quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Aviso (poema de Sylvia Beirute)

















AVISO

se tiver sintomas de poema, aguente,
não resgate o orgulho, guarde, quando falar
com os outros, uma distância
de, pelo menos, um metro,
fique em casa, não vá trabalhar, esqueça
rotinas graves, monólogos de rupturas,
a periferia de uma lição integral de intimidade,
não consulte o oráculo, des-
frequente-se a si mesmo, não vá à escola, evite
locais muito populosos e com densidades intrínsecas,
evite cumprimentar com abraços,
beijos, apertos de mão.
se tiver sintomas de poema, apenas informe
o silêncio, que ele saberá o que fazer:
esperará que o poema levante a cabeça
e o decapitará. sem uma palavra.

inédito

5 comentários:

  1. Agradeço também o aviso. Estou muito doente. Não se aproximem!...

    Gostei de ler. Grata.

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  2. É delicioso. Sobretudo para mim que estou com gripe e preciso de uma ameaça de poema. Obrigada pela partilha e pela imagem...também ela um belo aviso a almas contemplativas...

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  3. Não sei por quê fez-me lembrar, de quem gosto muito, Daniel Filipe - de
    Exílio Voluntário.
    Só me fez lembrar
    como azul - um dia de céu limpo de Verão

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  4. acabarei um dia - a mim tanto me faz -
    como cachorro atropelado em plena via

    ou
    a meio do banho em manhã fria

    a botija de gás

    (acossado da SERPENTE. Em busca de refúgio)

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