitou. Isso eu vi, no instante.

    Sim. Uma poderosa força nos eleva em grito. Quem sabe esse grito para dentro é uma força invisível que acontece na existência, no tempo.
    Tempo é existência.

    Um abraço e um estreitar de mão.

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  4. "Voltas (em falsos haikai) a Yugen e Sarmento"


    grito
    entre barco e névoa:
    densa a colina


    gaivota que estaca
    âncora mútua
    espelho líquido: um voo


    Bom dia, Maria: navegando-se memória e murmúrios.

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